carta a um amigo ( ou algumas reflexões em princípio de ano )




caríssimo José!

costuma-se dizer ano novo vida nova .é um verdadeiro lugar comum e como tal merece-me pouca importância ou mesmo nenhuma atendendo ao facto de não gostar de lugares comuns .mas não são os meus gostos pessoais que pautarão esta crónica de princípio de ano mas algumas reflexões que tenho vindo a fazer ao longo dos tempos e muito particular mente no último mês .faço-o em fim de ano como balanço do feito pensado e querido ao longo do mesmo
observo no que aos partidos políticos respeita um afastamento cada vez maior das pessoas perante os mesmos .várias são as razões que podem explicá-lo desde um desinteresse cada vez maior da “res publica” a consciência da inevitabililidade – tão presente no nosso pensar colectivo - o deixar correr o desacreditar cada vez maior nos nossos políticos o desencanto a necessidade de chegar cada vez mais fundo para então sim tentar novas políticas e novos rumos .a partir do momento em que cada um de nós interiorizou o estar em sociedade e o viver em democracia participativa diluiu-se o papel do Eleito e do Eleitor – prática contraditória – que pouco agrada aos militantes dos diversos partidos políticos
só que a militância não se faz ( ou não deve ser feita ) com amargura mesmo quando os agentes têm razão ,porque a mesma acarreta para quem tem a consciência tranquila - mas alguém terá? - afastamento em vez de aproximação
além disso caríssimo tenho consciência em função da minha experiência ( e não só!!! ) do muito que alguns têm dado em prol do social sem nunca terem pedido nada em troca – os verdadeiros idealistas – que na presença dos oportunismos e dos pessoalismos exacerbados que vão presenciando diaria mente se distanciam quais observadores dum mundo em decadência .que é feito de todas as mulheres e homens deste Concelho que sem ambições de poder ao mesmo têm dedicado através dos partidos políticos onde militam a sua experiência e saber? conscientes da presente evolução da democracia (?) afastaram-se porque os seus desideratos perante o desalento passaram a ser outros .tornaram-se mais expectantes exigindo aos mais novos o que os mais velhos não souberam demonstrar ou fazer
assim sendo julgo por tudo isto que outros, e não os actuais agentes políticos mais novos em termos de idade envolvência política e militância partidária deverão ser os novos protagonistas das políticas sobretudo as autárquicas .quero vê-los dando provas em domínios que esses sim podem decidir e decidirão o futuro do Concelho mor mente no domínio da saúde – onde nada vejo de novo apesar da muita prosápia – no domínio da habitação social – onde estão os cérebros? – na área da segurança social – não há crâneos para tais abordagens? – na educação – então meus amigos?
a cultura essa filha pródiga como nunca deu nem dará votos sempre foi vista e continuará lamentavel mente como a parente pobre na qual não vale a pena investir como se a mesma a par da educação não fosse o barómetro da sociedade
mas prosseguir com este desabafo meu amigo levar-nos-ia muito longe e ambos sabemo-lo
assim prefiro manter-me na reserva sem dramas e sem ressentimentos .e agora mais do que nunca quero fazê-lo porque segundo vejo ouço dizer e leio há novidades que se avizinham nos tempos mais próximos para o Concelho de Silves
fico-me pela expectativa e aguardo-as sem ironia
e tu meu amigo qual o teu papel neste desenrolar da História sem história?
aguardo a tua resposta
com a amizade e a sinceridade de sempre

Silves ,Janeiro de 2008