aceno aos deuses o fogo das coisas banais






consuelo arantes






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"não tenho ambições nem desejos.
ser poeta não é uma ambição minha.
é a minha maneira de estar sozinho".*



ouço o balançar das coisas simples .ouço-as muito aquém do ritmo da chuva que vai enchendo a minha cabeça como se de um balão se tratasse .mas não .a chuva deixa-me lembranças de outros Invernos quando o ritmo das coisas causava lastros na pele dos caminhos .éramos simples peregrinos voláteis-corpos que se deixavam embalar e à revelia de um Fernando Pessoa redigíamos ridículas cartas de amor .no fogo das coisas-simples teimávamos em eternizar o ridículo em palavras que o tempo acabaria por re.vestir de banais .e devagar muito devagar fomos aprendendo a pendurar em cada árvore-ou-rua um vaga-lume
apóstrofe de um frio babado pelas paredes






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*Alberto Caeiro - O Guardador de Rebanhos -I.