"um pedacinho de passado que desaparece"




no seu blogue www.sacodosdesabafos.blogspot.com o meu amigo Manuel Castelo Ramos publicou um belíssimo mas triste texto intitulado “Um pedacinho de passado que desaparece” que pela sua pertinácia originou a presente crónica
desculpa Manuel o uso do título e o abuso da fotografia

durante muitos anos apesar de algumas campanhas em contrário dos apelos e dos trabalhos feitos desde longa data para tomadas de posição nesse sentido muito pouco ou nada se tem feito a fim de preservar defender e valorizar o património cultural
Alexandre Herculano em 1838 com “Monumentos Pátrios” abre a campanha para a defesa do património nacional
todavia apesar desta e de muitas outras intervenções públicas podemos continuar a afirmar como Raul Brandão em 1922 na sua obra “Os Pescadores” – “Mas nós só temos um sistema bem organizado – o da destruição
no final do séc. XIX Fialho de Almeida faz como que o ponto da situação do património nacional .vejamos o que nos diz a esse respeito:
“…Faliram, por exemplo, as oficinas d’ourivesaria, ebenesteria e tapeçaria, que deram a custódia dos Jerónimos, a cruz da Sé do Funchal, os panos murais da Escola de Tavira, os tapetes d’Arraiolos, e as preciosas mobílias e coiros do tempo de D. Manuel I e D. João III. Faliu a Escola de pintura religiosa. Faliu a ciência das construções navais, que lançou ao mar, dos estaleiros do Tejo e de Goa, para a travessia de todas as águas do mundo, as naus, galeões e bergantins do séc. XV, XVI e XVII, tão maravilhosos d’ elegância e d’arquitectura, tão imponentes como máquinas de guerra, e tão idealmente artísticos como veículos de prazer… E desta última aptidão perdida, ou quasi perdida, nem sequer os nossos arsenais e museus guardam vestígios! Não há um livro que guarde essa grandiosa escola de construtores navais que eram ao mesmo tempo, escultores e marinheiros…
como se tem constatado a destruição e o abandono têm sido entre nós uma característica dominante
.deixa-se arruinar por completo para a seguir adulterarmos
.apenas um ou outro trabalho se tem concretizado mas sem grande significado para a cultura do povo ou porque é de fachada e portanto não representativo de valores culturais ou isolado não garantindo continuidade
infelizmente os valores culturais que concretizam e fundamentam a identidade de uma cidade continuam votados ao abandono
a paisagem natural e os nossos valores arquitectónicos têm sofrido sistematica mente os efeitos do vandalismo da ignorância e do mau gosto que só contempla o narcisismo dos maus políticos e destrói o bem estar e o equilíbrio das populações justificados por um pseudo-progresso ou políticas demagógicas de representatividade sem pareceres análises e estudos prévios não manipulados escamoteados ou guardados em gavetas porque social e/ou politica mente inconvenientes
deitam-se abaixo e mutilam-se edifícios ( sem o mínimo respeito pelos direitos patrimoniais e bom senso ) ou conjuntos de edifícios sem a mínima preocupação de preservar as características e/ou envolvências arquitectónicas afectadas pelas leis do novo riquismo político-intelectual
o analfabetismo que entre nós atingiu taxas elevadas também contribuiu e muito para a actual situação
o associativismo ultima mente vocacionado para outras demandas pouco ou nada tem feito para que mais não seja alertar e consciencializar as populações na defesa e preservação dos seus direitos inalienáveis
só um trabalho cuidado permitirá apresentar os valores que concretizam e valorizam uma região uma cidade vila ou aldeia .para a realização de tão difícil tarefa é necessária a participação activa da população a fim de suprir as lacunas deixadas pelo número reduzido de documentos escritos e iconográficos
no que a Silves concerne urge proceder ao levantamento e estudo continuados do património histórico-arquitectónico-documental porque os agentes destruidores avançam de forma acelerada
e se olharmos para todo o Portugal verificamos que os bairros de cimento armado são iguais no norte centro e sul quando ainda não há muitos anos a paisagem arquitectónica variava conforme a região enquadrando-se maravilhosa mente no meio ambiente local
sem fundamentalismos verificamos infeliz mente que os agentes destruidores repartem entre si a mutilação da paisagem tradicional
para dar uma resposta adequada a esta situação que empobrece e descaracteriza as regiões e as cidades é necessário colocar à disposição das populações informações honestas e completas planos gerais e de pormenor instrumentos críticos e de estudo que facilitem a tomada de consciência dos seus valores patrimoniais e culturais em ordem à defesa conservação e valorização dos mesmos e ao mesmo tempo levá-las a analisar respeitar e preservar o seu passado histórico-cultural a fim de permitir a descoberta e reencontro da sua identidade cultural
acções individuais por muito consertadas levarão apenas ao cansaço e à exaustão .são lutas inglórias face ao demagogismo ignorância prepotência e falta de respeito pela unidade na diversidade
não poderemos deixar perder a identidade de um povo de uma região ou de uma cidade porque a História um dia responsabilizar-nos-á pela passividade de hoje