josé rodrigues
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agora sou eu que escrevo com uma folha
branca na mão e um cravo encarnado
sobre a secretária
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- és tu que falas –
dizem-me
como se fosse necessário
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não fora o som dos disparos não disparados
teria quase a certeza
que a história é um hipotético ponto
de coincidência entre o casuístico e o imprevisto
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-livre arbítrio –
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dirão os senhores dos manuais aos quais disponho
a minha desagradada falta de vontade
pelo formal num
estado de permanente esquizofrenia de que me
desassocio não vá o diabo tecê-las
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um ruído contínuo torna-se cada vez mais nítido
e a deslocação dos corpos provoca no meu
campo visual um atrofismo de sentidos
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- emparveci –
disfarçada num claustro de inverosímeis verdades
dos senhores da selva que
convictos dos seus super-EUSfalam uma
linguagem muda
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- o povo -
entregue à mutação errática do Ser
torna-se um número finito que
vai consentindo o
roubo das utopias
qual o rebanho caído na terra
e
-sabendo porquê –
adoça o ninho de víboras que alimenta
a desumanização
*
não contem comigo .demiti o silêncio