presa à migração das palavras





josé rodrigues





*
guardo a respiração com a sofreguidão
da leitura
*
quem me conhece dirá que a seguir fixarei
a minha atenção às árvores ou àquela mulher
que se despe no meio da rua afogueada
pelo calor
*
será com uma militante devoção
que escreverei a mulherem itálico enquanto
procuro no café da frente olhares
sem juízos de valor
*
construirei um lugar
fictício na fronteira entre os
que por ela passam e os que nela se demoram
para reinventar um País
onde se possa entender a força de
quem escreve e a alegria de quem lê ou
de quem permite que as palavras se abusem
sem pagar tributo
*
absorta na litania
voltarei a cabeça para que a mesma se
entrelace ao zelo

*
depois e só depois fecharei o punho à altura
do queixo e quedar-me-ei
entre a in.certeza
de dar forma à respiração do texto ou de
atirá-lo para o caixote do lixo