tudo não passa dum aparente equívoco





josé rodrigues





*
incómoda a ausência
*
para cantá-la
bastam-me os teus olhos presos
ao in.finito

e à in.sensatez onde te a-braço




a in.timidante desfaçatez dos números primos





josé rodrigues





*
que desfaçatez a dos números primos
*
os pares passam ao largo na intim
idade enfadonha do cinzelar
*
são esquadrias desenhadas
que se agitam em movimentos
circulares e concêntricos
*
são falsos primos na desfaçatez dos
erros que fácil.mente
apontam aos outros como resíduos
enquadrados das folhas de excel
*
colocam-se em
redomas aquém da realidade que teimam
em não aceitar
*
circunscrevem-se aos
quadrados acrescentando
letras às letras e números aos números gastos
pela poeira dos anos bissextos
*
destros na arte
de bem enganar movem-se com sorrisos
e temeratos

rasgam-se em pantominices esquecendo
os artefícios a que se entregam como
expoentes máximos da idolatria

*
esquecem-se que na evidência
o conhecimento não carece de re.conhecimento



corto com os dentes a placenta





josé rodrigues





*
não me parece que hoje seja dia de
escrituras
*
a minha cabeça virou uma bola uma
máquina um mero lugar onde os
pensamentos deslizam
*
não sei que nome dar às coisas que
vão sendo projectadas no écran tridimen-
sional que é o meu cérebro nem como
o mesmo articula o que lhe é transmitido
*
pouco me importa saber o
sentido real dos elementos por
que  não me consinto a faculdade de
pensar sobre o que fechei nos arquivos
da mente
*
sou um simples armazém de lugares
que vou transportando em avanços e
recuos e dos quais desconheço a causa
*
não lhes toco
*
não tenho sonhos coloridos nem dou
nome às coisas que vão passando sem
interrupções
*
torno-me vulnerável aos cheiros aos
contactos ao colar de pele e limito-me
a conservar intacta a minha capac

idade de tornar viável o retorno ao múltiplo
mesmo quando o singular se não enquadra
na qualificação

*
esqueço-me de fechar as
janelas do sótão e deixo que as
mãos se agilizem sobre o papel
de preferência
pardo
para face à minha absurda intim

idade
com o in.qualificável garatujar
algumas palavras num simulacro de texto
isento da mais nobre condição

*
a implosão da escrita



rendida à castração dos sentidos





josé rodrigues





*
já não sei cantar de amigo amor
amante escárnio ou mal dizer e
se meu canto outrora se dispersou
hoje meus lábios adejam sobrepostos
ao movimento circular dos ciprestes
para
sobre a marca de água das emoções
bordejar a mendigante in.diferença
de Baco

*
em diligências e moratórias




as palavras*





josé rodrigues





*
há palavras que me esperam
no outro lado da folha
na próxima estação

se o comboio
passar por aqui
*
escrevo em fuligem a velocidade
de um beijo
roubado ao vento e
apresso-me a desenhar o mar

se a noite
começar aqui
*
deixarei o Outono
o Inverno
o inferno a
brincar com a Prima
vera do Verão

se o dia
se perder aqui
*
serei a sagração impura da
alegria re
encontrada ou
*
a palavra amante pre
ferida
do poeta

se o eco
se repercutir aqui





________________________________

*poema para ser lido e não dito.



escrito ao arrepio da condição





josé rodrigues





*
no preciso momento em que escrevo as
palavras soltam-se ao encontro do que
lhes faz falta
*
uma bicicleta

*
é assim que as quero
*
( imperturbáveis )

*
pedalando
ao arrepio de um torpor condicionado




movimentos em fogo





josé rodrigues





*
trazes lençóis de vento ao chegar e no corpo
pétalas em vez de braços
*
descreves círculos de ternura
e quando as tuas mãos desenham
faróis e automóveis que se movimentam
em fogo a noite grava-se em cada sulco e o
teu nome imprime-se nas ondas do
meu a-mar
*
desces as esquinas do sono pendurado nos frutos
com que colhes as manhãs e deixas-te
embelezar com o doce vertido das laranjas
*
- são gomos de desejo que se depositam no chão
*
o vento colhe-te sôfrego quando te escondes dentro
dos livros
*
- tu habitas o mundo eu as estrelas
*
trazes o orvalho fresco para com
ele barrar fatias de puro êxtase e se me tenho
moça um bando de cisnes sagrados banha-se
no lago do teu sémen

*
é árduo o regresso à realidade quando sob a arcada
saboreias a romã dos meus lábios e coração
aberto cobres-me com a areia
que vais descobrindo nas dunas do meu corpo





o ponto de partida





désirée dolron




*
aceito a revolta dos répteis

não-rastejantes
*
e ao levantar a cabeça
aparto a cauda
*
evocando

*
o ovo



acervo de ventos vários





cristin atria




*
na placidez do verbo inscrevo
a falha circunscrita ao derrame
cerebral
*
recurso ao in.sociável
exigindo uma outra dimensão 

e quando as línguas resvalam

em acervos
a razão flutua táctil e in.cómoda

*
agasto ventos