estúpida a forma de amar o todo





-luigi benedetti




*
deslize nódoa onde o esgar se esbate .célere
no pano-cru sobre a mesa alva .esquálida a forma
no quartejar a lua

em quarto minguante

prenúncio de presenças in.cómodas repetidas
no frenesim dos afectos
.desconchavos de mágoa

ou luzerna de enleios

.um re.querer o modo .o quádruplo sentido
(con)sentido ao mister de descingir

alguém

*
vingam-se as mãos em requebros de
prazer



o preço do azul





-olga domanova




*
repercuto o azul
.derribo o
azul do pescoço .avento

o azul do corpo

.desencanto em sangue azul o logro
das mãos .cubro de azul

o branco dos dentes marcados
na pele e sabe-me a

azul o verde dos olhos e

em azul mergulho no sémen
*
virgem



tenho o absoluto da cor





-erika nagy





*
se cantar azul tenho-te índigo e
arrisco na tela a cor finita .um brado em
com.passo de saldos .um excedente volúvel

em sobressalto
*

.onde se entorna o balde .o poço arrefece



a in.certeza de todos os excessos





-stephen early




*
uma redundância
de esforços onde o sacrílego arrefece
num lívido escárnio .acordam-se os passos

consumidos em danos .in.certos?
momentos ácidos em que se assume a mudez
e tu?

cego

vagueias rente ao chão .resistes ao acerto
das horas .litigas

o diletante afogado na poeira que adorna
o vulto

corrompido em excesso



persiste uma asa fora do tempo





-ans markus




*
um momento cínzeo em que a dor
rustica .um cheiro sabático .um corpo

semente crua regressada à terra

corrente fora de tempo num sabaísmo com
que inscrevo palavras alvas

.um corpo moço .coração em batimento
suspenso .momento errático cosido às urdiduras
da carne .os ossos sobejam a lonjura

dos seminumes

*
tangem as cítaras .choram os cantos


desgaste de iluminuras





-alexander dolgikh




*
desarrumo de litanias ou desajuste de cânticos
.declive de balaústre onde o gorjeio desgasta

a exaltação do espírito

inscrito nas colunatas em que os hieróglifos
imperam

.reduto de barcas em passagem
arremesso e omissões em agreste volteio  

.pedúnculo avaro de gente ou vacatura de sombras
em iluminuras baratas .gorjeios

desafinados

*
in.cendeia-se o medo .cálice de sacro vinho
trespasse

em confissão .exaltado



o vazio como referente





-jiri borski





*
in.explicável a minha reacção ao
lugar comum

.o não-gosto ao banal

.a tudo o que possa traduzir-se em
nada .o vazio como referente .uma
ocasião para o não

basta quanto .ou muito .valoriza-se
se houver lugar .cava-se um fosso e
ainda bem .a distância entre o óptimo e
o mau ou

o contraditório

*
o suficiente para restar-me fora
do risco e da equivalência .a recusa

ao não fascínio quando
basta o longe



torpes cantos onde imiscuo o verbo





-philip mckay




*
regresso ao húmus 
desassombro de canto em voz timbrada

.desaforo imaginado num campo aberto
.escritura sacra ou

iluminura

que o monge medievo legitimou

*
refém de palavras suadas



como se faz um poema?*





-pavel guzenko




*
tácito retorno ao vazio
forma primeva de conceber o Eu como
o Outro

havido em estado vegetal
.premissa de um axioma onde vacila
a razão de ser .o não-Ser

nada

palavra após palavra .a constituição
do verso .a artrose do poema

*
.um final em permanente contradição
ou a assumpção

de ser incómodo




_____________________________________


* fazendo! - diria Ana Hatherly



solto no verso a dúvida dos dias





-yefim shevchenko




*
sei um corpo que acorda

brado
*

vislumbre de um fazer de novo

onde ouso
o respirar a pele que soletra o verso



encontros e des.encontros





-jenny terasaki




*
deslize de um afago onde se esconde 
o enfado

tardam os ocasos
re.versos
onde os a.deuses se apagam

.pele contra pele .ou a música
in.serida no esquartejar o tempo

*
o corpo adormece e o andrógena
assume a partitura

calcinada pelo sentidos



nocturnos im.perfeitos





-alexander dolgikh




*
pauto com as minhas mãos
a  sinfonietta imperfeita de Janácek

*
desarrumo a excelência



na dormência da Primavera





-victor schrager




não sei porque me esquivo em lençóis de vento
se me sustento de Poesia e tanto



arrumo de palavras





-joanna chrobak




*
escusam-se as palavras

e o golpe de asa des.enrola a declinação
das vagas .a clivagem dos náufragos

a-fora o mote .demais a rima
complacente ao de.gelo dos sentidos

*
.memórias sufragadas na embriaguez das Musas
.corpos híbridos tecidos em trânsito
.vértices .epicentros de poetas ou

um outro tempo de salgar as lágrimas



habita-me o símbolo da lunagem





-igor kozlovsky and marina sharapova




*
da convenção sobressai a correcção .o círculo
resistente ao encontro .o lado minguante
da lua num arrepio deslizante

.a coluna vertebral

.irrepetível a contracção .o magnetismo
ou a acoplagem no ponto de inter.secção

dorsal

inscrito no corpo .no paradigma .no magma
.o lado in.consequente da volúpia assistido
por um andróide .a prova provada da
transgressão

assinalável

*
assiste-se .resiste-se .inventa-se

um sinal de comando .um acto de contrição
.o pecado elevado ao quadrante lunar



esculpindo a matéria bruta





-barré thierry




*
reverencio a Poesia
 - vaga-lume assolado .braseiro em
taça servida – subvertida em

subterfúgio quedado .esquema virgem
.terreno arável .murmúrio  
preso em cristais de quartzo

.riso
vergado na brisa .pensamento
recolhido no ventre
.símbolo fundido .duplo vibratto

*
.leite .pão .esgrima .sorvo .aragem .fermento

que o in.tento leveda e serve
ainda quente


saúda-se a preto a revolta dos castos





-anna wypych





*
reverências não mais 
.os troncos torcidos e os pés que se arrastam

.a pele fechada 
.o sangue recusa dos cabotinos a farsa


.o queixo
levanta-se num rasgo sem medo

.exige o compasso
um braço que se ergue .uma mão que se fecha

*
a paleta de cores saúda o escárnio



é tempo de acender as pedras





-jiri borski




*
a tarde adormece
no que todos dirão
o princípio da noite .o homem fenece
o Inverno no frio
as mãos gelam
e o rigor acontece

apenas um nome
a mais ou a menos

o mister caminha ao invés do engano
o medo aborrece .esbornia

*
.e o cediço
senhor absoluto
do esbirro e da compra
subverte melaços na boca dos vermes



restam dos ventos as calmarias





-joanna chrobak




*
um rasgo de verbo que se prolonga em mim
desmedança suada em vento
opiácio

no tempo das matinas

no lugar do erro

vergado e velhaco .o corte .o deslize
opinante sobre novos ocasos

*
nas mãos do diasco



o mistério habita dentro de nós





-alexander dolgikh




*
in.dizível o in.finito .escasso momento
em que tudo se cala
.do brado o rosto .o colapso .o indómito
a-braço

.cortam-se os mantos

.dos ventos a sul há restos e rostos
esculpidos em golpejos de sangue
num mar sedento que rejeita os laços

um pouco mais tarde

*
.no adeus das gentes há choros .prosas
aguadas nas mãos que se vendem .afogam-se
os cantos como estigmas de vida ou lampejos
de sorte

.ignotos acordes



em dia de São Martinho





-benoit paille.





*
madrugam quimeras em lugares de culto
sob o espanto do chiste que se abre ao largo
.rasgam-se demandos .tecem-se abrolhos .rescaldos

nas fagulhas brigãs

pregões na cadência do fogo

.abrem-se os frutos .fecham-se as bocas tarde
no dia .a chama veicula o gosto a maduro .recorte
de jornal ou o obituário .desgostos nas mãos

assoladas no frio

*
do silêncio o estigma .recados deixados de
ano para ano .a fome enganada no assobio do flato

.o acordeão de um velho aquecido na brasa



após a tempestade a bonança





-yefim shevchenko




*
acervo poema arrimo de barco
re.verso varina na boca do peixe

.apronta-se o leme

.nome de mulher inscrito na onda
o mar recua .um golpe danado .do
medo se cobre o luto e as vestes

assombro nos gestos .os barcos partidos
na praia chegados os gritos e os brados

mar-afora-ou-adentro .bravo e irado
nos rostos o pranto .nos olhos o canto
a revolta sofrida

*
submete-se o trilho dos homens que
voltam .dos gritos e ais há risos a-braços
beijos a mais

na fleuma que cala



escrevo com os olhos o mitema da catábase*





-jenny terasaki




*
esquálidas as formas esperam
o outro lado do mundo

.Estige e Aqueronte buscam
o dízimo assumido
.Hades

algema o fogo

em ritmo de espera .o irreverente
tornado reverência e

a barca de Caronte que aguarda
dos passantes a [re]volta

.o som o eco .o corpo o óbolo .dois
mundos onde o remar queda-se
aquém

*
além
Psiquê e Orfeu
nas sombras trovantes




_________________________________________

*ínfimo pormenor da mitologia



ressalvos de um bargante





-arnoldas svenčionis



*
a tolerância
não consente assuadas
.devora

aprontados os signos

.o requebro exige-se
e explode

.evade-se o coito
.o excerto

.o contágio
mercê do crescente
incomoda

*
piano .pianíssimo



no calendário das horas mortas





-darren hopes





*
o primeiro dia de Outono
  
des.aferra
as palavras vacantes 



folhas lançadas ao vento





-ans markus




*
quedo o desfecho de um remanso
promíscuo em
resguardo de hora .minuto ou hora

acerbos

.invenção de ritmos
deixada no mastro atado à cintura
debalde o confronto
o in.oportuno que estala

.a folha omitida deixada ao relento
o brado cansado
esquecido
em aviso

*
não morro na morte

em devassos momentos .sem preço
.tecendo cansaços



re.escrevo o regresso dos mitos





-donna acheson juillet watercolour




*
morta Inês ou Helena
no mito ressarcidas .o sobressalto das
mulheres amadas a ferro-e-fogo ou

dos juízes-de-dentro o sentido proibido

.âncoras de desassossegos onde o langor
se contém como rasgos de fascínio em
corpos desassombrados em pedra .Pedro

despojo de alazão .momentos idos na
História
*
em concha úbere .em grego antigo



um adeus a Helena





-darren hopes




*
nado um adeus
à Grécia volvida

.rastos de lenda
na esquivança

.trocam-se amores
.des.amores de filhos em homens
amantes

*
.do sémen o mito .de Teseu a Aquiles
a névoa que rompe o sangue
e as armas .dos guerreiros

o saque
cifrado na trova


frente aos muros de Tróia





-barré thierry




*
ontem Helena
oráculo derramado em guerra
com os deuses a vozear o corpo
amado

.leoa-faminta

mulher-desejo

que a lenda teceu desafiando o Tempo

.ontem Helena
vertendo em sangue o riso dos mortais
amante desafiando as Fúrias na
cumplicidade do a-mar a cinco

*
hoje Helena
cavalo a céu aberto
mito do belo a desfazer silêncios

.mulher exorada num canto in.sano



naufrágio sem pré-aviso





-ans markus




*
vendaval descalço
em silêncio e hora
navio coroado de
desejo 

.um som vadio

.gestos maduros

.despem-se
as areias em pleno
Verão
num sussurro
semeado a esmo 

*
ao ouvido dum
vagamundo ousado
recolhe-se um
bem-querer

esperma bravo
em maré-alta