às vezes re.vejo-me na curva do horizonte





olga domanova




*
in.tolerável o desgaste das minhas mãos que gravitam
sobre o rato e o teclado tentando projectar imagens
- vívidos resquícios ou palavras conexas-
outrora era no papel que projectava esta fúria de mim
deixando em derredor folhas e folhas onde os esconsos
caracteres se amontoavam
*
estúpida esta minha necessidade
de prolongar o finito como se a alguém interessasse
o facto do meu sol ser castanho
a minha lua cinzenta
as minhas estrelas cor de rosa ou saber se acordei virada do
avesso
*
dizem à exaustão que  tenho mau feitio
- comparável a?
isto de se ser bom ou mau depende de uma excelência
im.própria aos mortais sendo que o elevado pertence
ao domínio dos deuses
*
passível de mau feitio torno-me
comparável aos Lémures
*
antecipo-me e lasciva deixo escorrer a
minha baba sobre a candura dos meus pares
in.serida na limpidez da folha onde a preto as frases
desenham-se céleres
*
des.pertenço-me


*
venero-o como se nele amorasse a escrita que
tarda na dança dos símbolos e dos ritmos
*
mas nada é igual
à necessidade de minorar o erro
*
finto-o
apago-o
*
re.escrevo-me exaurida na curva da folha que
deixei no chão enquanto no écran da minha
imaginação as mãos tecem um novo trilho
servido pela ignomínia de quem se alvitra
pintor de mim

*

-basta-me a tela