e as palavras que não chegam






lucio ranucci






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terrível este abandono do homem
só .caminheiro solitário de passagens
suicidárias assumidas no colectivo
das horas dos minutos e dos segundos
dissipados na ilusão matemática
.eis o retrato a sépia do homem só
.do homem prático
abandonado à exigência de um
estender de mão
mas que tem o vazio como retorno
.ao homem só -
mecânico no falar a-dentro
- sobra-lhe a sombra dos Outros
.falta-lhe a consistência e a raiz
.sobra-lhe o cogitar vaidoso do
aplauso .falta-lhe a verdade
.as asas dum Pássaro de prata na
ausência dos lugares comuns
.sobra-lhe a imprudência
e o salto mortal
.falta-lhe a génese e a matriz
.no chão de pedra o homem só
teima em pontuar numa insistência
de des.graças medianas e espúrias
.sonha com um
final apoteótico onde se descosem
as sinestesias do crepúsculo

pobre homem só .tem-se
como enigma
irresgatável no abismo que já é morte