novas roupagens e velhos farrapos





josé rodrigues





*
re.conhecer a rota de colisão não é fácil
*
nada fácil
*
muito menos quando esta coincide com
sinfonietas sem arrojo ou instantes cravados
nas sílabas voláteis do tempo
*
este deixa de satisfazer-nos
*
insere-se no sub.consciente
tendo o absurdo como sinónimo de uma outra
exigência
*
é o tempo das rosáceas
aprontadas para o festim

do texto
compactado entre um cabeçalho e uma nota de rodapé
 *
de manso tudo se transforma num dulcíssimo re.fazer e
a Língua impõe-se ao ponto final numa singular
forma de enfurecer o canto

*
regresso ao sintagma nominal



um pouco de reflexos temperados





george christakis




*
expludo em opacidades
.um modo casuístico de aderir ao vazio

de deixar a nudez como exercício
*
um precisar a penitência
na boca dos Amados .um resto

de seriedade é quanto basta

*
.do mar os ardis regressam em envelope
e os peixes cospem o sêlo à laia de despedida

como testemunho de casual.idades



na evidência do que me obscurece os sentidos





josé rodrigues





*
estupidifico sob o efeito narcótico do vazio
*
uma enorme mancha ergue-se entre o que
a minha visão observa e o que não me é dado
ver pela não vontade
*
tudo se identifica ao nada
e o nada passa a ser a minha coordenada principal
*
sinto-me presa num casulo e a hesitação
passa a ser o denominador comum
*
não penso
*
sou um ser
que oscila entre a razão e a in.sanidade pronta a devorar
os minutos que o tempo deixou por herança
trágica ou in.cómoda
*
passo de
vertebrado a in.vertebrado na mesma velocidade
com que os meus dedos  se projectam sobre
tudo o que estiver ao seu alcance

*
torno-me
um ser ondulante e a minha cabeça cresce na igual
proporção dos membros
*
enrolo-me
*
des.enrolo-me e rastejo
*
sem rodeios avanço em
demanda do urgente e quando me volto
não sei onde me encontro
de que lado estou

*

algures perdi a chave de mim



poemo-me ao des.barato





annie leibnovitz




*
na equidade do verso assumo a linguagem
- lume húmus ou matriz -
do dogma in.decifrável

*
.à parte
um encontro amargo-e-doce



presa à migração das palavras





josé rodrigues





*
guardo a respiração com a sofreguidão
da leitura
*
quem me conhece dirá que a seguir fixarei
a minha atenção às árvores ou àquela mulher
que se despe no meio da rua afogueada
pelo calor
*
será com uma militante devoção
que escreverei a mulherem itálico enquanto
procuro no café da frente olhares
sem juízos de valor
*
construirei um lugar
fictício na fronteira entre os
que por ela passam e os que nela se demoram
para reinventar um País
onde se possa entender a força de
quem escreve e a alegria de quem lê ou
de quem permite que as palavras se abusem
sem pagar tributo
*
absorta na litania
voltarei a cabeça para que a mesma se
entrelace ao zelo

*
depois e só depois fecharei o punho à altura
do queixo e quedar-me-ei
entre a in.certeza
de dar forma à respiração do texto ou de
atirá-lo para o caixote do lixo



desistência a quatro patas





boris indrikov




*
não tenho paciência para as lagartixas
avezada à estultícia dos asnos