poeminha nº 50






que dizer do fim
se o agora se arroga

mais distante
.

também no lado oposto
do tabloide

o espectáculo
escusa-se
.

tão efémero
quanto






christian martin weiss





poeminha nº 49






o não expectável no a-fim do excesso
declaro

apenas o abutre e o verme
reconhecíveis
.

no a-braço a mim
só o sujeito

sem predicado










poeminha nº 48






agasto-me em doce repasto
assente o fastio
.

e reparto lisuras
em oráculos futuros






csaba markus





poeminha nº 47






escasso fluido sob a fiança do tempo
é o que somos
.

depois
carcaças e brasas e
pó .casca pútrida
.

do instante a semente






christian martin weiss





poeminha nº 46






por arrasto bastamo-nos
no significado aparente
do risível
.

convergências à parte






dascha friedlova





poeminha nº 45






eram mais as diferenças
talvez o despojo

das sílabas conVexas

e Fénix .antes Diana
.

o ventre infértil

das prosas
o melhor dos versos







csaba markus





poeminha nº 44






foi corpo e texto e voz e ossos
inquieto deslize

aqui a passagem e o tempo
.

além o precário .a ausência
.

após a fissura






christian martin weiss





poeminha nº 43






esfacelada
em esquecimento
bárbaro
.

a obra
subverte o tempo

no escalar a escrita






csaba markus





poeminha nº 42






sofrente em demais

in.quieta
em de-menos
.

breves sinais
da demência ao largo






dascha friedlova





poeminha nº 41






abri a página .fechei
o livro

Ora Esguardae
.

devolvido o tempo
das convulsões
ou tão simples.mente
.

o salto






christian martin weiss





poeminha nº 40






suadas as loas
ao des.mentir o chão

o som e o silêncio
.

o fogo e o tempo ousados
num a-deus já louco
.

o segredo retarda

a manhã 






christian martin weiss





poeminha nº 39






o reflexo
atém-se nunca mais
igual
.

e tu invades de novo

a nascente






csaba markus





poeminha nº 38






perdido o nome sob a aparência
da morte

o ventre
ou a explosão da lira
.

agora o espaço
.

o simulacro depois






christian martin weiss





poeminha nº 37






entranha-se o acesso
mortífero devasso e rítmico
.
talvez o longe

as Tágides






csaba markus





poeminha nº 36






um dia o galope .o trote
depois
.

o paradoxo redime
do equino a deixa
.

e os lábios sorriem
à passagem

no regresso a casa






christian martin weiss





poeminha nº 35






derrapagem louca
na abordagem da noite
.

tudo o mais é fado
no esquálido após






csaba markus





poeminha nº 34






a memória
meneia-se em gesta
.

esgrouviada de.mais






christian martin weiss





poeminha nº 33






abrem-se os nomes
o veto e
encosta-se o ultraje
.

à pressa






christian schloe





poeminha nº 32 ( cont. )






a terra aberta
em vento
.

de.mais
o arranhar a morte






csaba markus





poeminha nº 31






gesta-se a trova
na devastação
.
em der.redor Diana






christian martin weiss





poeminha nº 30






na vadiagem
a vocalização dos nomes
soletram
.
o embaraço de
mudar o rumo
.

assim a ave
previsível no seu contrário






csaba markus





poeminha nº 29






dou voz ao argaço
.

perco-me
em vaias e brados
.

no alvoroço
que é néctar
ao levantar a âncora






christian schloe





poeminha nº 28






cada vez menos eu
húmus seiva seda ou o segredo de haver-se silêncio






csaba markus





poeminha nº 27






apraz-me o silêncio
.

apetência de ave
ou coifa de tempo
.

ao longe
a confluência dos rios






christian martin weiss





poeminha nº 26






os corpos-febris
especulam em abandono
.
a festejar golpagens

inspiradas expiradas
transpiradas

na bravura dos lobos






christian schloe





poeminha nº 25 ( cont. )






afastam-se
de.sencontrados na
aridez dos segredos

os silêncios
.
reservados em
memórias fugazes






christian martin weiss





poeminha nº 24






deslizam pelas páginas
a queimar
instantes

os silêncios
.
hidrófobos e espúrios






désirée dolron





a crispação de um toque a-fora o Ser









de novo ,com a chancela da Editora Lua de Marfim ,sairá ,em breve ,um outro livro ,desta vez ,uma láurea a Maria Gabriela Llansol .se a ela agradeço a exigência na aventura da escrita ,a sua edição deve-se a um conjunto de pessoas a quem estou muito grata .assim ,o meu bem haja:
à Maria João Cantinho ,pelo seu Texto-matriz ,excelente apresentação do livro;
à Inês Ramos ,pela magnífica concepção de capa e pela paciência e rigor na paginação;
ao Paulo Afonso Ramos que ,como editor ,continua a acreditar nas minhas palavras e a presentear-me se ( pensa que ) eu mereço

a todos e ao meu "a crispação de um toque a-fora o Ser" ergo um cálice de "Sercial Madeira" ,de lavra familiar ,logo ,bem especial






um novo projecto individual na forja






Texto matriz - agora-a-memória .agora o sopro
 da face impressa sob a derme .depois
 o canto-do-cisne em resguardo-amansado
 pelo medo .depois um rasgo de vulgaridade


Se uma paixão pudesse dizer-se de Gabriela Rocha Martins, essa seria a da memória. Não só como exercício poético, mas como modo de guardar o canto possível, que atravessa a sua poética, em particular esta obra. O tempo que se guarda nas imagens, essa “crispação de um toque a-fora o Ser”, que dá título ao livro, é um mote ou antes uma matriz que se inscreve na escrita da autora. Desenha-se nesta cartografia um compromisso que, mais do que radical, exige a fixação de um lastro poético, de uma configuração de pontos cardiais que traçam o caminho do sujeito poético. Por isso, ela nos diz, nesse compromisso de imortalidade, que marca o arranque do livro, assim: a metáfora estigma-se no lastro/ dos Poetas/tão de manso”. A clareza do propósito enuncia-se na primeira estrofe do poema, aludindo a um legado poético que tresluz na metáfora, mas que é simultaneamente estigma ou cicatriz, e em que o poético emergisse como sinal de santidade, na esteira da poesia mística de D. Juan de la Cruz. A ideia de que o poético é também uma ferida essencial, intacta, como disse dela António Ramos Rosa. A que não se fecha, revelando a impureza do corpo, mas também a da própria linguagem, reflectindo essa contaminação essencial do sujeito que se implica ele próprio enquanto matéria poética.
Nada disto parece ser alheio à poética da autora, que assume referências explícitas e que se enovela com a escrita de Maria Gabriela Llansol. Dela é herdeira, sobretudo no modo como trabalha e opera sobre a linguagem, sem, no entanto, se colar ao texto llansoliano. É, antes de tudo, uma inspiração sobre o seu próprio texto, como lastro que confere ao poema essa espessura intertextual. Por isso, Gabriela Martins refere esse “engodo gradual”, essa urdidura que o silêncio tece na matéria, em jeito manso, mas que subverte e suspende as palavras, que as empurra contra o banal e desfaz os elos da sua familiaridade. Comecemos justamente por aí: a sintaxe, que “desarruma” a sucessão e a linearidade habitual de uma frase, levando-nos ao consolo da identificação. Versos cortados, deslocamentos sintáticos, arrojos de quem não se contenta com o verso simples e claro. A clareza, ela sim, há-de vir de um outro qualquer lugar, como uma irradiação ou uma luz imanente que nasce da metáfora. A imagem transforma-se no retábulo do tempo e da memória, em modo coagulado de Ser, como “crispação”. Esta, como sabia Llansol, jorra disso que é a “imagem-fulgor”, conceito que labora de forma latente nesta poética. Quer-se a crispação dos sentidos para que o poema seja mais, muito para além disso, que o mero exercício e jogo de palavras inócuo. A crispação nasce do avesso, já lá iremos, do adverso que suspende o óbvio e o cliché, que suspende os sentidos habituais do poema. Nasce a crispação desta outra forma de cindir o verso, de o cortar, pela pontuação inusitada, os pontos antes das palavras (ou as vírgulas), obrigando o olhar à suspensão. Porque o olhar acaba por tropeçar no ponto que antecede a palavra sem explicação, obrigando a um gesto de respiração outra, um novo modo de olhar para o alinhamento do verso e do seu sentido.
Como no poema da página 16, “Encontros com sabor a terra”, “(…) leve/. Sussurro brando arquejante brado/em adiada espera” configuram um novo ritmo a um poema que teria uma cadência fluída, não fosse a desinstalação provocada pelo ponto, obrigando a uma paragem forçada, a um silêncio e a uma suspensão da respiração, antes desse “sussurro brando”. Erótica alusão, na minha leitura, nesse poema que alude à presença da mulher e da sua nudez, na noite, ele impõe a paragem, provocando o efeito de crispação. Poema onde também se fala da mutilação de corpos, remetendo-nos para uma outra crispação, já não amorosa, mas a do seu inverso, a do ódio.
Se a ideia de crispação atravessa a obra de Gabriela Rocha Martins, ela ganha uma outra dimensão, não apenas a da imagem que coagula o instante, mas a da própria linguagem, subvertendo o poema através de deslocamentos sintáticos, que sacodem os sentidos habituais e os clichés, recusando o sentimentalismo de muita poesia contemporânea, operando por corte e suspensão, utilizando como recurso a pontuação como técnica de corte e da própria crispação da linguagem. Sob o signo da escrita de Maria Gabriela Llansol, sabe que a crispação da linguagem no poema se arroga o gesto de suspeita a tudo o que é familiar naquela, que não provoca o arrepio dos sentidos, face ao excesso que constitui a própria linguagem e que não é dizível senão no silêncio de uma outra que há-de vir. O poema é o espaço do porvir, dessa imanência que se reclama no jogo da inocência do ser. Donde as alusões à demência de Hölderlin, no poema da página 25, como essa experiência-limite de revelação da linguagem. Porque, mais do que indigência, a poesia transporta a possibilidade da revelação do ser, esse que nos aguarda na clareira do silêncio. Dessa crispação que advém de um toque e de uma contaminação do Ser-Revelação, nessa estranheza essencial e espantosa que percorre o mundo em canto celebratório. Como um magma irresistível e que acontece no poema.


Maria João Cantinho






mais uma vez ,com a chancela Lua de Marfim





poeminha nº 23






um prolongamento
.

uma flor-vermelha ao devasso
autofágico e
morrente

verga
.

a mão do mestre-escritor






dascha friedlova





poeminha nº 22






um rasgo de verbo
prolonga-se em entendimento
.

tarda na esquadria
da mão
.

desenhado um lugar menor






csaba markus





poeminha nº 21






os misantropos
.
memórias de corpos
-híbridos inserem-se na

embriaguez dos
códigos

in.complacentes
.

são vulgares






christian schloe





poeminha nº 20






na reserva
do esquecimento declinam-se

golpes-de-asas
dúplices e viscerais
.

regorgitam vagas
em remissões-sacrificiais






dascha friedlova





poeminha nº 19






alguém profanou a epifania em tempo
de omissão
.

quando os corpos adormecem a
espurcícia lacera
a geometria das memórias






csaba markus





poeminha nº 18






cavo o silêncio
em passos des.alinhados

em revezes
.

a desordem
flutua

admitida como divagante






dascha friedlova





poeminha nº 17






invento o tempo
num corpo que transpira

ardência
.

o respirar da pele
acontece de.pois






christian schloe





poeminha nº 16






soltam-se recados
lonjuras ou
vértices de um a-deus tardo
.

o atropelo-frívolo ao des.fazer o até






csaba markus





poeminha nº 15






cartas soltas
.engodadas
em folhas exíguas de papel
canso
.

como o cansaço em desafio 
e jogo






christian schloe