a maldição dos textos





angelos razis



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cíclicos os olhos da jugular legente
quais ulcerosos desvios

ou fístulas transcritas

em uivos de circunstância



entre Mário Cesariny e Fernando Pessoa





oleg tchoubakov



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anodonte
o surreal o rebelde o assumido
quanto bizarro

in.equívoco ou
.

a multi.facetada
escala andrógena do
opiáceo como

equívoco



um vaguear assim





tatiana susla



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tão pouco

uma ardósia e um giz
traço-esquisso
num vaguear tão muito
.

o frenesim
entabula o in.dócil
.

quebra o engodo
o flauto

assim



o azul aguarda





ofelia moise kisling



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in.sondáveis des.acertos
o azul aguarda

misteres de um poeta//pintor
temerário e estulto



num sopro abrupto de música





-alexander dolgikh




*
na luminescência do Verão
falta o veio à raiz quadrada
a idade às coisas maduras e um
pouco de senso às falanges dos dedos
quando
em pousio
as mãos se limitam às nervuras das
árvores ou ao miar do gato

*
cuja cabeça atavia o esteio da porta 



sem tempo





cáh morandi



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atípico
o arquétipo urge
.acaso não?

a essência assume



ironia quanto basta





lovec snov




*
venero
*
louca
mente
*
os poetas que não ilustram
os ilustradores que não desenham
os desenhadores que não poetam
*
reservo-lhes uma gargalhada
demoníaca ou
um doce bálsamo de palavras
in.seridas em cânones
*
rejeito-as ao ascender ao renascentismo
na dança das borboletas
prontas ao acasalamento
*
fêmea e macho
 *
a renovação da espécie
género masculino ou o acto final
descrito num leito-de-rio
em corrente-de-mar
*
o rio estaca na vaza-rio
no leito branco de um a-mar
sem coacção
na liberdade dos antológicos
empoeirados
cujas castas se preservam no de.gelo
dum copo de whisky esquecido
sobre uma mesa de operário



nem sempre se escreve o verosímil





alina mayboroda




*
já que as Musas me abandonaram
tento enganar a minha in.disciplina
com meia dúzia de disparates colocados
sobre a mesa de cabeceira de
um controverso mestre de cerimónia
- tão controverso -
quanto o enjoo que me invade
*
- deliciosa essa tua estupidez 
de dar nome aos equídeos
segreda-me JB antes de deslizar
para dentro do copo que a mão
deixou em cima do móvel reservado ao
conciliábulo entre a vertigem e a embria
guez
*
- os cvalos não precisam de BI
dita a minha falta de senso comum



doente em estado terminal





jenny terasaki




*
diagnostico-me como um doente
em estado terminal da escrita
segura nas frias roldanas do texto
*
sei que não existo para além do verbo e
nenhum sorriso me veste nem nenhum
soluço me sustém além do primeiro verso
*
sou uma parasita volátil de textos
*
agarro-os com as ventosas das minhas patas e
abandono-os integrados num metabolismo                                           
gasto pelo uso da conjugação verbal
pretérito-im.perfeito
diria Proust
pretérito-mais-que-perfeito
articulo eu
*
vogo
declinada na crueldade de A. Artaud
in.capaz de resistir por mais tempo
a esta famélica crueldade traduzida
em escrever
*
vomito um extracto de conta
como se a quimio do texto não tivesse surtido efeito
*
brinco com uma máquina ascética
disfarçada de liberdade e
descubro a indisciplina do medo
*
será possível

navegar na estrofe soletrada do des.cortês?



engenho e arte





carlos saramago




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a in.comunicabilidade dos arcanjos
prefacia rasgos e génios

audazes

na arte
de indultar mandrices



absoluta.mente delirante





alexander dolgikh




*
lembro-me de a olhar ao espelho
como se fosse o reflexo de alguém
cujo dorso se verga ao vento
*
lembro-me de vê-la sentada sob uma árvore
cujos ramos se prolongam como braços abertos e
lembro-me
*
de não me lembrar
*
absoluta.mente delirante
*

o nada é belo mas muito breve