persiste uma asa fora do tempo





-ans markus




*
um momento cínzeo em que a dor
rustica .um cheiro sabático .um corpo

semente crua regressada à terra

corrente fora de tempo num sabaísmo com
que inscrevo palavras alvas

.um corpo moço .coração em batimento
suspenso .momento errático cosido às urdiduras
da carne .os ossos sobejam a lonjura

dos seminumes

*
tangem as cítaras .choram os cantos


desgaste de iluminuras





-alexander dolgikh




*
desarrumo de litanias ou desajuste de cânticos
.declive de balaústre onde o gorjeio desgasta

a exaltação do espírito

inscrito nas colunatas em que os hieróglifos
imperam

.reduto de barcas em passagem
arremesso e omissões em agreste volteio  

.pedúnculo avaro de gente ou vacatura de sombras
em iluminuras baratas .gorjeios

desafinados

*
in.cendeia-se o medo .cálice de sacro vinho
trespasse

em confissão .exaltado



o vazio como referente





-jiri borski





*
in.explicável a minha reacção ao
lugar comum

.o não-gosto ao banal

.a tudo o que possa traduzir-se em
nada .o vazio como referente .uma
ocasião para o não

basta quanto .ou muito .valoriza-se
se houver lugar .cava-se um fosso e
ainda bem .a distância entre o óptimo e
o mau ou

o contraditório

*
o suficiente para restar-me fora
do risco e da equivalência .a recusa

ao não fascínio quando
basta o longe



torpes cantos onde imiscuo o verbo





-philip mckay




*
regresso ao húmus 
desassombro de canto em voz timbrada

.desaforo imaginado num campo aberto
.escritura sacra ou

iluminura

que o monge medievo legitimou

*
refém de palavras suadas



como se faz um poema?*





-pavel guzenko




*
tácito retorno ao vazio
forma primeva de conceber o Eu como
o Outro

havido em estado vegetal
.premissa de um axioma onde vacila
a razão de ser .o não-Ser

nada

palavra após palavra .a constituição
do verso .a artrose do poema

*
.um final em permanente contradição
ou a assumpção

de ser incómodo




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* fazendo! - diria Ana Hatherly