day after






duy huynh






por fim
num traço e num a-braço
.
afecto-me
como dependência ou criação
.
num triplo bluff
.
.verdade ou consequência?





CANTO final






duy huynh






ondulo
pelo feminino
numa tragicomédia de memórias
assente
na força da razão e
.
numa breve nota para um dueto
.
meneio num espelho convexo
o meu CANTO final ou
o terceiro andamento
.
do
concerto para violino nº 1, op 29
,de Ernst Krenek





mordomia






duy huynh






calo-me em sacro tempo e
sorrio
.
porque
o verde azulinho do mar me traz recados
.
como o falcífero mendaz
em voo raso
aquém o pretejado





(ru)mino






duy huynh






afinal porque te recolhes
como transgressor de ti ou
como robot de mim?
.
se da janela onde me res.guardo
construo a solidão dos círculos
.
(ru)minando
entre demónios chamas e iguarias
.
um modo diferente de ser mortal
.
.na trilogia da dança
assisto-me
aos três compassos de espera
.
como antídoto
a uma cantiga de amigo
amor e
algum maldizer
.
tocatas em várias mãos
( em fuga )





açafate






duy huynh






um dia
porque há cidades que se escondem por ignorância
.
oferecer-te-ei um açafate de estrelas
.
sem necessidade de procurar o significado das coisas





(des)construção






duy huynh






se me for consentido o abate da espécie
num encontro fora de horas
.
esgrimirei a linguagem
sem explicações
.
qual andarilha preservada na refinação e
despojada de todos os requestos
.
num processo de auto (des)construção





cadáver






duy huynh






transporto em mim o cadáver do Outro
num fado escrito em português ou
.
num texto talhado ao encontro do a.manhã
.
.é preciso tão pouco para sermos tudo





espuma






duy huynh






se me fosse permitido inverter o curso das marés
talvez
inscrevesse as dúvidas no chão da areia
.
.numa diversificação
de movimento e ritmo
.
volto a página para re.escrever o longe e
deixo para amanhã a construção do mito
.
procurando o sentido do silêncio
numa escrita in.consequente
.
.por fim e
para memória-futura
construo pessoas ao sabor do tempo
.
envolta em lençóis de espuma





sintaxe






duy huynh






procuro uma razão de ser
para a loucura
.
respondem-me as trevas
numa citação apócrifa
.
presas ao gotejar da chuva
num retrato
a sépia
.
.o parto do poema
assume-se
como intermezzo
.
numa expiração atópica
em contagem de.crescente
.
.como é árdua a tarefa do poeta
quando tardam as sintaxes





restolho






duy huynh






na tela sagrada do meu luto ou
no tédio do silêncio
.
ergo-me
num golpe de asa
.
como um canto de louvor ou
o contraditório
ao nonsense
.
relutante aos
des.fragmentos que lanço ao chão
sob o restolho da voz





Gabriela






duy huynh






o meu nome é Gabriela e trago dentro de mim um navio
pronto a zarpar
quando um homem
.
com a ternura nos bolsos
.
se apresta a rasurar
recados no vento
.
como um funeral de adeuses
erigido
em nome de um deus/plebeu





lá fora






duy huynh






tardas
numa distância nua
.
tendo a dança do demo
.
como delírio
dependência ou criação
.
interim
.
a morte pode dançar
lá fora
dentro de nós





sonhatina






duy huynh






quando os gestos se inclinam
em absurdas variáveis
amo-te numa “sonhatina” breve
.
como uma referência cinzelada
de outras marés
.
resguardadas em A-gosto ou
qual resistente
.
sujeito do meu corpo





despojamento






duy huynh






em tempo de estranha lucidez
decido-me por um insólito devaneio e
.
no des.engano dum poetar bravio
.
abdico das memórias à tona de água
como uma mancheia de silêncios
vários
.
despojada do estar-quando





re.definição






duy huynh






vagamunda de outros recados
adio o encontro
com a seda do crepúsculo e
.
vestida no desassossego dos afectos
.
re.defino o modo de Ser-livre





velhice






duy huynh






apenas a um passo da corrente do rio
.
vacilo
entre uma “sonhatina” grave
outra em dó menor ou
uma tissura breve
.
certa
de que a velhice também dói





um nome






duy huynh






coso as palavras aos textos e
porque não és apenas um nome
.
descarto-te
numa morte in.satisfeita
.
marinado .mas
não de-mais





solidão






duy huynh






cansada pelo cansaço das palavras a mais
permito-me a dorme’Ser
.
num diálogo nocturno com o vento
.
como resíduo de um silêncio-só
gerado
na solidão dos relógios de horas ou
.
na rotina fátua dos adeuses





invocação






duy huynh






talvez amanhã
mulher feita de nada ou de coisa nenhuma
.
invoque num poema
.
um tempo e um espaço (in)consentidos
como ressalvos
.
do acordar a noite





in.suficiência






duy huynh






in.confundível
esta arte de conjugar
.
os encontros com o tempo
quando o sabor a terra
.
tão de manhã quanto a noite
nos induz
.
à in.suficiência dos lugares e
.
dos simbolismos
contextualizados em espirais
.
assentes sobre os joelhos





dest.arte






duy huynh






uma página em branco
.uma aparência de som grave
.
eis o que sou
.
quando das epifanias restam versos
rasgados pelas intempéries
interiores
.
dos desvios
fora de horas
.
.dest.arte
o meu compromisso com a i.mortalidade





festim






duy huynh






ordeno no festim a barbárie
eliminadas as serpentes e
.
como revérbero
.
invento
corpos em transição num circuito
estigmatizado pelo reflexo
.
dum adeus
.
com as pálpebras agitadas pelo
sol que tarda





ternura






duy huynh






com a ternura nas mãos e
em tempo de não agradar
.
tatuo a fogo
um mundo de conflitos e
.
um poema banal
.
porque como simples Ser-morrente
.
amolo as facas das epístolas
nos parapeitos das janelas
.
em noites de vadiagem





.3
























ao voo final










adorno






anuchit-sundarakiti






de todas as presenças faltam-me
as flores azuis
para adornar os cabelos-brancos
.
quando a morte desfalece numa
viagem em contra-mão
.
ou num tempo novo
de memórias indigestas
.
prenhadas
na arte de estremecer as árvores e
na adultez das aves
.
migratórias





aceno






anuchit-sundarakiti






a minha intenção é escrever
nas veredas do tempo
um modo diferente de me haver
entre infinitos
.
mas as malhas que o cérebro tece
obrigam-me a acenar aos deuses
com o fogo das coisas banais
.
é então que
procuro corpos palpáveis
.
a fim de viajar no quadrado do tempo
.
convulso 





teatro






anuchit-sundarakiti






preciso lançar de novo as amarras e
acender as velas no teatro do absurdo
.
para convocar
Mefistófeles e Azrael
a um regaço de ninhos e
.
projectar no azul a prosa dos meus versos
.
porque
só a Poesia interessa
.
a uma encenação
.
impúria e de.cantada





morada






anuchit-sundarakiti






quando olho o mar
em fim de caderno
obrigo-me a
deambulações entre
gritos e absurdos
.
como uma
morada de silêncios
inscrita na maré
.
.assim
a aprendizagem do belo
.
onde aceno
à sacra sabedoria
.
como a vaga a rasar
o divino





de.mais






anuchit-sundarakiti






não falo de mim
mesmo quando o Eu se sobrepõe
a Nós
.
uso-me como in.consequência
prosaica
de um texto
a que o nome se perde nas veredas
de uma escrita
suicida
.
sou
demais o Outro
no fascínio
.
obstrutivo
.
da dança túrgida das opalinas





dis.simulação






anuchit-sundarakiti






não te facilito
a escrita
muito menos a leitura
.
em tela baixa
.
a ti
leitor/autor
.
.escusa
.
não sou versátil
aos mutantes





a.manhã






anuchit-sundarakiti






há mudanças em tempo de veraneio
dentro e fora dos textos
se ficciono o desejável no fio de prumo
.
.sim
hoje é minha intenção morrer por fora
.
.amanhã
logo se vê





des.agravo






anuchit-sundarakiti






contradigo-me sem hesitação
no des.agravo dos silêncios átonos
.
circunscrita aos códigos de honra e
.
sirvo-me
como sobremesa





oratória






anuchit-sundarakiti






dissipados os laudos e a retórica
olho-te em demasia
.
na arrogância dos lugares comuns





ámen






anuchit-sundarakiti






é tempo de devolver as profecias
em queda livre
à aprendizagem dos sentidos
.
onde os acasos dos pontos e das vírgulas
se exigem
como um último reduto
.
.nas vésperas omitiram-se as matinas
em desistências fora do comum
.
.assim se cumpriram os fados





restos






anuchit-sundarakiti






sob os escombros
há restos
monólogos
com sentido a muitos
.
que a transcrição do silêncio
negligencia
no degredo das mãos
.
vazias
.
enquanto o
desnorte se torna o lema
dos escravos nados-mortos
.
desistentes
.
dos fados que os arrogam
como reticências





demência






anuchit-sundarakiti






gosto de não gostar mas gosto
da frivolidade semântica do texto
que num requentar de horas
.
me devolve
ao culto de.cantado
à voragem
ao delírio
.
e se a demência me demorar
rendo-me
em queda livre
.
numa viagem sem retorno ou hora
aos Poetas mal.ditos





fascínio






anuchit-sundarakiti






no fascínio das horas mortas ou
na vadiagem dos silêncios
.
sonho acordada ou
virada do avesso
.
a fim
de retornar no chilreio das aves
.
à voragem
intermitente
dum parto com palavras a-dentro





posfácio






erwin blumenfeld






adeus
aos des.afectos incessíveis
a Ícaro
aos profetas da escrita
mutilada
.
porque no interim
sentada na alpendrada das dúvidas
.
assumo na heteronomia dos
mestrais
.
a Ausência
como um ensaio avocado
ao som do último violino





tonteria






erwin blumenfeld






o intelecto desconhece a pausa
em mecanismos de auto-destruição
.
quando insones
ardemos no mundo inscrito por fora
.
ou quando
num resquício de tonteria
.
fechamos o parêntese ou o sentido
do Ser-em