josé rodrigues
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o paradoxo tomou forma de cruzeiro e
fez-se ao largo
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devagar um muro de escuridão ergueu-se
entre os mortais
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sem afrontas as mãos distenderam-se num
a-braço
como se pela primeira vez os homens tivessem
utilizado a mesma linguagem gestual
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as cinzas consumiram-se
e um ligeiro gosto a maresia vestiu o luar
que se antevia entre as nuvens naufragadas
pelos andaimes de uma muda litania
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o medo tornou-se voz
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ninguém ousou confrontá-lo com os tumultos
que aos poucos foram cerceando os pingos do
con-texto
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o paradoxo voltou a assumir a ordem
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ninguém ousou assombrar-se com o
desalento
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eximem-se dos loucos os pergaminhos