-benoit paille.
*
há dias em que durmo sobre uma enxerga co
mo se um rol de andarilhos tivesse deixado num
vão de escada os andrajos do vagamundo
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os vizinhos do prédio onde Amadeus Mozart
escreveu “Idomeneo”
conhecem-me os passos o
vestuário sujo as
mãos cobertas por luvas esbulhadas
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sirvo aos transeuntes um naco de pão onde o bolor
se alapa para em troca receber uma nuvem
carregada de chuva
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não sei que mão devo estender ( porque )
reservo pendurado à esquerda um
saco rasgado por onde o argaço escorre
deixando para trás um oceano aberto
à genialidade
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levanto a gola do sobretudo onde se acolhem
as pernas e visto-me de
sombras para
mergulhar faminto no repasto do chiste
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a vida não é uma instalação de arte