apresentação de "a crispação de um toque a-fora o Ser" ,em Portimão







( clique na imagem para aumentar )






em Portimão 
no Velocity Caffé
( Rua de Santa Isabel ,nº2 )
 apresentação por Nídio Duarte e outras individualidades
ligadas à Cultura e à Literatura algarvias 



a Editora Lua de Marfim e as autoras Gabriela Rocha Martins e Amparo Monteiro convidam para o lançamento dos livros"a crispação de um toque a-fora o Ser" e "Poesia Nova" que terá lugar no dia 29 de Outubro ,pelas 21h30 ,no Velocity Caffé ( Rua de Santa Isabel, nº 2 ) ,em Portimão
a apresentação caberá a Nídio Duarte e a outras individualidades ligadas à Cultura e à Literatura algarvias  .aguardamos a sua presença a fim  de ,entre Amigos ,trocarmos ideias .sei que vou gostar e "a crispação de um toque a-fora o Ser" ainda mais! e ,porque tenho a certeza que vão ser momentos diferentes e agradáveis ,ouso convidá-la(o) a compartilhá-los connosco
não hesite e venha .nós ,Paulo Afonso Ramos ,editor ,Gabriela Rocha Martins e Amparo Monteiro ,autoras ,estamos à sua espera .até lá!





concerto para violino nº 1 ,op. 29 de Ernst Krenek






O dia começa e mantém-se cinzento      faz frio e     o nevoeiro de fim de tarde caí tornando irreais os corpos e os seus contornos
Acabo de arrumar o carro e      ao desligá-lo      armazeno um saber feito de insapiências
Sento-me frente ao computador      de costas viradas para a porta      Na moldura da janela
     depois da varanda     restam duas árvores      Uma impõe-se pela sua despida presença      os ramos secos erguem-se às nuvens      A outra      aprumada      verde      grita a sua vontade de viver


... ...

este o cinzento aberto ao imaginário

... ...

O homem pássaro      o novelo agita-se      o braço e a asa deslocam-se do novelo      A música aumenta o bater da asa      No extremo      a mão projecta-se no ar      onde dançam os dedos ou as penas prontas a cair e a enroscar-se no novelo      Destaca-se a cabeça      o queixo e o bico cortam o ar      O olhar fixa-se na presa

... ...

recomeça o desenrolar e o desenroscar do corpo

... ...

uma perna      uma asa      um braço      exibem frémitos de vida e força no auge dos compassos          concerto para violino nº 1 ,op. 29 de Ernst Krenek
Eis-me pronta a desafiá-lo      Como afronta à sua dimensão      de homem pássaro      exibo o meu corpo nu e      danço      solta      no limite do aloucar concertante





cantiga de algum maldizer






numa cidade ao sul
há narcisos esquizóides
que se escondem
em estrofes de poesia diletante
onde regorjeam fantasmas
de pequenos
grandes
Eus

               sabes que aqui
               o tempo é sempre de passagem?





naoto hattori





jogo de xadrez






seremos apenas peões
simples jogo de xadrez
ou
continuaremos ausências
presenças de quando em vez?

meu país de marinheiros
minha cinza de fogueira
onde estão meus companheiros
quem roubou nossa bandeira?

                               vejo Outonos
                               sinto Invernos
                               quando ainda existíamos
                               quando não petrificados
                               ninguém nos demovia

quem escreverá nosso nome
em rituais de verdade?

                               porque POVO
                               somos pássaros
                               cativos
                               em LIBERDADE






christian martin weiss





noite






( às vezes - tão só às vezes - pego num corpo/palavra e
de um outro escrevo o meu poema )






as noites
são o epílogo
de memórias
invioladas
no
tempo

(in)infinito

em que nos temos e
nos sabemos






michal karcz





X






.
.
.

querem-se em outras prosas
que não odes

os palanques rudes
malévolos

dos ogres e das sibilas
que se alimentam de morte

e não de vida

.pululam em barcaças
ressequidas pelas marés

revoltas

e nas tramas do mar aberto
aproam farpas

à beleza da espuma
deslivrada pelos novos barcos
que se fazem ao largo

.de-mais ardência






margarita georgiadis





IX






.
.
.

revisito-me no embalsamar
dos anseios

na procura das palavras
visitadas pelas bruxas e

na penumbra da praia-mar

deixo-me convidar pelas aves
que à minha volta adivinham

o orgasmo poético

.secretos logros
improvisam-se ao largo

e nas horas inventadas
pelos castos

os Elfos despedem-se do medo e
esculpem com cuspo

corpos pressentidos no sexo

dos anjos






leszek sokol





VIII






.
.
.

sigilo perclaro
o do menstruo
que resvala

desmedro

pelos membros
de Fénix

sob a aparência
da espécie
fecundante

.na fêmea

o macho afronta
as horas
não castas

e a disforia

assume de improviso
o esculpir

.talvez corpo





jurgen heckel





VII






.
.
.

na calma da noite
na relativa calma dos
momentos lúcidos

a dor
a névoa dolorosa
impõe

a sua natureza

.penso
na dor tão má
quanto engraçada

para que serve?

lido mal
com cateteres e
banhos ácidos

.decreto

o céu é apenas
o céu
e não algo

de onde caio

.grito






margarita georgiadis





Concerto para violino nº 1 ,op 29 ,de Ernst Krenek






O dia começa e mantém-se cinzento      faz frio e     o nevoeiro de fim de tarde caí tornando irreais os corpos e os seus contornos
Acabo de arrumar o carro e      ao desligá-lo      armazeno um saber feito de insapiências
Sento-me frente ao computador      de costas viradas para a porta      Na moldura da janela
     depois da varanda     restam duas árvores      Uma impõe-se pela sua despida presença      os ramos secos erguem-se às nuvens      A outra      aprumada      verde      grita a sua vontade de viver


... ...

este o cinzento aberto ao imaginário

... ...

O homem pássaro      o novelo agita-se      o braço e a asa deslocam-se do novelo      A música aumenta o bater da asa      No extremo      a mão projecta-se no ar      onde dançam os dedos ou as penas prontas a cair e a enroscar-se no novelo      Destaca-se a cabeça      o queixo e o bico cortam o ar      O olhar fixa-se na presa

... ...

recomeça o desenrolar e o desenroscar do corpo

... ...

uma perna      uma asa      um braço      exibem frémitos de vida e força no auge dos compassos          concerto para violino nº 1 ,op. 29 de Ernst Krenek
Eis-me pronta a desafiá-lo      Como afronta à sua dimensão      de homem pássaro      exibo o meu corpo nu e      danço      solta      no limite do aloucar concertante











dascha friedlova





5ª sinfonia de Mälher






recebeu o troco
e    levantou-se lentamente     tão lentamente quanto lhe era possível a fim de retardar o seu regresso ao calor da rua
não é que lá fora estivesse melhor     antes a inércia de mudar de posição e a incerteza do tempo de espera
   acendeu um cigarro     começou a descer a rua     enquanto as pessoas à sua volta     obrigavam-no a pequenos desvios     ávidas da rotina do dia a dia
   não tinha     porém     importância porque ele descia expectante     e só por isso achava graça     a essa fúria formigal que levava os outros a chocarem consigo     cheios dessa importância de correr para o tédio que sabia domesticamente enfadonho
  a praça estava cheia   parou em frente aos isqueiros - os mesmos de sempre que há anos     se mantinham na mesma montra -  olhou os títulos dos jornais    verificou que na esquina da loja de modas ainda lá estava a camisa que gostaria de comprar     seguiu em frente     parando em cada montra cumprindo o ritual de ver o já visto     deleitando-se na confeitaria dos primeiros anos do séc XX - nos bolos e na montra - olhando as armas que nunca pensaria usar     vendo     de soslaio     o imobilismo de alguns comerciantes     virou à direita     e subiu     mais uma vez     a rua de desesperantes esperas e desesperas     das escadinhas     à esquerda saiu a miúda     hesitou em dar-lhe a importância do costume     mas o estado de alma permitiu-lhe um outro olhar     valeu a pena     as sandálias gastas     as pernas soberbas - bem feitas - mesmo bem feitas - aliás todo o corpo era bem feito     não necessitando da saia apertada nos sítios errados     ajustou o seu passo ao dela     e sorriu à mudança de ritmo de andamento     depois     passaram a trocar os olhares nas montras     e entre a brincadeira e no jogo     de acelera e trava     de montra-descarada-montra-impessoal     foi-lhe descortinando o rosto de menina que não teve tempo de brincar     as rugas que lhe haviam chegado        o peito que terminava num estômago apertado por um cinto
  pararam no largo     olharam-se    n OLÁ-OLÁ     e aquele longo olhar contou todas as histórias     as contáveis e as outras     despediram-se como amigos
   o calor continuava     em todos os lados     mesmo estando à sombra e sendo 19h30
   começou a descida para casa
   é notável como a cidade pode oferecer o passeio conforme as necessidades
   se tivesse seguido a rua dos eléctricos     além de já ter chegado há muito tempo     não teria sido crítico de arte     nem teria pena da amiga que arranjara     pior     tinha-se impacientado com a espera
   subiu ao nono andar     a casa estava naturalmente fresca     e foi bom abrir as janelas para deixar entrar o sol e o rio
   luz     água     silêncio
   acendeu um cigarro e correu para o duche
   deixou a água correr    n ao longo do corpo     primeiro sem ordem    n depois em escolha metódica    curva a curva     dos pés à cabeça que inclinou em ângulo certo de modo a incidir no pescoço     no peito     no estômago     nas ancas     nos pés     de novo a repetição dos jogos de água e os sentidos que se apuram
   esqueceu a passagem do tempo     mas não a suficiente para precisar de um pouco de música    agarrou a toalha e serviu-se de wiskhy     estendeu a mão     tirou o 3º andamento     5ª sinfonia de Mälher     e deixou-se ficar     quieto     oitava acima     garganta a baixo
   brincava com os dedos     e     com o copo    quando o telefone tocou
   o ciclo fechava-se     e ele viu     sentada a seu lado     a imagem que guardara o dia inteiro
   chegava de modo breve e seguro     com aquele sorriso nos olhos que dizia ser bom amar
   atendeu     naquele estender de mão     cingir de corpos - curiosamente     mesmo nos mais íntimos encontros     mesmo nesses     nunca haviam assumido qualquer compromisso - e no falar das generalidades diárias
   era bom ouvi-la
   mesmo quando não tinham coisas novas para dizer     ficavam a recordar os instantes de ontem só pelo prazer de estarem juntos
   era noite escura quando se despediram
   desligou o telefone      levantou-se      vestiu-se      comeu qualquer coisa e saiu
   Ana esperava-o     a rotina     o dia a dia     o tedio doméstico











dascha friedlova





(im)possivel(mente)






Há um signo no outro lado da palavra
A chamada linguagem sub-textual que João Maria não entende
Essa ,aliás ,não é a sua áea
Tenta concentrar-se
e deixar para depois do exame a leitura do bilhete que a Inês lhe deixou no vidro do automóvel
Resiste apenas dois segundos

-preciso urgentemente de falar contigo .Encontramo-nos ,às seis ,na Gulbenkian

Não .Não faz sentido
Lembra-se .O exame .O mundo .O futuro .Os amigos .Todos os planos que ao longo de seis anos foi arquitectando .O estágio em Florença .Duarte .Bernardo .O convite da ONU para Timor .Gonçalo .Rosarinho .Filipa .a praia da Areia Branca .as noites quentes .corpos em suave abraço .Maria/In

-preciso urg

Talvez não
Não pode ser .Não faz sentido
Recorda-se da véspera ,quando ao sair da Faculdade ,encontrara Mariana e Inês segredando .Apanhara no ar "a amiga grávida .Imagina .pai .melhor amigo"

Mariana entrou na sala devagar .O olhar em volta .Um sorriso parado a meio .Inês foi muito mais rápida .Despachada .Como sempre .Aliás .fora ela que colocara ,no vidro do carro do João Maria ,a folha de papel dobrada em quatro

"melhor amigo .imagina - a frase dói - pai"

Não .Não faz sentido
O bilhete escorrega
Cai no chão
João Maria precisa de concentrar-se
Tudo depende deste exame

Pedro ,despistado como sempre ,entra na sala e "aterra" junto à secretária
Senta-se
- "olá João .que trombas ,pá!"
Lê as folhas do exame
"parece que foi feito de propósito cá p'ros ginjas"
Continua sem perceber o silêncio do amigo
"João ,a malta safa-se .O exame é de caras ,meu!
O mesmo silêncio
"bolas .Hoje estás apanhado de todo .Não há pachorra ,meu!"

Mergulha nas perguntas/respostas .Rói a esferográfica
A imagem de Mariana sobrepõe-se .Levanta os olhos e imagina-lhe o rosto meio encoberto pelo mar .Os cabelos colados à face .A frescura dos corpos .O amplexo no calor da areia .Areia Branca .A noite
Sacode os pensamentos .Xô .Termina a prova
"precisas de ajuda?"
De novo o silêncio
"Népia .Não tenho estômago para "birrinhas de betinhos"
Prepara-se para sair .Repara na folha dobrada em quatro ,caída no chão
Agarra-a
-preciso urgentemente de falar contigo .encontramo-nos ,às seis ,na Gulbenkian

Reconhece a letra de Mariana
Olha o relógio .Dispara

Inês - "que horas são? O teste não me correu mal e a ti?
Acho que dá para safar - e
enquanto espera por Mariana ,tem tempo para certificar-se de algumas respostas
Gonçalo ,Diogo ,Francisca e ela rodeiam a mesa da sôtora
Discutem pormenores e aguardam a saída .O toque .Agudo Vibrátil
Inês deixa o grupo e junta-se à amiga .Olha-a ,pela primeira vez ,com atenção
estranha
-estás mal disposta?
-não .É do calor - responde Mariana
Saem juntas

Às seis horas ,em ponto ,chegam à Gulbenkian
"por aqui ,Pedro?"
"Olá ,miúdas vocês sabem o que se passa com o João Maria? Tentei falar com o gajo ,mas nem bom dia .está com um mau perder!"
Mariana olha em volta
Inês ,irónica como sempre ,atira para cima da mesa mais uma das suas frases bombásticas
"ah ,não sabes? Bom ,também não admira num despistado como tu
O João Maria anda a atravessar uma fase a que os psicólogos chamam de depressiva"
Ri
"os pais separaram-se e ,segundo dizem ,o pai..."
"poupa-me,
com a idade dele e ainda com crises existenciais?
betices!"
O jogo subtil das palavras acentua-se .O ardil
Inês inventa .Pedro acrescenta
Mariana olha em volta

Há um silêncio no outro lado da palavra
Não escrita
Mariana levanta-se
Tudo faz sentido
Aproxima-se da porta .João Maria estende-lhe o beijo
A face
Entre os dois não há exames ,testes de Matemática ,frases bombásticas

João Maria pergunta baixo
-e o teste?
-positivo











dascha friedlova





Arte in Vitro







recomeço o thriller que o cineasta deixou esquecido no canto esquerdo de um quarto qualquer
Não .Tinha de ser aquele quarto .Aquele canto
Era Verão .Foi Inverno
Não sei filmar - reflicto - certa de que
os robots ,mimeticamente ,reproduzem os gestos para que são programados
e o meu servidor insiste no mesmo relatório de erros
O conflito entre o tudo e o nada
O nada de me saber aquém dos limites
O tudo de me querer para além do nada

temporária confusão

( subsiste ,obsessivamente
,a dúvida )

entre o nada e o tudo










dascha friedlova





o terceiro elemento






manhã


...Joana enrosca-se na cama ,sob os cobertores ,enquanto a mãe grita na cozinha
- Joana ,levanta-te

Está farta daquelas palavras .Dos mesmos gritos
Tenta não pensar em nada

mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse

-Joana ,vais perder o autocarro

Sempre a mesma lenga-lenga
,pensa ,enquanto abre as janelas ,meio a dormir

O sol bate-lhe de chapa no rosto

mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse.Não .Não havia sol no dia em que conhecera o Manuel Maria
Convidara-a para uma bica .Primeiro ,olharam-se
Estenderam a mão e os dedos iniciaram a dança .Era pesado o ar .Os dedos continuaram o jogo .As mãos seguiram o ritual
Depois levantaram-se e souberam .O beijo .Sabia a rio
O silêncio .O silêncio dos apaixonados .Amou-o .Era tarde


tarde


Manuel Maria arranca .Apetece-lhe conduzir

-Não venha tarde para o jantar ,pedira-lhe a mãe
-Hoje a Inês e o marido vêm jantar a nossa casa

Que chatice .Aturar os velhos .Estava farto do beijo ,emproado ,com que  tia o cumprimentava
 e do ar circunspecto do almirante .O marido

Acelera
Tenta não pensar em nada .Levanta a capota do carro

Mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse

-Manuel Maria ,não se esqueça .O pai gosta de jantar às nove

Sempre a mesma lenga-lenga
,pensa ,enquanto acelera .Baixa a pála do automóvel

O sol bate-lhe de chapa no rosto

Mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse
Não .No dia em que beijara aTeresa não havia sol
Passara semanas à espera ,sentado frente à Faculdade .A Teresa saía e ria .Ria alto .Fingia não o conhecer .Irritava-o aquele ar de menina senhora do seu nariz .A Teresa ria .Apanhava o autocarro e ria .Ria e provocava-o,atirando-lhe um beijo pela janela
Todos os dias o mesmo ritual
Manuel Maria não hesitou
À saída de Penal ,agarrou-a .Teresa não resistiu
Nesse dia ,não apanhou o autocarro .Não riu alto .Sorriu e retribuiu o beijo .Quente
Envolvente .Entrou no carro .Amou-o .Era noite


noite


Teresa enrosca-se .O telemóvel continua ligado .Em cima do sofá .Não ouve as palavras de Joana .Esta ligara-lhe

-Posso ir a tua casa? - chora - Não aguento mais .Desculpa as horas ,mas ,palavra ,não aguento

-Mas ,o que se passa .Estás bem?

-Não .Estou péssima .Lembras-te do Manuel Maria?

O silêncio .De novo o silêncio .o vazio

Manuel Maria acelera
Tenta não pensar em nada
Mas as imagens voltam e revoltam ,como se ainda as vivesse
Acelera a fundo
Joana ... Teresa ... a mãe ... os tios ... o jantar esquecido

Chega tarde a casa .Não ouve as palavras da mãe .Está cansado .Farto .Não aguenta .Rebenta

-Manuel Maria ,onde é que o menino esteve? Sabe ,afinal o pai também não veio jantar .Teve uma reunião .à última hora .No Banco .A Matilde estava para vir com os pais .Lembra-se dela? ,dos vossos Verões em Moledo? ,os meninos não namor...

-Que horror ,mãe .Namoro?! isso era no seu tempo

Atira-se para cima da cama .Fecha os olhos
Nas mãos ,o rio .Na boca ,o beijo
Um corpo .O pai...
...Matilde










dascha friedlova




Judite






Judite tinha 14 anos
Todas as manhãs encontrava-a sentada no muro do Liceu como se guardasse a minha chegada
"Bom dia ,Sôtor"
Olhos ansiosos e grandes envolviam um sorriso espectador de todas as coisas
Que segredos se escondiam naqueles olhos negros
Umas vezes acompanhava-me até à sala dos Professores ,outras ,esperava-me junto à porta do 9º F .Falava pouco ,mas ouvia-me ,como se as minhas palavras lhe trouxessem ,todo , o mundo que ia descobrindo para além dos limites da cidade
E todas as manhãs encontrava-a sentada no muro do Liceu
Era Janeiro
Uma chuva miúda batia nas janelas da sala enquanto os alunos desenvolviam a composição - "o que é um professor?"
Só a Judite ,parada ,com aqueles olhos grandes e negros ,dividia-se entre a janela e a folha .Um sorriso cúmplice bailava-lhe nos lábios 
Opacidades
Sentia-me irritado com o cinzento do céu, o constante gotejar da chuva ,o adormecer precoce dos dias de Inverno a que o embaciado da nossa respiração deixava ,nas janelas ,a saudade do sol ,dos dias quentes do Verão ,das cores e ,sobretudo ,de mim
"Não achas que já devias ter começado a composição? faltam vinte minutos para tocar" - creio que lhe gritei
Sobressaltou-se
Os seus olhos grandes e negros pediram-me para sair
"Mas porquê ,se ainda nem começaste a composição?"
Silêncio
Eu ,que durante meses ,lhes levara ,nas minhas palavras ,as cidades e o mundo ,destruíra ,num só momento ,o sonho de uma miúda ,a sua capacidade de criar ,de vestir-se de vento e de chuva
Sobre a minha secretária ,uma folha em branco
Na minha frente ,uma carteira vazia
Sem dúvida ,a melhor resposta à minha pergunta











dascha friedlova





O Orlando






O Orlando era um rapazinho estranho .Pertencia à turma dos reguilas
"Foram todos escolhidos a dedo" - diziam-me alguns colegas
Era o Orlando ,o Rui ,o Caixinha ,o Fernando .Irreverentes ,não submissos ,nos seus 15 anos .Fartos de matérias repetidas em anos transactos ,tornadas monótonas pelo cansaço do nosso próprio cansaço Procuravam ,pelo afrontamento ,acordar-nos do tédio ,despertar-nos para a realidade do seu quotidiano .Despir-nos das nossas certezas
Eram a esperança metamorfoseada na adolescência
Eram a vida
"Senhora Professora ,o Orlando hoje está bêbado .Foi almoçar na venda da esquina e obrigaram-no a beber uma porrada de vinho .É verdade ,minha Senhora - dizia o Caixinha
-começaram a dizer-lhe que não era homem ,não era nada ,se não aguentasse um copo de vinho .Que o vinho dá força à gente .Eu cá tive medo e não quis .O gajo chamou-me maricas .Depois o Orlando sentiu-se mal disposto e fartou-se de vomitar .Se a Senhora visse o ar do homem
começou aos berros com a gente - se eu tivesse alguma culpa - a dizer que não queria javardos no restaurante dele .Que até tinha uma filha que era professora"
A cabeça loira do Orlando acordava nos braços cruzados sobre a mesa .Olhos brilhantes .Uma bebedeira a que a estupidez dos homens tirara toda a irreverência e tornara submissos .Aguardavam ,confusos ,a cumplicidade da sentença
uma falta ,a participação ,outro chumbo ,uma nova turma de repetentes reguilas ,porque "foram todos escolhidos a dedo" - lia-se na semi-inconsciência dos seus olhos brilhantes
No dia seguinte ,não apareceu na Escola .Passou o trimestre
As matérias repetiam-se .A monotonia e o tédio vestiam a insapiência do meu saber .Os dia voltavam a ser iguais no cansaço do meu cansaço
Começava o mês de Fevereiro .Um sorriso loiro escondia duas rosas queimadas pelo orvalho da manhã .Era o Orlando
"Amanhã vou para Lisboa e depois para Inglaterra .A minha mãe ,que trabalha num hotel ,escreveu a dizer que me arranjava trabalho .O meu irmão também lá está .Foi por isso que eu deixei a Escola .Andei com os pedreiros"
"Não tens pena de deixar a tua Avó ,os teus amigos?"
"A minha Avó? Essa nunca me ligou nenhuma e amigos há muitos .Mas não queria abalar sem me despedir da Senhora e dar-lhe isto"
Estendeu-mas ,sem jeito ,e partiu
"Obrigada ,Orlando"
"Obrigada ,não" .Voltou-se ."Obrigada ,sim ,pela falta que não me marcou naquele dia"
Aquelas rosas murcharam .Muitas outras se têm aberto .Todavia ,a cabeça loura do Orlando adormece ,ainda hoje ,nos braços cruzados da minha memória











dascha friedlova





no País do Sol






Hoje vou contar-vos uma história
Há muitos ,muitos anos ,no País do Sol ,vivia um pequeno príncipe
Costumava correr entre os canteiros do palácio, montado no seu cavalo de pau .Sonhava com grandes montarias ,com as batalhas que ouvia contar aos conselheiros de seu pai ,o rei
O canteiro das rosas era o seu preferido .Semeadas em filas e sobre um quadrado branco ,faziam-no imaginar um imenso exército com o qual combatia e sempre saía vencedor
O principezinho era quase ,quase feliz
Algumas vezes ,no meio das suas cavalgadas ,parava ,e ,ouvindo ,nas ruas ,as gargalhadas dos meninos da sua idade ,brincando juntos ,pensava como era bom ter um amigo .Alguém com quem pudesse partilhar as suas aventuras imaginárias
E por vezes ,sentia-se triste
Então ,os seus olhos claros escureciam e a solidão das tardes demorava o galopar do seu cavalo de pau
Numa noite ,em que o temporal não o deixava adormecer ,ainda mais só se sentia o pequeno príncipe
Suavemente ,porém ,alguém se sentava na sua cama ,lhe afagava o rosto e fazia desaparecer o medo - a mãe...

... e a pouco e pouco o principezinho adormeceu...
sonhou com o sol ,com longas correrias e com os outros meninos ,montados nos seus cavalos de pau
Levantou-se ,vestiu-se de mansinho ,agarrou a sua montada ,atravessou os corredores ,os jardins do palácio e saiu
Percorreu as ruas da cidade ,e ,numa das principais ,encontrou um grupo de homens que saía de uma taberna .Falavam alto e as suas vozes enchiam a noite escura .Uma onda de calor humano parecia envolvê-los
Como era bom encontrar-se entre os seus semelhantes
Aproximou-se .Procurou falar-lhes .Aquecer-se naquelas palavras enormes e quentes .Dois reconheceram-no e riram-se .Depois mais dois e mais dois
Por fim todo o grupo se virou e as gargalhadas irónicas encheram de tristeza o coração do pequeno príncipe

No céu ,a noite dava lugar à madrugada e o temporal passava .Regressava o sol ao Reino do Sol

Sentado no chão ,junto do cavalo de pau ,o pequeno príncipe chorava .Sentia-se desanimado e vencido na sua tentativa de aproximar-se dos outros
De repente ,uma mãozinha do tamanho da sua pousou-lhe no rosto .Abriu os olhos .Ao lado do seu ,descansava outro cavalo de pau .Na sua frente ,um menino de cabelos da cor do sol ,sorria-lhe Convidava-o a montar .Juntos percorreram as ruas da cidade .A tristeza desapareceu do coração do pequeno príncipe e uma imensa alegria levou-o a cumprimentar quem encontrava...

... suavemente o príncipe acordou...
Sorriu ao ouvir nas ruas as gargalhadas dos meninos da sua idade ,brincando juntos
Espreguiçou-se ,muito ,muito devagar
Levantou-se lentamente ,vestiu-se e pegou no seu cavalo de pau
Acelerou os passos .Esgueirou-se ligeiro ,antes que alguém ,no palácio ,o visse e/ou atrapalhasse os seus planos .Saiu
Na esquina da rua ,à direita ,sentado no chão ,junto de um cavalo de pau ,estava um menino .O principezinho aproximou-se e tocou-lhe no ombro .O menino de olhos da cor da noite ,levantou o rosto .Abriu um largo sorriso ,pegou no seu cavalo de pau e desafiou o principezinho ,partindo disparado
A partir de então ,no País do Sol ,todos os canteiros dos jardins ,todas as flores e todas as pessoas se abriam num largo sorriso ,quando ,de longe ou de perto ,ouviam o principezinho e o seu amigo de olhos da cor da noite que ,montados nos seus cavalos de pau ,de passagem ,lhes gritavam -
- Bom dia ,AMIGOS!





citação
















A cultura é sempre de um lugar, definindo-se na sua relação com o poder. Desenvolve-se à sombra do mesmo, ou como seu contrário. Estas duas linguagens - Cultura/Poder - travam uma guerra sem fim, cada uma combatendo pela hegemonia que uma delas possui efectivamente.
O poder, porém, deixou de temer a Cultura. Acolhe, quando acolhe, a criação, banaliza-a, nalguns casos promove-a, convencido que a "domestica".

-António Alçada Baptista





thriller em mãos dúplices



















-"thriller em mãos dúplices"

















loucura






não mais
somos
iguais aos
palhaços


s(c) em palmas

somos
loucos






michal karcz





pássaro






í
do
la

l onge
do sul
i gnavo pássaro

voa
feito silêncio e grito






michal karcz





noite






( às vezes - tão só às vezes - pego num corpo/palavra e
de um outro escrevo o meu poema )






as noites
são o epílogo
de memórias
invioladas
no
tempo

(in)infinito

em que nos temos e
nos sabemos






michal karcz





ondulação






o meu amor
por ti
envolve a última onda e
o mar

aquém

enovela os nossos corpos






michal karcz





fulgor do mundo






não mais
o sentimento
de termos sido
caudal de lava

ou chuva

encosta abaixo






michal karcz





afectos






somos agora descontentes
de haver perdido os afectos
vividos em impunidade






michal karcz





um traço e um abraço






um traço
um abraço

esquema
verso
poema

criança
volume
espaço

o mar
o amor

presentes
sempre





michal karcz





tocata em duas mãos



















-"tocata em duas mãos"

















prólogo




















dos 16 aos 23 anos

as minhas primeiras "brincadeiras poéticas e/ou em prosa poética" de que encontrei registos ,tecidas ao longo de 7 anos
( talvez ,um dia em que tiver vontade de tossir devido ao muito pó acumulado ,descubra mais um ou outro "rascunho" abandonado algures pelos cantos da casa )
.gosto de encontros inesperados...


















paralelo A ,meridiano B






criança de estômago de fome
de coração vazio
de olhos sem rumo
         -moscas que teimam morar em sua boca

velho de mãos grossas
de pele curtida
de olhos cansados
        -suor de terra rasgada

mancebo de corpo de Apolo
de vida por viver
de olhos de força
        -sensualidade que desconhece

um estoiro seco
um deslizar rápido ,muito rápido
        e da boca do menino corre um fio de sangue

um troar longe ,um silvo
um deslizar com rasto
        e na confusão resta o corpo do velho estropiado

na exuberância da cor
o cheiro acre da química
        e o grito como rasgos do mancebo morto

        esquecimento para o menino que não foi homem
        para o homem que não foi menino
        para o mancebo que nunca foi herói

corpos sem nome e sem rosto
que te visarão

        a ti que encontras no teu estatuto cultural
a desculpa na ignorância histórico/política
        .a ti que encontras no teu estatuto social
ou em qualquer nacionalismo
a razão da distinção de nascimento
        .a ti que encontras no livro sagrado
a palavra que deus não disse e
        até a ti que
em cadeira de genuíno couro
em mesa de fino ébano
em sala climatizada
em enésimo andar personalizado e
directo
contarás as sete moedas

        canto para além do amor
        canto para além da dor
        este DEVER
               DIZER
               que o acordar
               cheira a flores de campo
               a terra chuvida
               a transparências de azul
               a calor de sol
               .que o erguer tem força de viver
               que o viver
               tem chama de saber estar e
               o saber estar
               tem a serenidade dos dias e
               a serenidade dos dias ou
               o adormecer das horas
               tem a chama de um outro amanhã
               a justificar o EXISTIR





christian martin weiss





epílogo




















"guerra ,GUERRA"





CANTO final






SENTI NAS MINHAS MÃOS
OS TEUS CABELOS
A ESCORREGAR
PELOS MEUS DEDOS E
O PASSEIO QUE ELES
FIZERAM NO TEU CORPO

A CURVA
DAS TUAS SOBRANCELHAS

A FORÇA
DAS TUAS PÁLPEBRAS

A FIRMEZA
DOS TEUS LÁBIOS

A SEGURANÇA
DO TEU QUEIXO

A DELICADEZA DE
TUDO O QUE SE SEGUIA

.FORAM BOAS

AS HORAS
QUE FICÁMOS A OLHAR
OS NOSSOS CORPOS

.FOI BOM
TODO ESSE TEMPO

E FOI MUITÍSSIMO BOM
TERMOS SEGUIDO
ATÉ ONDE NOS ENCONTRAMOS
HOJE






naoto hattori





o signo






quando o vazio
chegar
pintará de negro as palavras
.soltam-se
as amarras
em busca do significante

o princípio
o conflito
o fim






naoto hattori





engano






explorei em linha recta
a paridade minha e tua

               ( equívoco! )

comprovei a real dilação
que nos separa da lua






naoto hattori





Cantiga de algum Maldizer






numa cidade ao sul
há narcisos esquizóides
que se escondem
em estrofes de poesia diletante
onde regorjeam fantasmas
de pequenos
grandes
Eus

               sabes que aqui
               o tempo é sempre de passagem?





naoto hattori





a inveja






para lá das palavras e das máscaras
há solidões remissíveis
iníquas invejas
verdades omitidas
onde amora o medo
fora de cada um de nós

para lá dos actos e das ambivalências
há silêncios subservientes
onde nada se transforma ou
nasce
porque nada tem sentido
fora de cada um de nós

para lá das cátedras e dos doutos
há desertos permanentes
onde levitam
duendes
como anversos
fora de cada um de nós

são náufragos em viagem
sem direcção assistida






naoto hattori





alter ego






no princípio era o verbo               o ser
o tímbalo               e o cravo
belo
cavo
mas o iníquo conjecturar
o ágneo ajuizar
a
l
h
e
i
o
adveio
               l
               o
               u
               c
               o
quando
o sonho persistente
revestiu nossa presença
silente





naoto hattori





breves notas para um dueto






dói-me sentir o tempo
que não é mais um outro tempo
o tempo das coisas simples
ou de alegres madrigais
.dói-me ser no momento
não antes o nosso tempo
tempo do verbo vigente
ausente nunca demais
.dói-me não sermos sempre
o instante em que o tempo
é apenas o presente
de um adeus ou nunca mais





naoto hattori





espelhos convexos






quem somos nós que ousamos os deuses?
quem somos nós que tememos os tritões?
sofisma de mim
ausências de nós
fantasmas de ópera
máscaras sem voz

quem somos nós que adulamos os cógnitos?
quem somos nós que receamos o grito?
presenças errantes
silentes loucuras
imagens inócuas
vaidades obscuras

quem somos nós que niilisamos conceitos?
quem somos nós que silenciamos os outros?
espaços sem tempo
paradigmas do medo
sombras chinesas
torturante degredo





naoto hattori





regresso (im)possível






talvez um dia eu regresse
revestida de igual entusiasmo
na génese do nosso projecto
dual
.talvez um dia eu regresse e
reencontre a inocência
dos nossos passos iniciais
.a ascese
o onírico êxtase do silêncio
deixou em teus olhos
cansados
a dúvida endémica
com que vestes os madrigais
.talvez um dia eu regresse
para reescrever o poema
incompleto
na plenitude do nosso sonho
global
.talvez um dia eu regresse
para te dizer
quão breve
quão relativo
é tudo isto e
quão vazias são as palavras
.talvez um dia eu regresse
para saudar o sagrado
profano existir
do nosso devir
.talvez um dia eu regresse
para que compreendas
que já é tarde





naoto hattori





Cantiga de Amor






vem ,meu amor ,corroer o pensamento dos deuses e
fazer de seus desígnios
projectos invictos ,reais ,nossos
.vem brincar com os duendes e
construir imagens ,claridades

               ( o mundo
               para além do nosso quarto
               é uma construção bizarra )

vem ,meu amor ,recriar o infinito
levantar os olhos
brincar com as estrelas e mergulhar no mar
.vem ,de manhã ,ao acordar
ser o outro lado do sonho

a realidade





naoto hattori





Cantiga de Amigo






escrevi-te em surdina
versos brancos de um poema

               ( palavras/ausências
               falências/encontros
               revestidos de raiva
                              de ternura
                              incontida )

perdeste-o no lastro
esse poema só nosso

               ( escrito
               construído
               rasgado
               omitido )

meu amigo ,meu amigo
agora que quero
achá-lo e mandá-lo

               não posso
               nada digo





naoto hattori





(in)confidência






reencosto-me no teu peito
à procura de abrigo e
encontro-me nos teus braços
            protegida
quando me abraças e murmuras
            AMO-TE

nos lençóis que descobrem
os nossos corpos
toco o teu sexo
enlaçada
na fúria do desejo
            desp(edi)ida

somos
UM MOMENTO
            sublime
do encontro





naoto hattori





elegia ao amor






um traço     um abraço
esquema     verso     poema
( criança     volume     espaço )
o mar     o amor
ausente     presente     sempre






naoto hattori





epígrafe


















quarta fase

"LECTOR IN FABULA"





...






...
...



agora
entendem a pateada



...
...





désirée dolron





...






( lugar à multidão que comenta
              quando
se ouve a voz do POETA )





hoje
não
.podem bater à porta que não respondo
.hoje
é tempo
do entendimento entre homens e bichos

venham todos amanhã
mas hoje
não
.hoje
podem bater à porta que não respondo





désirée dolron





...






anoitece
exactamente na noite




( no poscénio aparece
              uma mulher de negro )




se os ratos vierem
não os deixem roer
              tudo
.guardam as palavras
              e
construam cidades

porque
o sol
nunca será um palhaço de luz





désirée dolron





...






entardece
exactamente na tarde




( procura actuar a consciência )




              um relógio de mesas velhas
              comenta
              com um jornal de cinema

viver e ser coerente
querer e saber ser livre
( nas grades do tempo
              não
destruam presenças
              mas
respeitem as reticências )





désirée dolron





...






amanhece
exactamente na manhã




( em cena uma criança ,só )




dentro de mim guardo o sol
trago na boca o livro e o rito
traduzo a incerteza do Universo

não acreditam?
pronto
já sei que não sei desenhar





désirée dolron





...






localização cénica


uma província
               ( sem espaço )
uma cidade
              ( cansaço )
um café
              ( devasso )
uma casa
              ( sem aço )



...



              ( que entrem os actores
e
representem
no palco da VIDA )





désirée dolron





...






actores



um relógio
um jornal
uma mesa
um café
um cinema
uma criança
uma mulher
uma consciência



figurantes



uma multidão
(in)
satisfeita
(que)
gesticulando
age





désirée dolron