navegar rio a-fora






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não deixem letras abertas
nem palavras fechadas
nas páginas da minha vida
.deixem-me recolher branduras
acender fogos e apagar incêndios
numa sequência de ódios
plantados por Asmodeu
.deixem-me soletrar vinganças e
resolver humildades
num refolgar de erros
.deixem-me crescer junto às escarpas e
correr pelas ravinas
.a coragem é a minha forma de
inventar tranças louras
com que cubro a cabeça
.deixem-me correr o risco de ser pedra
.de navegar rio a-fora
em busca do mar a-dentro
.se a neblina me obliterar a visão
encostarei no primeiro ancoradouro
.serei breve e crua na perseverança
dos actos falhados
.tenho fome de viver
.tenho sede de eliminar o erro
.mas sou mordaça
traço ou
lâmina se o engenho me prender
.mulher de um só cuidar






daniela ovtcharov