sem fôlego ou paragem






anuchit-sundarakiti






silenciam-se os barcos
no lugar de partida
quando num tempo-outro
de fechar parênteses
.
me conjugo
no sentido do Ser-em
ir.reverente
.
no meio do nevoeiro e
na equivalência do absurdo
como
uma peregrina dos outros
.
que
em escrevente desgaste
se desenha entre um passado
atrófico e um provir agnóstico





de véspera






erwin blumenfeld






de tarde
quando a morte se faz sentir
deixo-te a clivagem das aves migratórias
que em viagem
sacralizam os sentidos
no ruído in.saciável da pele e
.
tergiverso o verbo
qual voo raso ao encontro
das palavras cansadas
num folhear de esperas





descalça






erwin blumenfeld






descalça na areia
escrevo poemas-barcos
enquanto Ulisses
na nostalgia dos segundos
.
estende a face
onde os versos soçobram
como restos do paraíso armadilhado
.
logo
re.invento a beleza do verbo e
a des.arrumação do silêncio
num mar de palavras não escritas





escuso






erwin blumenfeld






não sei de enfeites
de dis.putas
de prémios ou
outros-sins
.
sei de atalhos
esgravizados
em abriduras
de vénias
com con.vénios e
.
se me basto
.
sei de mim





dúvida






erwin blumenfeld






eis-me no mar onde os textos se penhoram
quais cavalos-marinhos
.
sem agasalho na escrita
e escusada em azul e muito enfado
.
abrigo-me
interim
em restos de memórias
ou mar de olvidos





amadeos






erwin blumenfeld






num sopro abrupto de música
compasso o segredo dos deuses
.
em traje de gala
.
e re.invento o vazio
como mestre do porvir
apagando-te num corpo-de-água
morna
após o orgasmo final
.
va de retro ,Amadeos





confissão






erwin blumenfeld






cheira a margaridas o encontro das marés
e a realidade
em tempo de desabitar memórias
adormece
o verosímil
na curva do horizonte
.
amo-te sob suspeita





reflexos






erwin blumenfeld






desço pelos textos até à Ausência
embrulhada no re.verso de um poema
.
pronta para
em tempo de arrefecer os sonhos
não pelicular
.
a preto e branco





polinização






erwin blumenfeld






inventarei um alfabeto para a polinização
se a tua boca me souber a Inverno
.
e se em delíquio
te cobrir de brasas
.
o meu corpo dançará com o teu
ao ritmo da paixão





devagar






erwin blumenfeld






descalça 
atravesso a janela e
finjo devagar a pressa de acordar
.
.à hora tardia
ainda há espaço para o canto
.
de um pássaro
dissonado pela ausência





último requisito






erwin blumenfeld






tudo tem um preço .até a ironia
de uma crise de insolvência
absoluta
mente
delirante
.
no lado contrário das coisas que
se escrevem e se lêem





requisito nº 3






erwin blumenfeld






sorrio
entre o paradoxo de uma unha partida
e a urgência de transgredir os modos
.
porque deus se esqueceu de ressarcir a torneira
dos deslizes felinos





requisito nº 2






erwin blumenfeld






somos do silêncio a história
a congestão poética ou
uma receita gourmet
concebidos entre desvarios
.
equações
.
e símbolos
.
talvez o erro de Descartes





requisito nº 1






erwin blumenfeld






se ao menos o frio me acolhesse
neste esmolar diferente
tecer-se-iam as teias e
servir-se-iam os ossos
.
after dark
.
porque a razão de.mora no delírio da
tarde





mulher






erwin blumenfel






se um dia tiver de voar diferente
na cegueira dos corpos vazios
revelar-te-ei ,Mulher
.
a necessidade de semear o logro
na jactância dos enlaces
.
nocturnos





v(ad)iagem






erwin blumenfeld






e assim vou vagueando de esmo em esmo
a explorar a linguagem dos deuses
se o colofão ousar
.
em tempo de maresia 





prólogo






anuchit-sundarakiti






se nada nem a ninguém serve o
absoluto de nós
a quem pertence a vontade de ficar?
.
ao contra-senso
ao peso de uma borboleta
 a um recurso malsim?
.
não
.
aos dissidentes
aos mal.ditos
aos vagamundos e
aos Poetas
.
bolsados a horas mortas





prenúncio






erwin blumenfeld






sofro de uma manipulação de memórias
consensuais
recatos de vida ou morte
que me dificultam a tarefa de adjurar
.
como servir?
.
reconhecer que o eu que se diz eu não é um eu
antes um rasgo de mim em demanda do
mastigo da lua?
.
não
.
retro
render-me
em (de)composição
às memórias esguias de silêncios que
em véspera de chuva
rescindem-se
em noites de vigília
em esboços de cantatas
ou de escritas vadias





.2
























da seda?










o voo do falcão






leszek paradowski






*
*
*
se for preciso dizer adeus ao voo do falcão
numa manipulação de anamneses
ir.reversíveis
as palavras aventuram-se na astenia das tardes
em jeito de ponto final





críptico






leszek paradowski






*
*
*
sei de horrores .sei de medos .sei de mim
e das árvores que sombreiam o caminho
.relevo as faias e os plátanos que pontuam
as encostas e deixo-me a dorme’Ser no
banco da areia adscrito na várzea .espaço
-me na água vítrea onde as algas me arrastam
enquanto as rochas se aprontam a
cortar-me a pele .ao lado os penhascos
desafiam-me numa provocação
ao sabor das mensagens crípticas e
o meu coração-
petrificado no peito
-torna-se um tambor fúnebre pronto a
espicaçar a morte como um ensaio
avulso 





capitulação






leszek paradowski






*
*
*
preguiço-me na lonjura do tempo
tendo o vento como companheiro e
o horror pelo úteros sangrentos
como imagem a de.marcar espaços
.afago-me na volúpia de um sonho
esquecido algures e tomo na minha
constituição de mulher-serpente
o  marinho como cilada
.vagueio no limite
sem ser ave réptil ou semente para
prolongar um pouco mais de mim
nos pesadelos que tomam conta do
meu sonhar-acordada
.há bandos de cães raivosos espaçados
nos meus sonhos onde des.virtuo-
pelo contraste
-os lugares mortíferos
em exímia capitulação





o trono do medo






leszek paradowski






*
*
*
o céu é o trono do medo
onde
por uma questão de acasos
todos os adventos in.acabados
se inserem num dilúvio de caprichos
.as verdades havidas como absolutas-
rascunho ou rastilho
-tornam-se partículas infinitesimais
de uma prece a um deus omisso
e nós
famintos de imagens e pesadelos
deixamo-nos subjugar pelo terror
sem embargo das víboras e dos
escorpiões que ousam atravessar-se
no caminho
.vacilamos in.seguros num vaguear
assim ,demarcando princípios
entre uma in.flexão de bem-querer
e a recusa do tédio onde as
imagens dos pesadelos se projectam
no peregrinar do frio




acervos






leszek paradowski






*
*
*
amanso em acervo de infância ou
na lonjura do frio os meus lugares
de excelência a fim de consumar
apostas em ensaios adúlteros
.com dejectos rectos e outros metros
construo profecias e deixo-as
a dorme’Ser em ideais palacianos
como consolo
clausura ou mácula
do discernimento do Uno .vergo-me num
dilúvio de caprichos às verdades
colocadas sobre a ara do templo
para num fingimento maduro rascunhar
em corpo alheio a condição
sagaz
de um até amanhã





embargo






leszek paradowski






*
*
*
correm-me textos pelas veias
quando
nas cantigas lançadas ao vento
saúdo a revelia dos castos .acendo calmarias
e sem pré-aviso des.minto a dança dos
átomos na poalha do tempo .repego o
verso e indiferente ao vagar do nome regresso
ao húmus como uma memória onde sangram
os úteros .vagueio assim-
sem tempo
-num embargo de virgem a demarcar fronteiras
para
em tempo de descarte regressar
às palavras iniciais
até que o amanhã se cumpra nos lábios
marinheiros





jogo de morte







leszek paradowski






*
*
*
no tempo de acender as pedras-
de encontros e des.encontros
-imiscuo o verbo na dúvida dos
dias e tendo o vazio como
referente persisto-me como uma asa
fora de prazo .tenho-me na in.certeza
do Ser para regatear o preço do
azul quando me apercebo que
transgredir é a forma mais nobre
de amar .cerco-me de pausas para
na vadiagem dos sentidos des.mentir
a ironia des.construindo a contra-
ordenação dos afectos .vacilo e
arvoro a bandeira do desejo fácil
quando as palavras-
no absoluto da cor
-me pegam pelos cornos num perdulário
jogo de morte





prima-Vera






leszek paradowski






*
*
*
quando a tarde me arrefece
consagro-me à geografia do silêncio
para
transgredir a transpiração da escrita
.solto o grito enquanto o silêncio e eu
naufragamos sem pré-aviso
frente aos muros de Tróia a fim de re
-escrever o mito nas folhas cravadas
no ventre
.o calendário das horas -
como ressalvo de um bargante
- regurgita na tempestade a bonança e o
mistério habita dentro de nós ao esculpir a
matéria como símbolo da lunagem
.é então
que no estertor do vento
as palavras se arrumam na
dormência da prima-Vera e na in.certeza
de todos os excessos





irmãos-de-sangue






leszek paradowski






*
*
*
modelar nas formas
resisto à queda .basta-me
o equilíbrio das fontes para
arrojar os vermes que abandonei
à porta do templo .parasito-me
na essência de um Ser-em excelência
e apaixonada
rendo-me à besta que
túmida
me aguarda no outro lado da página
.irmãs-de-sangue
re.talhamos o poema e
esquivas
calamos a fantasia que explicita a
mentira .vagueamos as
duas
pela selva contemplativa
de cada momento e nada sendo
senão a ruína do Verbo
havemos-nos-
pérfidas
-no neoplasma dos nocturnos im.perfeitos





Outono






leszek paradowski






*
*
*
ando sob(re) fios de vento
numa ébria viagem que me aporta
à dormência do Outono .transpiro
a escrita e num silêncio que é só meu
complico
num naufrágio sem pré-aviso as
palavras
.resta-me dos ventos iniciais
a calmaria
para saudar-
a preto e branco
-a luz da lua
como desgaste de iluminuras
.e é neste tempo de acender as pedras
e soltar
os cães na dúvida dos dias
torpes
que contra-ordeno
a insídia que me incomoda





.2
























da pausa 










.1









anuchit-sundarakiti








[ da pausa-ao-voo final  ]
jus ao último acto










útero






leszek paradowski






*
*
*
não sei de mim
sei de um outro
corpo a quem empresto
a palavra e o beijo .e de
retalho em retalho
rendo-me à evidência do
agora
para depois ressalvar o
verso no vértice da queda
que me espera além
.porque não aqui
se as asas me detêm num
respirar a árvore
matriz do ninho para onde
não sei voar