na heteronomia dos mestrais




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arrolo-me de vento para de Fedra Ártemis ou Desdémona ousar dos ardis a virilidade nostálgica escrevendo distâncias
.nelas acrescento respirações átonas em fuga no absoluto onírico que mistifica o falo
.difícil tarefa a de bafejar des.encontros em signos onde estreito laços que se sobrepõem em estrofes vaticinadas pela parcimónia dos deuses
.assentada em não acendo as.simetrias decalcadas no sobressalto passivo de quem me tem aquém numa escrita estranha à razão
.testemunho rendido aos mestrais que ante.cederam os actuais cantos
.pouso em afasia
.livre substancial e dupla






angel cestac





justificando o in.justificável .ou a vontade de dizer não





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destituída de total bom senso a lagartixa grita
– o meu lugar não é aqui –
entre baforadas de fumo fuligem e restos de mal disfarçada elevação
.surtem  por entre as silvas ácidos a disfarçar o in.conformismo das tardes e o vento norte de golpagem em golpagem povoa de mistérios os rasgos acordados pela quentura
.mas este espaço não é de fábulas mas de aves que levantam voo à mais pequena tensão
.a cada momento as corujas dos campanários da velha sé e os melros dos quintais chilriam entre atonismos
.tudo e todos servem o futuro in.fértil de sonhos calcinados por uma mão cheia de bastardos que de gestos e mensagens gangrenam memórias
.é de memórias que se veste o tempo da lagartixa sem justificação aparente para deste texto fazer parte
.fascínio de poeta dirão uns
.loucura de contumazes dirão outros
.de nós e da lagartixa o aparente in.justificável
.talvez o mórbido fascínio pela adulteração das espécies
.ou a recusa ao servilismo dos modos






angel cestac





sentada na alpendrada das dúvidas





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serão bonecos de barro os que deixarei na bancada dos afectos maiores
.os menores ficarão inscritos em mais um livro cujas badanas o tempo preencherá de aventais e de mulheres com cântaros à cabeça
.o silêncio cobrirá as páginas perante o espanto da transmutação porque o livro trará em si o cheiro das colas e dos a-braços seculares
.este livro é diferente
.é o meu corpo
.nele guardo os desejos e dele não quero sair mesmo quando os membros outrora parágrafos se alteram como o caudal de água após a cheia
.será sempre uma ponte descrevente entre o contra-dito e o escrito
.um paradoxo avaro e difícil qual legente com as mãos cheias de tinta onde o pensar se imprime ao negro
.um soçobrar diferente ou uma mão a escorregar rio acima






angel cestac





.2


























- trago na algibeira
um corpo coberto de escamas





.1





Chamarás poema a uma encantação silenciosa,
à ferida áfona que de ti desejo aprender de cor

_Jacques Derrida ,in “Che cós’é la poesia?”

rego as horas a fim de coifar o dia
.ensaio vício ou desfaçatez vadios?

_Gabriela Rocha Martins

























de impasse em impasse





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pauto a irreverência pelo gosto 
de te saber a lágrima que ousei 
à sombra do escárnio 
.de im.perfeita e sem lugar marcado 
passas do silêncio que se tem mácula 
para um rascunho de personagem 
.senhora de pergaminhos alheios 
ousas impô-los como teus 
numa im.prudência assumida 
.em epitáfio escreverei o teu nome 
no muro virado a norte 
da casa maior e 
morta e des.codificada 
guardarei a tua presença no 
meio dos cardos e das ervas 
que se erguem livres no quintal 
para envolver-te viúva 
.lá fora os répteis e os vermes 
aguardam-te 
a fim de cobrir-te de novos impasses e 
tu aprontas-te a morrer 
sem que as horas tardem a conceber-te 
a-fora o tempo em que te des.laço 
numa alegoria que assumo 
como morada ou mortalha
de investidas menores 






kamen kissimov





a Lara ( 24 de Fevereiro de 2016 )




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há uma pequeníssima gota de água que 
à revelia da casa resvala pelo muro da insónia 
.é tão bela e tão distinta essa gotinha que 
o a manhe’Ser a transforma em dia 
em hora de abrir a cancela ao futuro 
.uma outra paliçada e um gosto sorvente
a framboesas-meninas enchem por inteiro
o Inverno 
.a casa converte-se num corpo sedento de emoções e 
a pouco e pouco deixa-se engravidar pelo futuro 
.a pequeníssima gota de água vagueia pelo quintal 
em demanda de um novo ritmo e cada árvore e
cada arbusto estendem os ramos a fim de abraçar

a lua cheia que em Fevereiro adormece 
.tudo se converte em passagem 
.em febre de risos sorvendo liras
.aprontam-se os cantos in.seguros e os meninos 
apressam-se a nascer quando o frio é brasa e 
o fosso sob a paliçada se reveste de filigrana







kamen kissimov





ritmos dissonantes






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acordo a fim de diagnosticar-te 
o síndrome da demência 
.antes deixo-me levar pelo ritmo dos sons 
ao encontro da música que se dissimula 
entre duas notas e 
desfragmento as águas 
que se alevantam depois da tua partida 
.reportam dejectos e cheiros nauseabundos 
.não me questiono neste aqui e agora 
sobre  o arrepio das formas 
.antes preciso matar-te porque a tua morte 
ao depurar as palavras 
reportar-me-á ao encontro da assembleia de 
pássaros que adormece 
nos galhos das árvores de fruto do meu silêncio 
.não é de adeuses que te cubro 
.de lugares re.vestidos de poeiras 
.de ritmos dissonantes porque na velha casa 
onde os melros acetinam as horas não há lugar 
para a degeneração 
.amanhã cortarei o amor em marés de rio e 
cobrirei os teus restos com pés de framboesas 
antes de te apoucar à beira do in.existente






kamen kissimov





.2































1 – manifestos erráticos
em derredor de uma casa senhorial





.1





I wanted each and every one of them,
 but choosing one meant losing all the rest,
and, as I sat there, unable to decide,
the figs began to wrinkle and go black,
and, one by one, they plopped to the ground
at my feet.

_Sylvia Plath

soltam-se as águas numa exaltação de.mente

_Gabriela Rocha Martins






















o encontro de dois poetas amigos









Victor Oliveira Mateus e Gabriela Rocha Martins ,na tarde de sábado ,dia 14 de Janeiro de 2017 ,
na apresentação do livro da segunda "a crispação de um toque a-fora o Ser" ,ou ,o re.conhecimento da cumplicidade na palavra e no sentir poético




João Carlos Esteves - in facebook






Tive o privilégio de conhecer ontem a autora e fiquei cativado pela pessoa e pela sua escrita. Uma poesia que é um desafio para o leitor e que encerra quantidades imensas de deslumbramento que me suscitam uma avidez incontrolável de ler mais e mais para além do significado plural de cada palavra, verso e estrofe. Um livro que recomendo vivamente mesmo antes de ter concluído a sua leitura.





José Luís Outono - no facebook






NOVO LIVRO DE Gabriela Rocha Martins


Já passaram uns bons anos, desde o nosso conhecimento pessoal.
Foi em Silves, na apresentação do livro «A desilusão de judas» de Antonio Ganhão. Lembro-me de a ter cumprimentado muito classicamente e ter como resposta - Deixa-te de coisas, eu sou a Gabriela, tu és o Zé Luís ... tratamento informal ... OK?

Se a admiração, que já tinha como autora era enorme, naquele momento tudo se transformou. E a amizade cúmplice (como ela testemunha) em conjunto com uma estima e admiração enormes fomentaram um diálogo sempre franco, fraterno e inesquecível.

Estava ansioso, para ter nas mãos, e ler a sua última obra. «a crispação de um toque a-fora o ser ( i ensaio derivante )». Ontem, na Biblioteca Municipal dos Olivais, com sala cheia ( e mais cadeiras existissem ) o inédito da poesia da amiga Gabriela tocou-me. A edição pertence à Lua De Marfim Editora, e a apresentação e prefácio foram de uma outra autora, que igualmente muito admiro - Maria Cantinho. A surpresa da tarde, assume-se quando a Maria João Cantinho revela ter sido aluna da Gabriela. A apresentação deu a conhecer, mais um traço de uma escrita NADA fácil (como a autora afirma ) e desafiadora, como Gabriela Rocha Martins esclareceu - Eu construo as minhas palavras, para o leitor as desconstruir. Permitam-me trazer um pouco do prefácio de Maria João Cantinho:
- " Se uma paixão pudesse dizer-se de Gabriela Rocha Martins, essa seria a da memória. Não só como exercício poético, mas como modo de guardar o canto possível, que atravessa a sua poética, em particular esta obra.
.../...
Nada disto parece ser alheio à poética da autora, que asume referências explícitas e que se enovela com a escrita de Gabriela Llansol. Dela é herdeira, sobretudo no modo como trabalha e opera sobre a linguagem, sem, no entanto, se colar ao seu texto llansoliano."
Não resisto, igualmente a trazer a este recanto um pouco da recensão literária da autoria de Antonio Ganhão (in Acrítico- leituras dispersas) sobre esta obra de Gabriela Rocha Martins.
-" A folha de papel que o acolhe é uma face marcada pela vida. Aí se refugia o poema, numa geometria singular, tão intencional como um cânone, cedendo a uma métrica muito pessoal. Uma ordem imposta sobre um desassossego interior, uma metáfora do próprio processo de escrita, itinerário que desmente o excesso de clausura. A pontuação em dessintonia com o processo formal da escrita, tão presente em Gabriela Rocha Martins. Os pontos finais interrompendo o curso do poema, forçando a mente do leitor a uma pausa de respiração, quase violenta, numa forma de gerar novos significados."
Ouso confessar este episódio. Terminei a leitura do livro cerca das duas da manhã. Ao acordar, já reli algumas páginas que me marcaram, e atrevo-me a dizer...não desistas amiga. Preciso (precisamos) das tuas palavras.
Deixo expresso o convite de leitura!
JLO








Algumas recensões ao livro - António Ganhão in Acrítico









Destece o poema, o canto feito de metáforas a exigir um ouvido treinado; assim é a poesia de Gabriela Rocha Martins. Um entorno poético dotado de uma estética que nos provoca, uma quase ordem de tabuleiro em que os poemas se encontram arrumados, numa forma particular de se dar a ler.
A folha de papel que o acolhe é uma face marcada pela vida. Aí se refugia o poema, numa geometria singular, tão intencional como um cânone, cedendo a uma métrica muito pessoal. Uma ordem imposta sobre um desassossego interior, uma metáfora do próprio processo de escrita, itinerário que desmente o excesso de clausura. A pontuação em dessintonia com o processo formal da escrita, tão presente em Gabriela Rocha Martins. Os pontos finais interrompendo o curso do poema, forçando a mente do leitor a uma pausa de respiração, quase violenta, numa forma de gerar novos significados. …crispação desta outra forma de cindir os versos, como realça Maria João Cantinho no prefácio. E os pontos finais invertidos: .apago-te / .incomodas-me reforçando a imagem de uma ideia que se propaga na mente do leitor como um eco que não se extingue. E os traços unindo as palavras numa escrita-que-dança-sobre-o-papel. Este é o timbre da voz poética de Gabriela Rocha Martins, denúncia do processo de enamoramento como forma de revisitação, um duplicar em nós do outro, uma amálgama de referências em viagem ao interior do templo da nossa voz. Será a homenagem do outro possível?
uma escrita bastarda é isso que sou/ sem rótulos dogmas estilos ou certezas, desmente-se a poeta ou provoca-nos?
gabiNo poema abro a página de uma breve despedida, e no verso: o ventre e a mão que sobre o mesmo dança, encontramos a elegância e o sentido a sobrepor-se à forma. Termina o poema com: e o tempo não passa de um outro corpo / aquecido na lama onde os pássaros se / demoram a enviuvar equívocos, onde a sonoridade ganha força e a forma se sobrepõe ao sentido, em absurda polifonia de que nos fala a poeta.
Em Gabriela Rocha Martins encontraremos sempre um lado de insatisfação, de rejeição ao poema simples, de vagamunda, de crispação e de i ensaio derivante. Porque nesta poesia-forte somos convidados ao desassossego.
            lá fora o discernimento esquece

António Ganhão ,in https://acriticoblog.wordpress.com -  Acrítico





Apresentação na Biblioteca Municipal dos Olivais - Lisboa





























numa tarde de sol ,a Biblioteca Municipal dos Olivais ( a quem agradecemos ) encheu-se de Amigos e Familiares .foi bonito .foram sentidas as palavras que rolaram .a Cristina Norton foi felicíssima na apresentação de "Poesia Nova" ,de Amparo Monteiro ,e ,a Maria João Cantinho brilhante e querida na apresentação de "a crispação de um toque a-fora o Ser" ,de Gabriela Rocha Martins .antes ,Paulo Afonso Ramos ,o editor da Lua de Marfim ,deu as boas vindas a todos os presentes .leram-se alguns poemas ,falou-se de subversão ,de construção de desconstrução ,lembrámos poetas nacionais e estrangeiros e a Poesia falou por si e por quem por ela e com ela andou vagueando por lugares e espaços .o tempo passou sem que tivéssemos dado por isso e ,no final ,um beberete foi oferecido para que o convívio também fosse outro .foi bonito .muito bonito ,repito ,e ,a vontade de dizer OBRIGADA colou-se aos meus lábios .no coração o amor a todos os SER/POESIA





Texto Matriz da Maria João Cantinho






Texto matriz - agora-a-memória .agora o sopro
 da face impressa sob a derme .depois
 o canto-do-cisne em resguardo-amansado
 pelo medo .depois um rasgo de vulgaridade

Se uma paixão pudesse dizer-se de Gabriela Rocha Martins, essa seria a da memória. Não só como exercício poético, mas como modo de guardar o canto possível, que atravessa a sua poética, em particular esta obra. O tempo que se guarda nas imagens, essa “crispação de um toque a-fora o Ser”, que dá título ao livro, é um mote ou antes uma matriz que se inscreve na escrita da autora. Desenha-se nesta cartografia um compromisso que, mais do que radical, exige a fixação de um lastro poético, de uma configuração de pontos cardiais que traçam o caminho do sujeito poético. Por isso, ela nos diz, nesse compromisso de imortalidade, que marca o arranque do livro, assim: a metáfora estigma-se no lastro/ dos Poetas/tão de manso”. A clareza do propósito enuncia-se na primeira estrofe do poema, aludindo a um legado poético que tresluz na metáfora, mas que é simultaneamente estigma ou cicatriz, e em que o poético emergisse como sinal de santidade, na esteira da poesia mística de D. Juan de la Cruz. A ideia de que o poético é também uma ferida essencial, intacta, como disse dela António Ramos Rosa. A que não se fecha, revelando a impureza do corpo, mas também a da própria linguagem, reflectindo essa contaminação essencial do sujeito que se implica ele próprio enquanto matéria poética.
Nada disto parece ser alheio à poética da autora, que assume referências explícitas e que se enovela com a escrita de Maria Gabriela Llansol. Dela é herdeira, sobretudo no modo como trabalha e opera sobre a linguagem, sem, no entanto, se colar ao texto llansoliano. É, antes de tudo, uma inspiração sobre o seu próprio texto, como lastro que confere ao poema essa espessura intertextual. Por isso, Gabriela Martins refere esse “engodo gradual”, essa urdidura que o silêncio tece na matéria, em jeito manso, mas que subverte e suspende as palavras, que as empurra contra o banal e desfaz os elos da sua familiaridade. Comecemos justamente por aí: a sintaxe, que “desarruma” a sucessão e a linearidade habitual de uma frase, levando-nos ao consolo da identificação. Versos cortados, deslocamentos sintáticos, arrojos de quem não se contenta com o verso simples e claro. A clareza, ela sim, há-de vir de um outro qualquer lugar, como uma irradiação ou uma luz imanente que nasce da metáfora. A imagem transforma-se no retábulo do tempo e da memória, em modo coagulado de Ser, como “crispação”. Esta, como sabia Llansol, jorra disso que é a “imagem-fulgor”, conceito que labora de forma latente nesta poética. Quer-se a crispação dos sentidos para que o poema seja mais, muito para além disso, que o mero exercício e jogo de palavras inócuo. A crispação nasce do avesso, já lá iremos, do adverso que suspende o óbvio e o cliché, que suspende os sentidos habituais do poema. Nasce a crispação desta outra forma de cindir o verso, de o cortar, pela pontuação inusitada, os pontos antes das palavras (ou as vírgulas), obrigando o olhar à suspensão. Porque o olhar acaba por tropeçar no ponto que antecede a palavra sem explicação, obrigando a um gesto de respiração outra, um novo modo de olhar para o alinhamento do verso e do seu sentido.
Como no poema da página 7, “Encontros com sabor a terra”, “(…) leve/. Sussurro brando arquejante brado/em adiada espera” configuram um novo ritmo a um poema que teria uma cadência fluída, não fosse a desinstalação provocada pelo ponto, obrigando a uma paragem forçada, a um silêncio e a uma suspensão da respiração, antes desse “sussurro brando”. Erótica alusão, na minha leitura, nesse poema que alude à presença da mulher e da sua nudez, na noite, ele impõe a paragem, provocando o efeito de crispação. Poema onde também se fala da mutilação de corpos, remetendo-nos para uma outra crispação, já não amorosa, mas a do seu inverso, a do ódio.
Se a ideia de crispação atravessa a obra de Gabriela Rocha Martins, ela ganha uma outra dimensão, não apenas a da imagem que coagula o instante, mas a da própria linguagem, subvertendo o poema através de deslocamentos sintáticos, que sacodem os sentidos habituais e os clichés, recusando o sentimentalismo de muita poesia contemporânea, operando por corte e suspensão, utilizando como recurso a pontuação como técnica de corte e da própria crispação da linguagem. Sob o signo da escrita de Maria Gabriela Llansol, sabe que a crispação da linguagem no poema se arroga o gesto de suspeita a tudo o que é familiar naquela, que não provoca o arrepio dos sentidos, face ao excesso que constitui a própria linguagem e que não é dizível senão no silêncio de uma outra que há-de vir. O poema é o espaço do porvir, dessa imanência que se reclama no jogo da inocência do ser. Donde as alusões à demência de Hölderlin, no poema da página 16, como essa experiência-limite de revelação da linguagem. Porque, mais do que indigência, a poesia transporta a possibilidade da revelação do ser, esse que nos aguarda na clareira do silêncio. Dessa crispação que advém de um toque e de uma contaminação do Ser-Revelação, nessa estranheza essencial e espantosa que percorre o mundo em canto celebratório. Como um magma irresistível e que acontece no poema.

Maria João Cantinho





Convite












minhas/meus queridas/os,


,porque gosto de estar entre os meus Familiares e Amigos sem imposições
,porque gosto da anarquia da palavra
,porque me quero nas metáforas e entre os meus irmãos

,convido-as/os para a apresentação do meu novo livro “a crispação de um toque a-fora o Ser”, uma láurea a Maria Gabriela Llansol, edição Lua de Marfim ,com apresentação de Maria João Cantinho ,no próximo dia 14 de Janeiro de 2017 ,sábado ,pelas 15h30 ,na Biblioteca Municipal dos Olivais ( Palácio do Contador-Mor ,R. Cidade de Lobito ,1800-088 Lisboa )
.estarmos juntas/os e trocarmos ideias vai valer a pena
.até lá
,com um beijo

Maria Gabriela





o disfarce de deus






se os répteis vierem
não os deixes comer o que resta
do teu nome .um cheiro a morte
pousa sobre o teu lugar vazio e
as lágrimas de um menino que
desconhece a diferença obrigam-
-me a guardar-te na algibeira onde
se oculta a revolta

invento um segundo deus impresso
nas Nuvens testemunhas vívidas
de que o primeiro morreu
.despertas as emoções evito exprimir
em palavras o que a razão desconhece
e com base na memória absorvo o
que me resta do início dos tempos
.deus não passa de um disfarce






michael bilotta





desajustada mente






ah como a insolvência dos dias nos deixa
um outro tempo para castigar o tempo
.tudo cai
.caem os braços
.caem as pálpebras
.caem os dedos
.caem as fotografias de uma mesma
infância
como se a velocidade com que os olhos
se colam às folhas dos velhos álbuns fosse
superior à deslocação das gotas de água
de um rio que em contínuos flashes se
despenha num tempo de bater de asa
enquanto os nossos corpos evidenciam
a rendição dos sentidos






michael bilotta





em viagem como dois pássaros






fomos no requebro da onda a espuma que
nos salpicou os cabelos e sentados no
resguardo de nós fomos o vento a empolar
as velas quedadas em baixa-mar
.veleiros de águas rasas ou
timoneiros do amanhã
os nossos corpos rarearam-se num liquefaz
ardente como se o volteio nos quedasse
no jogo onde tudo nos fosse permitido
porque os acordes vindos de longe
sobre.voaram a nossa imaginação
.gravados no vento
re.vestimo-nos de ondas para que as nossas
sombras misturadas ao cordame traduzissem
velhos bergantins em busca de assembleias
de pássaros assumidas no desejo






michael bilotta





escrever o tempo






algures uma letra arde entre o simulacro
da emoção e o som que a voz abafa
.encosta-se a outra tentando criar uma
palavra e esta uma frase enquanto lá
fora a noite oscila entre a terra a cidade e
o in.verosímil que a mente de um poeta
idealiza .passaram anos entre o estado de
sanidade da sua escrita e o derrame que
as palavras foram deixando ao longo das
histórias e o poeta vagamundo soube-se
proscrito e preso aos seus medos .creio
que des.conhece o seu nome soterrado
na neve .creio que as árvores e os
pássaros se fixam na efemeridade das
fotografias com que embeleza os poemas
imaginando que as letras se hão-de
re.voltar vestidas de vermelho-sangue
.derramar-se-ão na penumbra das tardes
e materializar-se-ão na aceitação de uma
linguagem radiante e bela que o senhor
da forma prescreveu .entre o poeta
vagamundo as letras e as horas
estabelecer-se-á uma outra forma de
escrever o tempo






michael bilotta





prisioneira de ficções






chego descalça ao fim do areal e
trago comigo a lonjura do oceano
.descrevo com as mãos planuras e
imagino um universo feito de equações
que se apagam com o chegar das ondas
.escorrem pelas minhas faces saudades
de beijos con.sentidos e o silêncio das
marés contrapõe-se ao ruído da vaza-
-mar .estendo os olhos e deixo-os
planar sobre um horizonte de pássaros
que em bando se aproxima e eu encostada
ao sonho de não acordar deixo-o preso à
adivinhação do adeus .amanhã os meus
passos correrão sobre a areia e os meus
dedos voltarão a desenhar novas esferas
.os meus braços tecerão novas teias mas o
silêncio do teu estar deixará de fazer
parte do universo onde as frases se
aninham .não haverá desculpa para o
sono neste acordar agnóstico onde o
absurdo e o fascínio pelo Uno mergulham
em memórias .será um tempo de voltar
de página e eu calçada de sentinelas
deixarei preso ao areal um manto de
quimeras .sei que res.guardada no
interior de um corpo me aventurarei
em outros espaços e deixar-me-ei
envolver por novas personagens






michael bilotta





escrevo-te e apago-te de imediato






se quisesse d.escrever o que sinto por ti
inseria-te numa elipse e deixaria que o
princípio se confundisse com o fim
.não sei se te tenho num simples adeus
mas sei que acordo pensando em ti
.vejo-te em cada esquina e quero-te não
querendo na sombra de alguém que se
projecta na minha frente .dói-me se
encontro o teu nome num verso que não
é meu para te esquecer num virar de
página num encontro de voz ou num
abraço perdido no encontro da Língua
.in.definida esta forma de a-mar onde
um braço de rio se prolonga em ramo
de árvore e onde a alma do poeta se
esconde numa promessa emprestada
frente à janela do meu quarto onde
todas as noites me res.guardo num
pensar em ti para te apagar ao
a manhe’Ser já que a tua presença-
-ausente se inscreve nos silêncios de
um corpo consumido pelo fogo de
uma história inventada






michael bilotta





a minha história






as palavras escondem-se atrás da linha do horizonte
para que alguém as descortine através da areia da escrita
e com elas sedimente um universo de histórias que
se rasga e agita cozinhado em fogo ínvio
.é assim que as quero
diferentes e soltas porque o universo das palavras
é a minha história
.a minha história não tem história
.é um mar de palavras que o vidro arrefece
.um turbilhão
.ondas amargas que se agigantam com medo de invasão
.é um nome em desassossego que se dissolve na areia
.a minha história é uma figura álacre que se esvai pelo
leito de um rio
.é um rio uma noite um corre-corre por páginas
ora apaixonado ora louco e que adormece
no grito que a minha garganta não ousa






george christakis





caminhante de caminhos






esqueci-me de te esquecer quando
letra a letra fui criando sobre o papel
um novo tempo para o tempo
.deixei mágoas frustrações silêncios e palavras
.deixei tudo com a embriaguez de um haver de
novo
.entreguei a casa aos fantasmas
.comigo levei um velho casaco e os cabelos a
baterem-me no rosto .segui pela rua onde no
cruzamento havia enterrado a pedra dos
des.enganos .olhei em volta e antes que alguém
me visse levantei-a do chão
.era a minha pedra memorial
.reconheci-a pelos cabelos brancos .entre nós
havia-se estabelecido uma cumplicidade
evidente .revi-a como se fosse a primeira vez
e reparei que não fora por uma simples coincidência
que a retivera ali .a metamorfose da terra e o
pisar humano haviam-na re.vestido de uma nitidez
e as gotas de água tinham-na vestido
com os ruídos que sempre a perturbaram
.segurei-a entre os dois dedos da mão esquerda
deixando a direita para os répteis e voltei a
pousá-la re.feita da sensação de perda com a
ternura dúctil da infância






george christakis