tenho fome de memórias




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depois há aquele momento
em que as máscaras caem
.desnudam-se as faces e
nauseabundos os ossos oscilam entre veredas
colcheias e colmeias
.dançam ventos e tudo em derredor 
.fauces e grifos esquivam as molduras e
descem as escarpas rumo ao esquecimento
.cai-lhes de susto as guedelhas
.alimentam-se as pantominices
comprados os galhadertes
com aviltamentos
.os reptéis sugam-se em conjugações primárias
.são réplicas avulsas e autoproclamam-se
primas donas de uma ária por escrever
.porque o rei vai nu
.a rainha escondeu os artefactos mais raros e
à luz crua das velas o palco enche-se de roedores
aptos a abocanhar o incómodo
.esconjuro de monja ou letra morta de um peditório
a que cansei os laudos
.caio a pique e senhora de uma viagem
ao interior de minha irmã-águia
sugo-lhe o sangue com o qual escrevo
.de quando em vez re.invento-a em texto
exímia na arte de enxotar o lixo
.apresso a guilhotina
.e tenho fome de memórias






angel cestac