no calendário das horas mortas





-darren hopes





*
o primeiro dia de Outono
  
des.aferra
as palavras vacantes 



folhas lançadas ao vento





-ans markus




*
quedo o desfecho de um remanso
promíscuo em
resguardo de hora .minuto ou hora

acerbos

.invenção de ritmos
deixada no mastro atado à cintura
debalde o confronto
o in.oportuno que estala

.a folha omitida deixada ao relento
o brado cansado
esquecido
em aviso

*
não morro na morte

em devassos momentos .sem preço
.tecendo cansaços



re.escrevo o regresso dos mitos





-donna acheson juillet watercolour




*
morta Inês ou Helena
no mito ressarcidas .o sobressalto das
mulheres amadas a ferro-e-fogo ou

dos juízes-de-dentro o sentido proibido

.âncoras de desassossegos onde o langor
se contém como rasgos de fascínio em
corpos desassombrados em pedra .Pedro

despojo de alazão .momentos idos na
História
*
em concha úbere .em grego antigo



um adeus a Helena





-darren hopes




*
nado um adeus
à Grécia volvida

.rastos de lenda
na esquivança

.trocam-se amores
.des.amores de filhos em homens
amantes

*
.do sémen o mito .de Teseu a Aquiles
a névoa que rompe o sangue
e as armas .dos guerreiros

o saque
cifrado na trova


frente aos muros de Tróia





-barré thierry




*
ontem Helena
oráculo derramado em guerra
com os deuses a vozear o corpo
amado

.leoa-faminta

mulher-desejo

que a lenda teceu desafiando o Tempo

.ontem Helena
vertendo em sangue o riso dos mortais
amante desafiando as Fúrias na
cumplicidade do a-mar a cinco

*
hoje Helena
cavalo a céu aberto
mito do belo a desfazer silêncios

.mulher exorada num canto in.sano



naufrágio sem pré-aviso





-ans markus




*
vendaval descalço
em silêncio e hora
navio coroado de
desejo 

.um som vadio

.gestos maduros

.despem-se
as areias em pleno
Verão
num sussurro
semeado a esmo 

*
ao ouvido dum
vagamundo ousado
recolhe-se um
bem-querer

esperma bravo
em maré-alta



o grito .o silêncio e eu





-deangel




*
apraz-me um pouco de luz e
o acinte dos cantos

corolário maior
no chilreio das aves coifado em breves
procelas

.ciclo egrégio de sons

.silvo da serpente

*
.da voz sibilina
medram as variáveis de um ciclo profano
onde os gritos se perdem na confluência
dos rios

o ponto final do embuste



a transpiração da escrita





-jenny terasaki




*
escrevo devagar para que os caracteres
tinjam de cinza o papel

e os corpos febris
adormeçam no mutismo quadrado

*
amanhã
o acaso festejará os fantasmas golpeados
em tempo de repasse e

o velho caramanchão exsudará láureas pelos
galhos



ébria vertigem





-federica erra




*
bebo-te
como um vinho quente que escorre pela
minha garganta enquanto as nossas bocas
se despedem na penumbra 



na dormência do Inverno





alexander dolgikh




*
às vezes apetece-me ser poeta
resisto à provocação da palavra e requeiro o silêncio 



epígrafe






láurea a Alexandre O´Neal




















( Comecemos sem mais delongas, prima,
ó volta e meia prima pobre, rima,
que a questão é simples: a poesia
dum tal…

…vai bonita a pretexto de autocrítica… )
-Alexandre O’Neill.


mareja o cansaço inserido em outras

grafias
-Gabriela Rocha Martins






ii-





-yvonne jeannete karlsen













ii-  sobram Outonos às palavras



ide .a liturgia acabou





-ans markus




*
não tenho nada a acrescentar
a não ser um pouco de azul ao sol e de
vermelho à lentidão dos passos que crescem em itálico



será possível a reparação dos estragos?





-anna berezovskaya




*
um balouçar no vento procura silenciar a voz do falo
enquanto a dança das equações tece o manto
de Ariadne onde os arcanjos encenam
o funeral das Bacantes e os
cáusticos mortais
embebedam-se
cobertos pela patena
do verbo .tudo se consome
ou traduz num gesto casuístico
quando de novo as mãos se sobrepõem
à ausência e deus abandonado num logro (con)sentido
volta a semicerrar os olhos permitindo à Poesia a reparação

dos estragos



com a respiração suspensa pela brandura da tarde





-jake baddeley



*
ao fim das tardes de estio
acordo com uma angústia nas mãos
e uma vontade – única – de transformar
tudo e todos numa história alimentada por
areias paradas no tempo .nada as agita a não
ser uma sombra de vento suão que nos faz sentir
invasores .as ondas quietas ou agitadas que outrora
povoaram o meu imaginário guardo-as para outras es
critas mais ao sabor da brisa que não ousa fazer parte des
te cantar de livro em pousio

*
o fogo ínvio da fantasia respira sob um escadote esquecido ao sol



a brincar se assentam verdades





-jeannette woitzik




*
houve mãos que moldaram um esboço
outras que tentaram escondê-lo na garganta
das víboras e outras ainda que o arremessaram ao
esconso da escrita .ninguém soube sentá-lo no sofá da sala
onde o editor havido no acórdão de assinar o consentiu como aspirante
ao nobel da literatura .na errância das chamas alvitram-se tempos de arrecadar tijolos



cantata de profundis





-hendrick ter brugghen




*
silêncio mole este que se anuncia breve
desconstruindo a construção do Ser
sibilante .o sorriso das magnólias
subjaz às ravinas de um acento
de gente .desnuda-se o canto
no oscilar da carne e um
parecer difuso agasta-
-se célere na canta
ta do ómega

*
mudo o beta