de mão em mão






daniela ovtcharov






*
se me fosse águia
mão pousada

sobre o ventre

tomava o atalho
como caminho

ao arrepio
do sol poente

.depois
seguia a norte

o pelicano
cujas asas abrasaram
o meu olhar

e deitada na ara do templo
insinuava

uma prece vesperal
ao acordar





de mãos dadas com o vento






daniela ovtcharov






*

ágil
como o voo do pardal
a minha mão
desliza

sobre o papel

.afaga-o
como em seda

enobrecido

enquanto
na minha mente

o poema
urge

de mal comigo





lugar de assombro






daniela ovtcharov






*

não tenho gosto
para olhar o vazio

quietá-lo
na in.certeza gasta
que me cansa

avassalar-me
ao verbo
se me tenho
presa à torpeza e ao engano

sei-me
na sagacidade
de meu mister

um lugar de assombro

.é quanto basta





verso a verso






daniela ovtcharov






*

um pouco mais de luz
talvez Inverno

um pouco mais de cor
talvez Verão

e tudo
mais se quebra
- verso a verso –
num bater de asa

rente ao chão





em derredor






daniela ovtcharov






*

chegas tão de manso
ao meu redor

Poesia

trazes contigo
marés
ventos
outros sentidos

e pousas
sobre a toalha de linho
que cerzi

um rito aberto às intempéries
e um verso agrilhoado

- são argúcias
,meu Senhor -

assim desdigo