as cidades em l - Lagos




sabia que o mar não o deixaria partir .era nele que se refugiava quando as manhãs aqueciam o corpo em café .mergulhava o olhar e o Ser .era num mar de si que encontrava os seus restos .náufrago .no desconforto frio de quem olha o infinito e nada vê .nessa manhã ousava abrir-se de par em par mas nada via para além do mar .sempre o mesmo mar
em marés calmas .era assim que se sentia .cansada .pousava um pé após outro .avançava em slow-motion e desenhava a volta e a contra-volta no volteio com a brisa .quisera ser bailarina .de carne e osso .o mar levara-lhe o "pas-de-deux" numa viagem sem volta .era tarde e a noite fizera -se em frio

ela e o mar .aquém de ser um ser em perfeita suspensão na revolta .sempre revoltada consigo e com o mundo .havia perdido o voo 235 por causa do mar .irritava-a o modo como o mar continuava a comandar a sua vida .visitara entretanto outras cidades mas acabara sempre por regressar ao ponto zero .estivera em constante estado de alerta .sabia que o chamariam a qualquer momento .fora ele que houvera escolhido aquela vida .seguira à sua maneira os mesmos passos do avô .também ele se casara com o mar .mas ele não teria netos a quem contar as estórias prenhas de sereias
mergulhou a onda e sentiu a água percorrer-lhe poro por poro todas as estrias do corpo .ela quebrava o mar em perfeito equilíbrio .sentia o embate .ainda estava escuro quando ele sentiu o primeiro rasgo .a batida de dois corpos sólidos .haviam construído a sua ilha de amor no encontro dos corpos .sensualmente a água deixava-o em estado letárgico .mas era o mar que o empurrava a agarrá-la e a percorrer o seu corpo em sintonia com o barulho do vento .piano de início vibratto um pouco mais abaixo em turbilhão e 
era nesse momento único de vibrante encontro no ponto zero de chegada / partida que ela mulher mergulhava no mar .a ele tinha entregado o corpo .banhava-se às primeiras horas e repetia o mergulho .compulsivo
nunca a imagem fria do dia em que recebera a notícia a havia abandonado .costumava deter-se ao a noite'Ser ,junto da casa onde havia deixado o dia a manhe'Ser .percorrera os portos com a imagem dela retida em cada olho .fora no encontro do marulhar que encontrara a paz .mas o barulho das vozes acordara-o e ele o efabulador de sonhos acabara a última cena do filme a correr .seria de noite que os homens da praia encontrariam os restos do barco .ele havia perdido o medo .havia-se encontrado .no ritmo lento da última vaga a valsa irrompia no salão e ela dançava .dançava .quisera em menina ser bailarina .mas o mar sempre o mar interrompera naquela noite o pas-de-deux. fechava os olhos e confundia todas as lágrimas quando mergulhava na confusão do tráfico da cidade .ironia .estava numa outra cidade numa nova cidade em l e inundava-se em Ser .era a sua nova cidade .lagos de mar .em passo lento
regressava ao ponto zero e desfazia por fim o braço e o antebraço que a areia tecia
ela a onda .ele o mar