as malhas que o cérebro tece






consuelo arantes






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apeteceu-me criar um conflito imaginário entre duas maçãs .uma a.dentrei-a num verso .a outra coloquei-a fora .claro que esta deslocação espacial acabou por provocar um ataque de fúria na segunda que  achou que o seu lugar também deveria ser entre .as vozes altercaram-se de tal modo que pensei em suprimir as maçãs .mas quando o dedo indicador da mão direita avançou para a tecla delete a esquerda segurou-o e no meu cérebro as ideias re.estruturaram-se  .de costas às intempéries engendrei um outro texto com duas maçãs redondas que aos poucos se  transformaram em crianças .parei no momento em que a transformação se iniciou porque os miúdos frente às maçãs hesitaram entre brincar e comê-las .o instinto da subsistência prevaleceu e entre eles-as-maçãs-e-a-sua-degustação não houve inter-acção possível .a pequenada que se aprontou à dentada foi remetida a um inglório rodapé e as duas maçãs dirigiram-se em bicos de pés à fruteira  .helas
assim se desteceram as malhas que um ( insano ) cérebro teceu