o erro de Descartes





ida budeta




*
só há um processo de identificação do real
a sua aproximação
*
a imagem reflectida no espelho côncavo ou convexo
conforme o grau de miopia ou estigmatismo de cada um
*
nada é igual ao igual
*
a diferença situa-se no justo enquadramento
da personalidade do autor
*
interferências múltiplas jogam a favor de A e B
admitidos como pontos possíveis de confluência
dos processos
*
tudo não passa de um mecanismo de persistência
entre o antes-e-o-depois
*
o enquanto é o ingénuo momento da matéria
transformada em não-matéria
o justíssimo limite de evasão de dois organismos
in.dependentes
comunicantes
contraditórios
duais
matéria e anti-matéria
dois rios paralelos de emoções contra-postos a Descarte
*
o erro
- “cogito ergo sum” -
ou a interpretação da brevidade do tempo

*

ninguém é igual mais ou menos



às vezes re.vejo-me na curva do horizonte





olga domanova




*
in.tolerável o desgaste das minhas mãos que gravitam
sobre o rato e o teclado tentando projectar imagens
- vívidos resquícios ou palavras conexas-
outrora era no papel que projectava esta fúria de mim
deixando em derredor folhas e folhas onde os esconsos
caracteres se amontoavam
*
estúpida esta minha necessidade
de prolongar o finito como se a alguém interessasse
o facto do meu sol ser castanho
a minha lua cinzenta
as minhas estrelas cor de rosa ou saber se acordei virada do
avesso
*
dizem à exaustão que  tenho mau feitio
- comparável a?
isto de se ser bom ou mau depende de uma excelência
im.própria aos mortais sendo que o elevado pertence
ao domínio dos deuses
*
passível de mau feitio torno-me
comparável aos Lémures
*
antecipo-me e lasciva deixo escorrer a
minha baba sobre a candura dos meus pares
in.serida na limpidez da folha onde a preto as frases
desenham-se céleres
*
des.pertenço-me


*
venero-o como se nele amorasse a escrita que
tarda na dança dos símbolos e dos ritmos
*
mas nada é igual
à necessidade de minorar o erro
*
finto-o
apago-o
*
re.escrevo-me exaurida na curva da folha que
deixei no chão enquanto no écran da minha
imaginação as mãos tecem um novo trilho
servido pela ignomínia de quem se alvitra
pintor de mim

*

-basta-me a tela



tempo de glórias vãs





mushegh amirkanyan



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a in.dulgência // omite
o auto de fé //contra.argumenta
a forma larvar do medo //divorcia

o ousar 



deus esqueceu-se de abrir a torneira e eu de ter tino na escrita





philip mckay




*
íngreme a descida que me leva ao inferno
*
Hades espera-me e um conciliábulo im.previsto
estabelece-se entre o que se pode
considerar como absoluto
*
ante.vejo imagens que volteiam ao som de signos
*
absurdos ditames de in.sanidade
onde a vulgaridade dos actos se torna uma chama
viva
*
tudo está em convulsão e a sorte
antevê memórias através de sombras
*
atrás das vozes e dos abrigos que se
afundam há passos que se confundem
*
a ansiedade transgride o combate
*
tudo está ao rubro
*
o negro é o novo alimento ou o absurdo limite da
in.consciência humana

*
 o decesso



embargo de virgem





angelos razis



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a boca exorta
rubra mortalha ou embargo de virgem
em falo folgado

audaz derrama
.

in.divisível resíduo
como o restoilho

durante



é urgente transgredir os modos





lovec snov




*
é preciso mastigar o excedentário
vomitá-lo
roer os ossos ao desbarato e deixá-lo
putrefacto no deserto onde
os abutres se hão-de saciar
*
um dia
quando os anti-poetas frequentarem os
salões e os escritores – senhores do festim
cuspirem o asco da serventia
haverá um omnisciente Te Deum que cobrirá
todo o universo da escrita
*
nada será deixado
ao acaso e o húmus transformar-se-á
numa mancha onde as gaivotas hão-
-de hibernar sôfregas do lixo da raça
humana

este deslizará
ao longo das pernas e dos braços dos
deuses e as Parcas envoltas por biliões
de ecos espalharão sobre a terra a lama
sagrada
*
alguém ousará
levantar um dedo e com ele acender as
estrelas
*
pura falácia
*
ninguém nasceu para

ser lançado ao abismo mas esse será o
berço de todas as escrituras que ao
longo dos séculos se tiveram em códices
*
silêncio absoluto
*
o vazio
dos tempos estende-se como uma faca de dois
gumes. como a língua bífida da serpente
fracturada em milhares de imagens

*
é urgente modificar o género



sangram os úteros





luigi pellanda



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acolá
sangram os úteros
em melindre e mágoa

a negro
.

aqui
adormece a gente
anelada

de branco



após o nonsense de uma crise de in.solvência





boris indrikov




*
é hora de legitimar a farsa

de inscrevê-la
na ordem do dia e de inseri-la na verborreia
dos inquilinos do alheio
*
engodos exigem-se
*
é fartar vilanagem – gritam os
membros inferiores dos corpos porque os
superiores entregues a demandas mais
exigentes nem ousam perder o
tempo com cousas tão comezinhas
*
do bárbaro sobeja a inépcia .do cómico o
irrevogável e do comum dos mortais a vontade
de zarpar rumo a um outro inquilinato
*
uma viagem sem
retorno obriga-nos mas o cansaço das horas
leva-nos a não levantar âncora
já que assenhorados dos arquétipos tentamos
através da catarse forçar o caminho híbrido
da não competição
*
o modelo im.põe-se e
im.põe-se numa passagem além compreensão
*
não se exige a sub.missão .muito
menos a prática do dia a dia
*
exige-se o corropio sem nexo de um passar
de horas

*
o tempo ajuda
*
o calor deu lugar à
bonança e esta ao cinzento do dia
*
é hora de negar o absoluto e de esgrimir
as armas da in.determinação já que o olhar
do mancebo condenado ao des.encanto se
acende no afago da prostituta que lhe
vende as flores pelo seu voo de
pássaro rente-ao-chão
*
planando sobre silêncios há quem se reserve
a um lugar onde uma nova ordem germina e

resiste à derrama do verbo




tempo de fusão





angelos razis



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o corpo esgota o gosto à revelia
num esgar de lucidez
em corre-corre e
.

o entendimento adorna
a fusão

o sexo