da resistência à presunção .1







leszek sokol







da resistência à presunção







no afear da dúvida que se reclama resistente caustico a presunção num ressuscitar partículas infinitesimais onde me vou coroando de inquietações
há quem ore
quem suplique .quem chore sobre o abandono e a dor numa escarninha liturgia

no Livro de Horas os minutos revertem-se numa ambição burlesca






clausura semiótica .1







leszek sokol







clausura semiótica







enquanto os animais e as plantas falam entre si numa linguagem que só a eles pertence a noite cai .lá fora onde a fascinação do dia de.cresce passeiam  as vozes e cá dentro nas estantes de uma biblioteca os livros adormecem os olhos no computador onde as palavras  se vinculam .é o triunfo do silêncio .a arte de consagrar a anástrofe como reflexo da única conjugação possível

.volto mais tarde para enclausurar os signos






advertências e comunhões .1







leszek sokol







advertências e comunhões







advirto-os
.de hoje em diante só escreverei sobre a in.continência
mal disfarçada dos alienígenas. de quando em vez as litanias visitar-me-ão

.não prometo dízimas a peditórios







em nome do inverosímil .1







leszek sokol







em nome do inverosímil







e agora pai
que dizer do triunfo de um olhar cáustico?
e agora pai
quem vinculará o combate que inventámos

em nome do futuro?






aponho o ponto final à vírgula .1







leszek sokol







aponho o ponto final à vírgula







não me venham com convenções inflamados em certezas
os resistentes eternizam-se na implantação das dúvidas 






expurgo a morte numa taça de vinho .1







leszek sokol







expurgo a morte numa taça de vinho







não sou flor que se cheire nem cão que se passe a mão pelo pêlo .sou cavalo sem albarda .metáfora não disponível .aragem a que o siso re.vestiu de in.sensatez e sirvo Vénus para seduzir Apolo .piso o vinho novo e faço de Asmodeu meu par .quando Azrael me bater à porta convido-o para entrar ou digo-lhe a-deus

como uma afasia volátil fora de qualquer prova






agendando o infinito .1







leszek sokol








agendando o infinito







detenho-me nesta placidez qual vagamunda em trânsito  .sei-me uma ida sem volta .um crepúsculo onde os sonhos não têm entrada e onde os lémures deixam no chão marcas de água como rememorações afagadas pela acidez mal capeada .disfarço-me de mentiras arvorada em mal menor e abandono as palavras difíceis ao cuidado dos predadores da Língua

que me têm por agenda






o resultado de um sonho acordado .1







leszek sokol







o resultado de um sonho acordado







acompanho-te na urdidura dos gestos quando os passos do futuro se perdem na fragmentação dos Seres menores e expurgo-te do esquecimento se metade sangue metade água te perderes em contemplação  .então quedar-me-ei contigo em êxtase como coágulo de um sentimento deixado à boca do  silêncio .mordazes desaguaremos num leito de  in.diferenças prontas a navegar

nos braços evanescentes de um afecto vagamundo





há muito que a irritação me arranha .1







leszek sokol







há muito que a irritação me arranha







agasta-se a gravidez no pseudonismo a que a cartola e os anos revertem em “magister”

.enjeita-se o prémio porque quarto
-que desrespeito e desfaçatez!

.embandeira-se porém em mastro de arraial o que se apressa a tornar público em éditos apesar das artrites reumatoides quando doctor honoris causa se perfila entre as anáteses e as epítases  (con)sagradas pelos memoráveis de uma Academia ir.refragável

abençoados os que bordam panegíricos menos finos







prefacio os textos sem a noção do todo .1







leszek sokol







prefacio os textos sem a noção do todo







dificil mente me preocuparei com a facilidade do discurso ou com a profundidade do verso que os mártires consumirão ou não .o declínio é um pre-texto para o narcisismo dos asnos esquecidos do fascínio da revisitação .a virgindade confunde-os e os melindres transformam-nos em cinzas aforradas às corporações ministradas pelos senhores do siso .aponho as minhas mãos em outras des.construções a que os ditames do depois perceberão o que sobra do abismo

afloro o gosto pela não ordem fascinada pelo in.justificável 






deambulo pelos limites a.morais .1







leszek sokol







deambulo pelos limites a.morais







misturo-me na confusão dos átomos sem destino e a argúcia metálica dos meus neurónios subscreve frases elípticas aconchegadas em folhas a que o sono simulará .desfaço o lugar do agora  numa espera arguida pela viuvez a que os dados não expurgam setas .aprontam-se os cheiros enquanto um olhar de fogo transfere para o outro lado do sono a inútil sensação de viajar pelo universo mítico .omito a invasão dos láparos e assumo

no des.conforto do Ser a aventura de um sorriso
inscrito no limite do in.visível






em re.começo canto o fim dos dias .1







leszek sokol







em re.começo canto o fim dos dias







olho as rugas que vou marcando ao canto dos olhos e em cada uma revejo um verso esquecido no meio dos nervos que me são anos de brincar-de-conta .é hora de esquecer a temporal.idade e inventar um modo outro de reverter o gosto .sintetizar a tinta que retenho nos lábios  .talvez assim afore fios alquímicos re.inventando modos novos de conceber o Caos que a-braço

e levantado o mastro em ruínas
arvore ciladas
ao rascunhar livros havidos como sínteses na antítese 






insinuações in.equívocas .1







leszek sokol







insinuações in.equívocas







morosamente
deixarei dedadas nas arcadas dos templos

de outro modo

serei breve
a escorregar na desfazia do tempo






pré-texto .um deslizar de ombros na rotina .1







leszek sokol







pré-texto .um encolher de ombros na rotina







ausentam-se os comensais

regresso amanhã esquecida dos livros e pousando nas estantes os restos da deglutição consumida no ano findo .os arcanos – absorvidos os fluídos – pousam os dedos sobre os olhos cavos

circunscrevem-se os comensais

ao repetir os gestos .na oratória e no arcaísmo palaciano  .quais pequenos bípedes bordam a nervura do luto e do falso quando a velhez os pinta de verde amarelo e vermelho
ou se aprontam em ruínas e socalcos onde os pássaros esculpem memórias em re.visitações permanentes

omitem-se os comensais

no levantar dos dias rasos de um eterno e ousado brincar-de-conta
ser diferente não é rasgar a dúvida
antes a afonia diurna de um álgido a conte’Ser








.2
























I - primórdios ...
( no derrubar dos arcanos )










.1









(…)
Os corações pulsam, no entanto não podemos falar?
Mas há um som dedilhado que a cada hora empresta as suas harmonias,
Que talvez agrade aos deuses que se aproximam.
Tudo isso prepara e desse modo quase dilui
O cuidado latente no contentamento.
Cuidados como este é forçoso, quer queira ou não queira, um vate
trazê-los amiúde na alma, mas aos outros não.

Extracto de “Elegias”
_Friedrich Hölderlin
( Trad. de Maria Teresa Dias Furtado )

.

(…)
( vou morrer ,mãe? )

gritam
as viúvas
na roda de um tempo
de nervos e folhas
mortas

.das muralhas
outrora
marcos de civilizações

hoje
restam destroços
em obituários

irracionais

-vou morrer ,mãe?


extracto de II- em tempo de barbárie
in “ferinas são as cadeias do tempo”
_Gabriela Rocha Martins