em tempo de ( re )inícios - o rato





joanna chrobak




*
sou um rato
táctil e lascivo que
oscila entre o negro
o vermelho
o azul e
o branco
*
sou diferente
*
movo-me através de um clic do dedo indicador
oscilo entre a loucura e a lucidez
confundo-me nos gigabytes de um pc
entro quando menos me esperam e manipulo a informação
faço-a oscilar entre as mandíbulas da minha boca e sugo-a
com o ar ingénuo da animosidade que vou gerando à minha volta
*
amam-me – congemino
*
sou o centro do universo
sou o rato-amante
a diva-lasciva
sinto-me no aplauso do primeiro balcão que
jamais se silencia
*
não sou um animal racional
sou um rato
oscilante e binário
*
crio tentáculos de enredos e músicas
urdidos nos links que vou projectando à minha volta
*
não me exijam nada por
que os meus movimentos devoram-vos
*
sou rato / fémea / macho
*
corrompo as passagens feitas através de mim
*
Jean-Baptiste M e Wassily K
*
revejo-me nos olhos amantes que
circulam à minha frente

*
narciso é o meu desejo reflectido em outras pupilas
*
sou perfeito
*
odeio o azul
o branco e
o amarelo
do mickey mouse
*
sento-me frente ao portátil e
introduzo a palavra-chave
permito-me estupidificar o outro
sou o golpe perverso e asseguro-me no desrespeito
de quem não me idolatra
acredito-me e não me apercebo da ironia do rato sem fios
da sarjeta ou do campo
*
gaguejo
invento
tropeço e confronto-me
*
sou
o destruidor do universo
-dizem
não acredito por
que jamais retiro a máscara de ratinho de chocolate
em véspera de páscoas

*
destruo na diabólica conspiração cibernáutica

*
sou uma vítima
de todos
não de mim
minto na absoluta mentira que sempre foi a minha vida
construída na gargalhada dos crentes
levo-os na enxurrada do lodo onde me comprazo
*
sou o veneno infiltrado sem que se apercebam
mino e destruo
in.consciente por
que sou um rato

*
clico no site seguinte e volto a iniciar
o ciclo da destruição-silenciosa
que vou urdindo
*
não
não sou um rato louco

*
loucos são os que acreditam em mim