.35






a fim de recorrências várias
resguardo
a sensação onírica de represar
o aviso das Musas

*
*
*
o que dirá o vento?

*
*
exigível um momento de tréguas

*
afecto

aos indícios sobejantes do negro
das memórias





laura makabresku






.34






desmembro a besta e acoito a genética
sensação de um recurso malsim

*
*
*
dissecado em verborreias proféticas

*
*
mordaz e
absoluta a dissonância entre mim e
o divino

dionísico e louco
bailado de tolos





laura makabresku






.33






adiam-se os corpos
aparam-se as carnes

velejantes estruturados
em exigências recorrentes

*
*
*
desligadas as aparências

*
*
mourejam os loucos
acoitados no prenúncio da noite

*
interim os audazes
arquejam mordaças
aos vendedores de sonhos

colados aos pastos

apifóbicos e próximos





laura makabresku






.32






re.vivências a mais ou a menos
circunscritas na ovulação da escrita

*
*
*
in.submissa e in.desejável

*
*
resolúvel no meio dos
indícios curvos de ademãs

*
assim as trovas gebosas sobre
a mesa do poeta cavador

de estilos comestíveis





laura makabresku






.31






síndrome do inexistente
sob uma braçada de anástrofes
esgrimiste

*
*
*
augúrios de um tempo ido

*
*
talvez segredos cuja anátase
transbordaste
num silêncio cúmplice e saudoso
.
*
transgressão de uma escrita
cultivada como

medula





laura makabresku






VIII






.
da cupidez do verbo esculpido em rajada
o vento suão alonga

o regresso

cavado o desvelo
.
e as nuvens e o sol
cavalos ardentes

com aspas se inscrevem num porvir
mordente





isabel nunes






VII






.
cilícios amorados num verde a-mar

gazelas
amouradasem requebros singulares
.
desamparos simbólicos
num resguardo de Tempo

transitório

quanto elas





isabel nunes






VI






deslizar abrupto sobre pinceladas mistas
um quanto chega

depunhos
não de rendas mas de fogo
.
línguas sedentas
.
dessedentado o gosto estrénuo
na mortalha

escurecida

no rescaldo





isabel nunes






V






.
marés de vento ao arrepio
golpeadas na importância do gesto

largo
.
o amortalhar a fonte o poço o ganho
milícias aguadas
.
cambiantes veladas de um desafiar

o golpe





isabel nunes






IV






.
são papéis as resmas que esfarelo
.
afectosgraves
prontos a agilizar o espaço
.
uma mão disfuncional e um
pé sobre o andaime onde

dispo o corpo





isabel nunes






III






.
sento-me antes do verbo e depois
do cerco

na volumetria arcaica onde
cuspo o tempo
.
talvez um pouco de silêncio
ou a lonjura dos montes
.
perto
a equidistância entre o assombro e
a volúpia





isabel nunes






.30






pisaste chão
ergueste terra
quando os pilares do templo deixaram
rastos de ti

*
*
*
olhaste as mãos

*
*
permitiste-as no labirinto dos astros
plenas de singular.idades e de
in.confidências

*
renunciaste à flor azul de Novalis e

foste um pouco mais de voz
quando o tempo respirou ascético





laura makabresku






.29






o alimento nocturno
quando a terra se quis em abundância

é nudez
de abrigo ou recusa

*
*
*
.fenecem
esventrados os corpos oferecidos à urbe





laura makabresku






.28






um denodo .um desvario de sol
proseia a sombra

no des.virtuar das marés

*
*
*
sobre o rochedo
cruzam-se memórias e oceanos

vagos





laura makabresku






.27






in.decoroso ofício de martelar o devaneio
anátema vigilante de um reponso
escuso

.sombras?

*
*
*
vestígios onde a tissura
se impõe à revelia do mestre

*
voláteis

túmulos no assomar da vazante





laura makabresku






.26






des.crente num sufoco sobre um
tempo árido urge implementar
um outro modo de estar aqui

ou ali
onde a temperatura oscila e
o aquecimento global concede
o prelúcido

*
*
*
um pouco de eufemismo
solicita-se para que a ordem se
estabeleça e o acordo entre as raças
seja o ponto de fusão

das horas que se têm frias .um gosto
ácido a im.prudência .o conflito ou a
forma de engordar o ignóbil

*
suprime-se a matiz do verbo .o agora
e o amanhã





laura makabresku






.25






não me tenho aquém
num solilóquio tenso

*
*
*
velejo ao largo sob
um adorno breve





laura makabresku






.24






restos tácitos de um a dorme'Ser marujo
velejam sobre a quadratura e o mutismo

podres

*
*
*
derrame de alquimia num sobressalto
aquoso

*
*
velas ao mar
lutos em terra

*
*
um adeus menino sobre a fronte

resquício ácido dum mourejar ao
largo

*
Tágides ao leme na braga da idade





laura makabresku






.23






correm textos-rubros
no recobro silente
das veias e

o quartejar das horas

*
*
*
resiste ao
ondular da pele





laura makabresku






.22






não me adoço virgem em ânfora
madura .poço roborado que

a bilha decanta

*
*
*
jogo ardiloso onde a palavra se esgrime
e o verbo se esgota

no momento urgente um ás que
se joga

*
*
um torpe ondular onde o canto se
espanta

sereias a mais no velame torcido e
o barco quebrado no a-deus ao cais

*
um sopro de vento em derrame de ave





laura makabresku






.21






o dízimo o poço a bilha que se
quebra a sede que não se esgota

febril

frente ao rio e ao mosto cansam-se
as palavras presas à cintura

*
*
*
solta a água
que o vinho tarda

máscula de morte ou reflexo
turvo
de um sub.mundo erigido como lei

*
*
sorvido o desgaste
o segredo urge e a sede corre

*
sublima-se o prémio em casta mudez





laura makabresku





























II-desgastes a que o tempo tece brios 










II






.
companheira assídua de meus gestos
lerdos
.
a poeira assenta sobre as palavras
gastas
.
recusas de dentes cerrados sobre
páginas
.
ao canto a sombra permanente dos
impasses ou

um escrever bárbaro
o erro cego





isabel nunes






I






.
desgastes im.previsíveis num volteio
breve
assim a arte de plantear regressos
.
como princípio a lonjura
assimetria breve de fabular distâncias
.
mastigadas
até ao limite dos impasses

consequentes





isabel nunes






.20






ordeiro e submisso o rebanho regressa
ao redil .ordem a travo

no compromisso formal

*
*
*
nada de subversões ou golpes de casta
que a fortuna corta-se ao fim do mês

os blasfemos subvertem a ordem e

*
*
a desordem atém-se ao toque
que se inscreve no gene

*
os esbirros
- famélicos e cansados -
pelo engano dos asnos
aparelham os engodos cifrados





laura makabresku






.19






um momento em que a dor agasta
um cheiro a morte 

uma semente crua regressada à terra
fora de tempo

*
*
*
um corpo moço .coração despido de batimento
.suspenso .errático cosido às urdiduras
da carne .os ossos sobejam a lonjura

*
dos legentes

adúlteros





laura makabresku






.18






o verbo falo .a garganta fresca por onde
o leite desliza .corre  a paixão pelas
mãos e  braços .detém-se no pulso

*
*
*
ressurgem os trilhos outrora vagos
o declive da lua onde o sono se liquefaz
em cratera aberta

*
*
relevos assentes no encontro com o sémen
que deixam escorrer por espaços amplos

as mãos envolvem um corpo
ávido .atávico o desejo cruzado em transe
.a carne virgem

*
a boca exangue .a vulva frágil





laura makabresku






.17






deixa-se embalar
no requebro das flores que a praia rejeita
em des.amor

*
*
*
como a loucura projectada
à imortal.idade





laura makabresku






.16






a dança reserva a voragem da lua e
tu - andrajo de peregrino - vestes os preâmbulos
a fim de purificar os

átomos invisíveis que à tona de água
balançam .Dionysios bebe .Phebo adormece
.Orpheu
verte na lira um véu de assombro

*
*
*
os halos des.juízam-se pelos caminhos

*
*
a terra
acolhe no seu ventre a semente alçada em
vinho fermentado

*
os corpos fragmentados em respiração ofegante
des.laçam-se projectados sobre as pedras





laura makabresku






.15






canto os signos numa vertigem esquiva

*
*
*
num tanto faz

códice revestido de mofo

*
*
o fantasma vagueia no desalinho da ópera 
em loquaz abandono

e as máscaras
exigem como padrão o roer as unhas

*
acusado o salmo





laura makabresku






.14






um frio mais acima

no ouvir o tempo

*
*
*
um arrastar de gente

no limite

*
*
o futuro que não chega

ao presente

*
*
o poder em navalhada

de não ser
hoje

*
a mudança





laura makabresku






.13






decretado o luto
o sacro bezerro in.verteu
o símbolo da não capitulação

*
*
*
como sobrevivência
exige-se a explosão dos átomos





laura makabresku






.12






deslizam os dedos sobre a pele
dos predadores que
no engano assumem a vicissitude

*
*
*
o fauno resiste

sacralizado no referente
copular das libelinhas

*
Dante é o senhor do rictus





laura makabresku






.11






em tempo de poetizar
suspendo os meneios consumidos à exaustão e

*
*
*
face à barbárie
des.consinto o grito aos suicidas do Verbo





laura makabresku






.10






se me fosse (con)sentida a vontade de ser
Outro ter-me-ia inteira na pele de
um sorriso

cáustico

*
*
*
cortaria
em fatias a música que me envolve em
teclas acesas ao manuseio

*
*
outro rio outro mar outra maré
banhariam as minhas mãos

*
quais folhas caducas de uma árvore perene





laura makabresku






.9






semeadas a esmo as canículas
deixam restos

*
*
*
foi Agosto é Setembro


*
fogueiras iluminam as noites e as sílabas
outrora caladas alastram-se 
pelas madrugadas dum tempo velho

*
*
foi Março é Abril que se adensa
no galope dos cavalos e

a pestilência
consente a permanência dos homens sem
esqueleto

*
num desistir que já foi quanto





laura makabresku






.8






amanhã

se me aprouver
regresso ao ruído das ondas

*
*
*
e acresço o beijo se o sentir for pouco





laura makabresku






.7






o verbo exímio de opacidades e
frases antagónicas rasga o útero

*
*
*
em escrevente delírio





laura makabresku






.6






que dizer do fim
se o agora se arroga

diletante

*
*
*
no lado oposto
do tabloide

o espectáculo
escusa-se

*
tão efémero
quanto





laura makabresku