O dia começa e mantém-se cinzento faz frio e o nevoeiro de fim de tarde caí tornando irreais os corpos e os seus contornos
Acabo de arrumar o carro e ao desligá-lo armazeno um saber feito de insapiênciasSento-me frente ao computador de costas viradas para a porta Na moldura da janela
depois da varanda restam duas árvores Uma impõe-se pela sua despida presença os ramos secos erguem-se às nuvens A outra aprumada verde grita a sua vontade de viver
... ...
este o cinzento aberto ao imaginário
... ...
O homem pássaro o novelo agita-se o braço e a asa deslocam-se do novelo A música aumenta o bater da asa No extremo a mão projecta-se no ar onde dançam os dedos ou as penas prontas a cair e a enroscar-se no novelo Destaca-se a cabeça o queixo e o bico cortam o ar O olhar fixa-se na presa
... ...
recomeça o desenrolar e o desenroscar do corpo
... ...
uma perna uma asa um braço exibem frémitos de vida e força no auge dos compassos concerto para violino nº 1 ,op. 29 de Ernst Krenek
Eis-me pronta a desafiá-lo Como afronta à sua dimensão de homem pássaro exibo o meu corpo nu e danço solta no limite do aloucar concertante