transcrição do vazio






inscreve-se o verbo na in.temporal
idade do verso e tudo fica aquém do que
pensámos alheios como estamos à
vontade de perdurar o im.ponderável
.nada pode ou deve resistir ao estabelecido
como ridículo e
o alarde doentio dos vendedores do templo
deixa-nos presos a falências
.nada temos para dar
senão uma mão cheia de orfandade
que vamos deixando sobre as cadeiras que
povoam o nosso imaginário
.não me venham com lisonjas quando o
meu olhar se queda muito além porque o
in.verosímil molda-nos a instância de
bem querer e nós re.vendedores de bálsamos
deixamo-nos atordoar pelo novel gorjeio
de um melro de bico cor de laranja
.absurda esta forma de prender o vazio ou
de contorná-lo com palavras soletradas ao
sabor dos cata-ventos
.ultrapassados que foram os ditames da razão
não se pense que o mundo termina aqui
na pequenez do murmúrio da relva plantada
por uma assembleia de ínvios afagos
.não se demore o sonhar na quietude do monte
ou na planura do cante-alentejano
quando tudo ainda está por desbravar
.não se peça que o movimento de rotação se
processe ao contrário ou que a lua se converta
no centro do universo porque as equações
foram proibidas pelos Grãos-Mestres da Língua
e se nada ou ninguém acrescentar um tudo nada
ao desconexo que se não tome por adquirido
o beneplácito verbal de uma rudimentar
arte de sublinhar o tempo






george christakis