"Polis" - a perene dialéctica entre o sim e o não




numa conferência de imprensa sobre a crise da humanidade europeia e a filosofia proferida em Viena em Maio de 1935 já Husserl defendia que "o fenómeno original que caracteriza a Europa ,do ponto de vista do espírito ,é o aparecimento da Filosofia enquanto ciência universal ,ciência da totalidade do mundo ,da única totalidade que engloba tudo aquilo que existe"
.esta afirmação de Husserl constituiu recente mente tema para conversa dum grupo de amigos .e não foi por mero acaso que a dado passo me senti presa às palavras de JCA não para especial mente destacar o papel que a Filosofia tem desempenhado - matéria em que me não sinto abalizada - mas para sublinhar o facto da Europa mais do que o aleatório resultado de transformações económicas e políticas sempre ter vivido da adopção de um conjunto de valores que a abrem para o mundo a tem fascinado perante o que é diverso e lhe dá por horizonte a noção própria do todo
.esta noção de que a Europa não assumirá o seu rosto específico enquanto a perturba o fanatismo é o bem mais precioso e que hoje terá de ser partilhado por todos os que acreditam na necessidade de consolidação de uma Europa una na especificidade e diversidade de cada Estado
.se estamos destinados a ser alguma coisa então teremos de ser capazes de realizar mais do que uma mera comunidade económica ou uma simples união política
.teremos fundamental mente de compreender que a Cultura quando fechada em si mesma é a forma que mais se aparenta com a morte
.para o evitar há que harmonizar o circunstancial e o eterno mas isso só se tornará possível quando em todos os Estados se esbater a vertente individualista e neles se reconhecer o desejo universal de um mundo em paz consigo mesmo
.estas considerações admitidas num contexto europeu logo generalizante - e tema de uma conversa de amigos tida algures - aplicam-se igual mente ao micro-cosmos chamado Portugal e mais concreta mente a Silves a nível da sua comunidade
.ou seja só será possível harmonizar o circunstancial e o eterno excluindo o banal e o supérfluo quando se esbater a vertente populista e se reconhecer como verdadeiro o desejo do homem enquanto ser gregário e não apenas social de paz consigo mesmo
.só então é possível viver em comunidade e perceber a comunidade
.processos em que no mero acto de projectar e governar - como aprendizagem - a permanência e a ruptura são comportamentos/conhecimentos complementares e autónomos que na consolidação da integridade significam a revelação de um lugar - Silves - contra a indiferença desse mesmo lugar
.caminho árduo em que a itinerância da razão entre o circunstancial e o estrutural envolve um sistema de dialécticas múltiplas - o permanente e o novo o universal e o particular o erudito e o popular o bom e o mau gosto o bom e o mau senso e as formas e os padrões seus referentes
.deixemo-nos de metáforas .falemos das obras do "Pólis" por exemplo em Silves e em Guimarães
.Guimarães ou a superação dos limites da ordem historicista .a atitude do novo que se configurou na beleza e oportunidade onde a concepção das obras se manifestou como um princípio e uma "praxis" entre a expressão das novas técnicas e a ordem interna que a própria cidade berço caso a caso pré-estabelecia oposta total mente à complexidade aos esquemas e às soluções propostas para Silves
.e assim Guimarães aparece-nos como um universo de experiências heterogéneas como um legado de modernidade de bom senso e bom gosto que mantém o seu fluxo sedutor o seu poder de entrega a sua capacidade de insinuar e de resolver a compreensão intensa da cidade
.Guimarães ou a emoção da visualização .a beleza
.Silves a tristeza da ausência
.é do facto de "não vermos" ou de "não merecermos ver" que nasce a melancolia cultural
.ela já o escrevi num outro tempo e neste mesmo jornal existe e não pode ser vencida através da miragem de espelhos alheios .é um assunto de cada um de nós
.quando resolvido o resto ser-nos-á dado por acréscimo