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amanhã é dia de custear o desprezo e
colher os miosótis no resguardo das mansardas
.amanheço subo as escadas e arrumo os dedos
nas paredes da casa
.uma casa onde assento retalhos e guardo os olhos
cegos pelas uvas vermelhas do des.encanto
.amanhã limparei o rastro de muitas línguas
havidas em contravenção e acenderei a cal
com o tapete de malvas que o quintal
guardou para a viagem
.vigio o gato da vizinha que rasga
os miados a conta-gotas
.guardo-os em restos im.previsíveis e
admiro o regato que lambe o tapete da sala
a fim de omitir as imagens que fingem competências
que não lhes compete
.desligo o absurdo
.a casa está fria
.fecho-a num envelope azul e endereço-a ao remetente
.deixo-a vazia de fantasmas
.amanhã é dia de fazer as malas e
de apagar os semáforos
marina podgaevskaya