rendição




Maria por dentro sabia-se só muito embora às vezes estendesse a cara em demanda de um beijo ”na face ,pede-se e dá-se” – escrevera o poeta
os olhos e a boca de Maria percorriam rostos que não fixava .as mãos tocavam outras que não conhecia e o sorriso era o seu simulacro .ouvia-se quase sempre repetir palavras que não sabia o significado porque quando falava não conhecia a sua voz .de quando em vez um braço cobria-lhe os ombros e Maria sentia na nuca o hálito de quem lhe falava ao ouvido
a quem havia consentido tal intimidade?
quem havia ousado deslindar os fios que a colhiam por inteiro?
Maria nunca havia sido senhora de si .era esse o karma que carregava sem ousar confessar .havia corrido os lanços da vida ao invés e acabara sempre num beco sem saída .forçada Maria havia-se tido no universo que o medo deixara antever .tudo o que havia imaginado passara-lhe ao lado e a pouco e pouco havia criado defesas feitas de esquecimento .mas tudo estava lá registado na caixa de Pandora .o big bang um dia iria ser cobrado com altos juros
a quem cobraria os dividendos?