va de retro ,Satanás!





yefim shevchenko




*
curioso
muito curioso o modo como as coisas
mesmo as mais comezinhas funcionam
*
numa primeira abordagem
quando o inesperado me apanha de
surpresa deixo-me aprisionar por uma
série de fantasias que vou construindo e
destruindo conforme os gestos
que me são dirigidos e o estado de
espírito mais propício
*
imagino realidades para no momento
seguinte ficcioná-las e visiono factos que
nunca ocorreram ou ( apenas ) se passaram
na minha imaginação
*
deixo-me subjugar
pela ternura sem descodificar
os signos ou crio ficções que no
i.mediato sou forçada a abandonar
*
sofro por antecipação quando o ritmo me
obriga a inscrever notas suplementares
numa música que só eu me apercebo que
chora e difícil.mente me convenço dos jogos
e das longas viagens em que alguns se
inscrevem

*
se desafio as Fúrias
cedo ou tarde elas voltam-se contra mim
razão porque vou pingando sentimentos
até que a cumplicidade se desfaça
num golpe de pura prestidigitação

*
não me
arrependo de ousar porque chegado
o momento em que a verdade se solta ao
encontro do mundo o mesmo se desfaz e o
riso que outrora foi música veste-se de panos
vermelhos esvoaçando ao sabor grato do
vento

*
destruo do sobressalto inicial a beleza
que só eu sagrei e rumo ao in.dizível para no
estertor selvagem do perfeito entendimento
recuperar a paz assentando poeiras e
porque superior.mente abençoada por Sophia
ironizo

*

-va de retro ,Satanás!

em destaque ....






Ausência de uma Poetisa presente!...

Notada que é a falta de Poemas recentes, ainda que nunca a falta de Poesia no "cante.chão", espero que tudo esteja bem com a Gabriela Rocha Martins!...
Aguardo novos Poemas e inquietudes poéticas!...

Abraço,
Pina A.


tudo tem um preço .até a ironia





darren hopes




*
não gosto de
escrever sobre banalidades -
- juro-vos – e sou tão elitista que fujo
de quase tudo o que seja vulgar ou
normal .não acreditam?
alguém ousou escrever sobre unhas?
que prosápia!
sobre pés?
que despudor!
*
focalizemo-nos em algo
superior e que se articula na memória
descritiva do corpo humano
isto é
falemos do joelho
dois seriam demais dado que o
mimetismo obriga o hemisfério esquerdo
a movimentos quase sempre similares
ao direito
será?
*
no que toca à lei dos opostos e como
corolário de uma equação matemática
quando o joelho direito se projecta
para a frente o esquerdo como seu
contraditório flecte ou mantém-se numa
posição neutra
*
como o ser humano que o suporta
o joelho derrama sinóvia quando se
quebra e perante uma dissensão ou
dor foge ou deixa-se emparedar pela
artrose

*
no limite da agressividade
permitida ao coito inflecte em puro
êxtase enrosca-se ou distende-se já que
ao joelho exige-se acção e não conversa
fiada
*
as palavras ficam guardadas para
a conjugação do verbo emaranhar porque
entre o joelho e o coração onde o amor
se bomba reserva-se tão só a distância
mensurável pelo cartão de crédito
que lhes serve de tala ou válvula



sorrio ante o paradoxo das unhas





darren hopes




*
falo de mãos de dedos e nunca de unhas
*
é tempo de eternizá-las .de transformá-las
nas farpas que rasgam os desenhos ou
nas garras que cortam as palavras
*
as unhas
esses orgãos que quando obscenos se
colam à pele e nela se abrem ao amor
rasgam texturas em movimentos alterados
conforme o ritmo ou quedam-se caladas
doces ou amargas brancas ou amarelas
fumadoras ou ínvias enroscadas à mor
talha do cigarro fumado após o cio

*
simulacros finais dos dedos deixam-se
encravar sozinhas ou acompanhas e riem-se
riem-se
perdida
mente
da morte quando desfloradas pelo corte

*
tresloucado da tesoura



entre desvarios equações e símbolos





igor voloshin




*
sob os auspícios divinos sub.jaz a vontade
de ultrapassar os limites do verosímil
*
como a  loucura de alguns não basta
forço-me à volúpia de um encontro com os
Outros ou a um passatempo de
perversão
*
lembro-me de ter pedido a um ra
paz de camisola vermelha - não é indiferente a cor   
- que me deixasse um pensamento sobre a mesa
da cozinha
esqueceu-se
como eu me esqueci de assentar as dúvidas que
ficaram após a sua saída
absorta como estava em entender o raciocínio de
um primeiro ministro que se suicidou esganado
com os desvarios as equações e os símbolos
*
dizem-me que estou enganada
estarei?
se o dito não se suicidou ( então) foi o diabo
que se esqueceu de experimentar-lhe a prótese
encomendada no tempo das
soluções que foram surgindo na sua cabeça
de primata
*
tento resistir a este círculo de sombras já que
entre mim e o rapaz cresce uma certeza que se avoluma
*
é necessário serrar os cornos ao demo antes que
este nos devore os ossos
*
sonho - a três dimensões - com o teorema de Pitágoras