um poema inscrito na maré






anny maddock






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estranho ritual o do poeta das cores .vagueia à beira-mar e de quando em vez queda-se .busca  um pouco mais .avança .recua .deixa inscrita na areia a marca nítida dos passos .brinca com o próprio corpo enquanto a mão direita segura a máquina .a esquerda descreve um movimento de rotação .o zoom fixa-se .os olhos enquadram .o dedo da mão direita tenta estabelecer um diálogo com a cor .descreve os ventos que correm ao sabor da maré .rasura a primeira fotografia e cativado pelo momento que senhor de si vai escrevendo reflecte o presente em retrospectiva .procura-se muito além do seu limite .da cor .e agora a preto e branco o poeta das cores projecta-se na Ausência
para acordar as memórias dos náufragos