day after//verdade ou consequência




reservou-se para o fim para as palavras finais que sabia de cor .sentia o gosto de desconhecer a fronteira entre o verdadeiro e o falso .mas a evidência dos factos estava ali nas respostas devolvidas ao remetente .assim havia sido acordado no ajuste do day after e ela não faltaria ao encontro

não .a cabeça começou a rodopiar e prefiriu-se em outra pele .passou à velocidade de um quilómetro como se nada tivesse acontecido .o silêncio havia criado um abismo intransponível como exigência das contigências ou contigência de muitos equívocos .não sabia e não queria saber .do outro lado as palavras haviam-se em demasia .vazias de conteúdo repetidas e tão iguais....preferia o silêncio e o não falar passou a sinónimo de não haver .mas o não haver também podia ser tido como desinteresse .então? nada .deixou o carro rolar ao acaso certa de que haveria de chegar a algures
.jamais a repetição de um logro

o relógio recordava-lhe o tempo sem tempo que havia encontrado para sua usufruição e porque se sabia sem tempo protelaria o compromisso assumido algures .se por um lado não gostava de faltar a compromissos muito menos gostava de ser usada ou manipulada .a utilização deixava-a incomodada e sabia-se contra toda a espécie de imposições .às vezes tentava desculpar mas no day after o cansaço invadia-a que deixava de se interessar .passava a vogar ao inverso dos ponteiros do relógio engolindo em seco todas as patranhas inventadas e repetindo para si mesma as palavras da Poeta - "perdoa-lhes ,pai ,porque sabem o que fazem
.o relógio deixaria de marcar as horas

olhava-se para lá do que a esperava .voltava a mergulhar no silêncio quando pela janela vigiava o invisível .era preciso não pensar sobretudo agora que se sabia sem pena alguma de não ter acreditado e de se saber feliz .não devia .mas sabia-se .sabia-se igual nos seus silêncios .começava a saber guardar-se .a não se comprometer no compromisso assumido com os seus pares e ímpares e essa salutar vivência deixava-a muito mais segura
viajara no limite e preparara-se para o golpe final com direito ao risco
.havia de arriscar-se

na sublimação .na catarse .era apenas uma questão de tempo .querer é poder .um pouco mais tarde .uma questão de tempo .tempo era coisa que não lhe faltava e paciência muito menos .havia-se habituado a saber esperar .a digerir tudo frio .com indiferença mesmo quando no primeiro impulso a vontade era de agir .aprendera a parar .não importava por quanto tempo .muito menos como .sabia-se na procura da verdade e do absoluto .tudo o mais era voragem .aprenderia a pintar .porque não? se havia aprendido a esperar .se havia aprendido a não ter .se havia aprendido a não Ser .também havia de aprender o gosto pelo não

tudo seria uma questão de passagem pelo tempo de ser
verdade ou consequência