doente em estado terminal





jenny terasaki




*
diagnostico-me como um doente
em estado terminal da escrita
segura nas frias roldanas do texto
*
sei que não existo para além do verbo e
nenhum sorriso me veste nem nenhum
soluço me sustém além do primeiro verso
*
sou uma parasita volátil de textos
*
agarro-os com as ventosas das minhas patas e
abandono-os integrados num metabolismo                                           
gasto pelo uso da conjugação verbal
pretérito-im.perfeito
diria Proust
pretérito-mais-que-perfeito
articulo eu
*
vogo
declinada na crueldade de A. Artaud
in.capaz de resistir por mais tempo
a esta famélica crueldade traduzida
em escrever
*
vomito um extracto de conta
como se a quimio do texto não tivesse surtido efeito
*
brinco com uma máquina ascética
disfarçada de liberdade e
descubro a indisciplina do medo
*
será possível

navegar na estrofe soletrada do des.cortês?