caminhante de caminhos






esqueci-me de te esquecer quando
letra a letra fui criando sobre o papel
um novo tempo para o tempo
.deixei mágoas frustrações silêncios e palavras
.deixei tudo com a embriaguez de um haver de
novo
.entreguei a casa aos fantasmas
.comigo levei um velho casaco e os cabelos a
baterem-me no rosto .segui pela rua onde no
cruzamento havia enterrado a pedra dos
des.enganos .olhei em volta e antes que alguém
me visse levantei-a do chão
.era a minha pedra memorial
.reconheci-a pelos cabelos brancos .entre nós
havia-se estabelecido uma cumplicidade
evidente .revi-a como se fosse a primeira vez
e reparei que não fora por uma simples coincidência
que a retivera ali .a metamorfose da terra e o
pisar humano haviam-na re.vestido de uma nitidez
e as gotas de água tinham-na vestido
com os ruídos que sempre a perturbaram
.segurei-a entre os dois dedos da mão esquerda
deixando a direita para os répteis e voltei a
pousá-la re.feita da sensação de perda com a
ternura dúctil da infância






george christakis