o prémio






consuelo arantes






.
.

apago a luz e vejo como a tua figura incandesce ao mesmo tempo que o teu nome se estende nas sílabas perpendiculares .as letras com que te inscrevo arrastam-se em frases e rolam como um flúmen .conquistas-me na heroicidade com que te despes sem pedir qualquer re.conhecimento .o teu gesto perde-se na vulgaridade e a luz-iniciática encarregar-se-á de mostrar que os discursos nada têm a ver com a ciência-errática com que dissimulas o saber .abres-te e fechas-te .esqueces que tudo nos é emprestado e que só cresce quando o alimentamos .estendido no limite fronteiro ao quarto e resguardado pelos préstimos-nocturnos metamorfoseias-te em árvore .estendes os ramos ao encontro da seiva que escorre sem esquecer a promessa in.adiável e que não se cumpriu .desfazem-se os mitos no primado de um juízo e tu vacilas .fraseado .os actores atropelam-se e no cansaço de um orgulho conjugado na primeira pessoa des.fazes o deliberado porque o dia é demasiado evidente para ti-ancião-das-almas

Longe,
pede perdão ,comovidamente ,sôfrego e perdido,
sobre o teu corpo como um rio fechado*

a chama apaga-se .o aprendiz sabe que não sabe e remete-se ao esquecimento das letras assumidas na horizontal .é esse o seu prémio





________________________________________________

*Manuel Gusmão