consuelo arantes
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às vezes
quando o meu corpo se enrosca no velho caramanchão sinto o deslizar do sangue-água no bailado das borboletas
às vezes
deixo-me empurrar pelo vento e nesse rescaldo de Ser consinto que as palavras me açoitem
às vezes
um ninho de víboras espreita-me no lugar-sagrado e eu digo que não sei porque canto a fonte
às vezes
as minhas mãos exibem tatuagens enquanto cansada de resistir me consagro à epifania da deusa
às vezes
entregue à delinquência deixo-me aquietar na morrinha dum dolce fare niente
às vezes
quero-me entre um staccato ou um vibratto na volúpia de ser um compasso de espera
outras vezes
dirijo-me em direcção à distância
efabulando alienações com um copo de água na mão