criei em mim a miséria do verbo





vito campanella




*
gostaria de escrever um poema perfeito
muito perfeito

*
sento-me na primeira sílaba
e converso baixo com
a palavra que
teimosa
mente
se alapa à folha branca

*
deixo-a suspensa neste jogo que me apraz
.aguardo

um
dois
três minutos
*
qualquer sortilégio que apague a
vontade que se atém à razão

*
sei-me aquém-ou-além do fogo
mas não sei o que me reserva a vigília
quando o sono me
oferece de bandeja o poema 

despido de folhos e rendas
*
ninguém
me indica a passagem a fim de
chegar à fonte
ao poço
à árvore
ao pássaro
a um a-mar
prontos ao desmame

*
responso do belo ou sede dos deuses?