os dias iguais






don seegmiller






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não sei porque deixo cabelos-brancos nos meus textos .sinto-me nave-pedra-cimento e um tudo nada cansada do cansaço .sei que amanhã e depois e ainda depois sentar-me-ei numa mesa de café acenderei um cigarro e não fumarei .pedirei uma bica que não beberei .repetir à exaustão o já dito lembra-me que sou uma pedra vulgar .tão vulgar que o seu manuseio fica muito aquém do uso a que me obrigam .mas como pedra sei que o meu lugar é a casa onde me quedo entre a falta e a certeza-do-não .é necessário que o meu cérebro me acompanhe .que se recuse a consentir as velas da lisonja .não é fácil navegar as recordações ou deixá-las num espaço onde estão menos sós .ninguém se apercebe que não conheço ninguém e quero-me pedra .quero-me prosa sem nunca renunciar ao poema
quero-me ausente do cinzento dos dias iguais