reencontro




estava morto .decididamente era esse o seu estado .morto .a sua passagem havia sido feita de um modo pacífico .ninguém interferira .nem a morte .essa havia-o encontrado num outro tempo e em outro espaço .entre ele e ela havia sido decretado o estado de união perfeita e sentia-a presente no corpo da mulher que respirava lenta mente colada a si .era noite e final mente sabia-se na efabulação de onde não queria acordar
alguém respirava por si .vivia em si
haviam-no proscrito mas a sua imagem colara-se ao abismo da mulher que guardava prenhe de desejo
como reflexo dos frutos proibidos .em tempos ela e ele reservaram-se aos jogos da infância .depois haviam percorrido outros trilhos .ambos haviam tido outros companheiros e encontravam-se agora no quarto onde nenhum se havia tido .era o único momento .entre ambos não havia nem antes nem depois .apenas a chuva .correndo dentro deles .o pó dela .o silêncio e a melodia que escorriam dos olhos dela e que se apagavam no fogo da não leitura .ele havia pintado o quadro demasiado perfeito .o desejo de estar a dois e ser o encontro .um corpo oscilante e um barco
uma casa seria o seu corpo .preferia-se dentro das nuvens que reproduziam a imagem das mulheres que amara e que havia de amar .um dia ao acordar revira-a .apenas uma mulher dentro de muitas .as mãos tremiam os lábios sussurravam e os olhos devastavam as estrelas abertas no bater da horas .reescrevia o medo a um .pintava o terror a dois .e sentia-se em fogo depois do gelo
o silêncio lançava sobre o cabelo da mulher movimentos migratórios .retinha-a no monte dos vendavais desfeitos pelos vampiros vestidos de homens
ele havia resistido feito homem pássaro quando ,refugiado em si haviam ousado riscar a liberdade .era o corpo preso dum pensamento sem fronteiras .pronto a voar
sentia-lhe a boca o respirar do corpo o oscilar do ventre o arquejar do desejo estendida no caminho do seu corpo .e ele fizera-se poeta / pintor de outros corpos estendidos no caminho .tinha-se prendido a uma corrente de casas .de barcos .de ideias .de sangue .de cidade .de noite .para regressar sempre ao quadro inicial .desejava-a escrita no seu tempo. de agora .queria-a verbo .ideia .o ser em si e não através dos outros .devia-lhe o poema escrito a ferros .para que alguém o lesse no brilho dos seus olhos fechados
porque as mulheres não paravam de morrer dentro de si
porque as mulheres não paravam de viver em si
era tempo de se saber
para viver aquém dos temporais
ou para morrer outra vez dentro das ideias havidas na sua boca .dos quadros concebidos através do seu palato .dos dedos que se recusavam a pintar .das mãos que não ousavam os pincéis .dos braços que escusavam os abraços e do corpo que se recusava a amar .o barco do desejo levantara a âncora mas deixara-o preso como o pássaro morto que um dia havia recolhido entre as mãos à espera que acordasse .havia-o deixado dias depois na prisão dos homens que não conheciam o sabor da liberdade
reestendia a mão e tacteava o corpo da mulher .agasalhava-se no corpo da mulher .tinha-se no equilíbrio instável do corpo da mulher
onde iria pintar o poema