ser poeta






don seegmiller






*
*
falam-me de um outro modo de ser poeta
.não conheço .não quero conhecer amores
perdidos ou proibidos em redondilhas ou
rodriguilhos .limito-me a amar a árvore que
nasceu anã em meu peito .a palavra que
escorre a contra-gosto pelos meus dedos
.o sorriso do esquecimento que oblitera
o meu país de gelo onde a linguagem se perde
em risos intermináveis
.as palavras são estilhaços que deixo colados
aos regaços da minha infância e com elas
percorro labirintos de tinta nascidos no
meu peito .cinzas que se consomem
à nascença em restos esquálidos
ou tão desabridos quanto o Levante
.é no contraditório que lavo as mãos qual
Pôncio Pilatos de quem herdei a traição
e o rastilho .acendo fósforos que lanço ao
mar e no caos com que agasalho a vida
cravo as unhas nos ramos das árvores
como desagravos de uma servidão mal
levedada
.uso a caneta apenas para acender o dia