.46






.

disse que partia
e parto

sem arvorar
bandeiras

.levo
comigo

o sorriso de
uma gerbera
e uma pétala

.uma só
pétala

que

com a delicadeza
de um gesto

pousarei sobre um
mar de tréguas

afim de ser em

terra-nova
a alquimia do vento






roberto ferri





.45






.

não me regozijo com
a ferocidade da besta

que veste o gesto
com trapos
farrapos e perfídias
várias

.oblitera as tréguas

des.organiza o mar

e no mesmo abocanha
os filhos que em pátria
outra

pedem

uma mão amiga
uma manta de lã
uma malga de sopa

um a-braço
um espaço
um livro
uma vida

sem farpas ou
arame farpado






christian martin weiss





.44






.

parto
com a urgência
na mão e
a memória como
mordaça

.serei breve
no meu caminhar
pedinte

porque no inverso
dos cantos

os monstros e os anjos
serpenteiam
quenturas e

acendem fogueiras

sobre as úlceras
des.simuladas

dos corpos de ninguém






vito campanella





.43






.

se o tempo insistir
em descurar

res.guardo

respirarei
em falsas tréguas
o que os Homens
desenham
a sangue

.Valquíria
em tempos idos
regressarei
sob o manto
da vã glória

e ao arrepio
do transitório

esculpirei a fogo
e sangue

os sumos laudatórios

.serei breve






roberto ferri





.41






.

não há pausas
para a morte

não há

.plácidos os
contrários
temem

a linguagem
que na cegueira
reclama

um outro
modo
de mitigar
a fome

.nas zonas J
Y e Z
os meninos
pedem

um naco de pão
e um sorriso

.migalhas






vito campanella






.40






.

depois
chegaram os anjos

os arcanjos e
toda a corte celestial

.no chão

entre os cadáveres

apenas

a terra
as flores
e uma réstia

de sol






roberto ferri






.39






.

nada consta dos
arquivos

devassados

em lugar dos mortos

.assim
o pesar

prego
assente

em partículas de nojo






christian martin weiss





.38






.

de rastos
vou descendo
aos Infernos

dos afectos
sepultados
em vala comum

.pelo caminho
recolho
companheiros
espingardas
e obuses

sangue
muito sangue

para que Hades
amortalhe
a barca

que se arroga
em passagens
permanentes

.Dante
espera-me e
rasura

uma divina
comédia
onde as
alegorias
se resumem

a míseros
desafectos






vito campanella





.37






.

nada mais posso
oferecer
que um cálice

de cicuta
amarga ou doce

.a morte
em tempo de
sujeição

circunscreve

a linguagem dos
deuses






roberto ferri





.36






.

de Dédalo
recolho a persistência

.de Ícaro
a inconstância

dos estímulos

e teço
fios e labirintos

longos e atemporais
com Ariadne e
Teseu

em resguardo
falso de asfixia

se o luto

amantizar

a impunidade
divina






christian martin weiss





.35






.

olho o sorriso
do velho

desdentado

olho as marcas
da mulher

violada

olho o desespero
do jovem

desempregado

olho o sorriso
da criança

esfomeada

.que dizer do aparato e
do beija-mão
duma visita real?

quiçá
desmedros de um
País que se tem
por tão igual?






vito campanella





.34






.

entre a vida e
a morte

rasteja
a besta que

atrás de si
tudo
escora

.em resilência ou  
des.amor

uma criança
desfralda-se

em praia-mar






roberto ferri





.33






.

e de delírio
em delírio

maré alta
ou maré baixa

nasço
rio e
morro em mar

.e se
em safadeza
me tenho

vou de ensaio
em ensaio

nesta paixão
que me arrasta

que me desfaz
e contrai

em busca
de mim e
de ti

na excrescência e
no erro






christian martin weiss





.32






.

é no chão
que as estrelas
se deitam

à espera

de um acordar

mais tardo

.assim
a avisança

se tem
por certa

no copular
dos astros






vito campanella





.31






.

se depois dos dias
chegarem
as noites

carregadas
de desmedranças

será em beneditas
barcarolas

que os bem-aventurados
se apartam

militados

pelos malsins
dos templos






roberto ferri





.30






.

agora é tempo de
re.pousar
os mortos

deixá-los em banho-
-maria
e ataviar-me em
desassossegos

vários

.a raiva silva mais
longe
enquanto
me apresto

à liberdade
envenenada
de um

ambíguo

até amanhã






christian martin weiss





.29






.

cansada das palavras
mortas
re.visito as naus do
meu presente

e no menstruo
do passado que me resta

aquém

desobedeço ao golpe e
à mestria

no desafio
de um acordar

mais puro

.aquieta-se
o tempo do esperdício e
dos líquens

na arbitrariedade
da febre

delirante






vito campanella