"o diabo anda à solta" ...




hoje sexta-feira dia 5 de Maio ,já que para muitos as sextas feiras são dias aziagos escrevo esta crónica sobre o diabo intitulando-a - “o diabo anda à solta” - considerando que um pouco por toda a parte o demo dá sinais de si
volta a ser falado e sobretudo recupera credibilidade
curiosa mente os sinais mais claros do seu regresso não apareceram nas regiões culturalmente atrasadas .pelo contrário. os Estados Unidos da América considerados uma nação de “vanguarda” lançaram nos princípios dos anos 90 o revivalismo na estética e na música e apressaram-se a restaurar o príncipe do mal
o fenómeno porém não se circunscreveu ao continente americano
mas saber se esta tendência representa um novo ciclo de pensamento e de comportamento ou apenas uma passageira febre de princípio de século só o futuro o dirá
após uma longa travessia no deserto o diabo está de volta
em meados dos anos 50 do séc. XX Giovanni Papini afirmava que o cepticismo perdia terreno que a questão do diabo era importante e que a sua importância começava a ser reconhecida
nessa época ela só apaixonou os meios intelectuais mais pela repercussões à obra de Papini nomeada mente ao seu célebre livro “O Diabo” do que pela sensibilização do grande público seriam precisas mais cinco décadas para que a figura do demónio com os seus múltiplos nomes – Lúcifer Satã Satanás e outros tantos – voltasse a impôr-se às consciências o que é típico dos períodos de mutação e consequente desorientação caso das sociedades actuais
este fenómeno tem segundo alguns especialistas um carácter essencial mente cristão
os cristãos não haviam negado o diabo nem expressa nem teologica mente mas haviam-no isso sim relegado para a condição de figura simbólica destinada a traduzir o afastamento de deus .assumiam que sendo impensável atribuir a deus a origem do mal o diabo não personalizado assumia a forma de gente porque a sua origem estava nos homens e nos seus actos .assim não havendo um diabo personalizado dificil mente haveria inferno concebido como local ou estado de sofrimento eterno
é esta atitude que está a modificar-se
as pessoas voltam a acreditar no diabo e no inferno embora não haja consenso quanto aos traços exactos do príncipe das trevas e do seu reino já que na maior parte os retratos tradicionais não nos levam mais longe do que o imaginário da idade média
e esta crença na existência do diabo vem certa mente aliviar o homem da carga do mal – ele deixa de ser a origem o primeiro responsável porque passa a haver um grande tentador
mas o seu regresso levanta à partida três questões:
1ª – a existência de deus
2ª – caso o mesmo exista e face à sua infinita misericórdia será concebível uma punição eterna? e em que consistirá essa punição?
3ª – e por fim levanta a questão do diabo como princípio do mal
todas as confissões do cristianismo rejeitam a teoria dualista
mas se deus é supremo e se deus não gerou o mal qual a essência do diabo?
em Portugal não há quaisquer dados sobre a evolução do estatuto atribuído ao senhor dos infernos
conjectura-se mas não há estatísticas sobre o número dos que acreditam .com razoável certeza apenas se sabe que sobretudo nos meios rurais muita gente ainda acredita no demo .e tal como antiga mente continuam-se a praticar exorcismos
a “Aldeia Velha” de Bernardo Santareno permanece intocável no tempo

natural mente esta crença desaparece ao mesmo ritmo em que desaparece o velho mundo rural
mas o demo voltará

e quando o fizer será nos meios urbanos .até porque estes estão mais perto dos infernos