que segredo se esconde na linguagem dos factos?





josé rodrigues





*
há um cansaço prenhe de ausências em
cada presença que se agrafa longe

*
ávidos dedos lançados à deriva

*
raízes

*
terra húmida pronta a abocanhar

o bafo que a pulveriza
*
nada faz sentido


*
o verbo quer-se solto para na boca dos des.enlaces
aprontar a fuga



ao ritmo camuflado de uma voz de comando





josé rodrigues




*
há uma raiva sub-cutânea
que alastra qual centopeia
*
um submundo aventura-se e os corpos em putrefacção
esperam que os vermes os devorem
*
nada resiste à fome de quem não tem nada para
comer e um resto de vazio perpassa pela razão dos
acometidos
*
ah! ,se o vómito os devorasse inteiros

passaria a haver uma razão
porque nada incomoda o vidente que nem a si
mesmo se vê
*
ousa-se ao ritmo fastidioso
que teima em guardar e
mente  mente  mente
*
nada o perturba
*
nem a estupidez personificada que se movimenta no
conformismo do seu poder
*
sim porque repete
eu quero .eu posso .eu tenho
  
eu eu eu eu eu eu eu
a reserva ir.racional mas sempre presente

*
que vómito



procura-se uma razão de ser





josé rodrigues





*
hoje acordei poeta
*
coloquei entre as minhas mãos milhares
de caracteres e misturei-os à revelia
*
triturei amostras gratuitas de tratados e como
se não bastasse elevei-me ao máximo
expoente quando a miséria humana
bateu no meu estômago como se a
demagogia mais não fosse do que o lixo que
se amontoa nos cantos da minha boca

*
amanhã
percorrerei novos axiomas e ficarei isenta
do pagamento de taxas e
licenças porque mais não sou do que o resultado
de algo que se esgrime dentro de mim
*
quedam-se os passos
*
avanço no torvelinho
do equídeo que trago tatuado no ventre
*
-deixai-o cavalgar!

*
gritam os deuses ao vomitar em catadupa




uma explicação im.perativa





josé rodrigues




*
porquê a Herberto Helder ?

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que me desculpem as Musas
que me perdoe o poeta
mas

*
mea culpa

*
não resisto à beleza