josé rodrigues
*
decôro intimista o do velho que se
senta sobre a vertigem da idade
*
um par de asas abertas ao desalinho
ou o abismo (con)sentido
a esmo na angústia dos dias
*
perto da lucidez a loucura deixa
resquícios de humidade e do velho a
sapiência embrulha-se nos andrajos que
lhe servem de bengala
*
nada vende
nada pede
*
secam-se as lágrimas na aridez
vergado pelas feridas dos anos
*
um olhar vago
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uma mão que se estende ao bom dia ou
a uma rabanada de vento
*
na saca um
pouco de futuro fruto invernoso do passado
e na boca o sorriso parado a
inventar in.tempéries
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senta-se frente a
um monólogo sussurrado e descalça devagar
as sandálias cosidas com as cores do arco-íris