o transgressor de mim*




curiosa mente – até o início do texto constitui uma transgressão – e ao contrário dos puristas da Língua não utilizo na minha escrita literária maiúsculas .raramente pontuo e quando o faço contrario a Norma estabelecida mau grado as exigências a que obrigo os que me lêem
não o faço por modas muito menos por modilhos mas por questões pessoais e estéticas na medida em que cada escritor tem uma forma muito peculiar e própria de brincar com as SUAS palavras. aí reside a singularidade e a diferença
alguns que vão seguindo os meus desideratos literários “irritam-se” com – o que apelidam – as minhas modernices .mas meus Amigos os meus textos e/ou poemas nada têm a ver com modernices escolas ou movimentos .têm a ver outrossim com algo muito profundo que se prende com a minha forma de ser .sou por natureza

um transgressor de mim

escrevo com a necessidade urgente de transgredir de
ultrapassar-me para além do razoável

transgrido todas as normas consciente da transgressão

não há ventos que me estabeleçam limites
nem eu os aceito
nenhuma árvore se agita
não há cheiros
não há norte
não há pontos cardiais neste meu delírio
há apenas palavras que apodrecem no chão porque trabalhadas demais
tudo se resume ao lugar comum das horas que passam
os frutos que se comem
a água que se bebe ou se
derrama na calma de um Verão anunciado
o meu mundo passou a resumir-se à asa
de uma borboleta
apenas uma asa
obliterei a segunda porque assumi-la
seria criar um outro e
hoje quero-me só na confusão de mim

uma asa é uma pessoa
duas asas são duas pessoas que se perdem e
acham numa distância equivalente ao gostar
o amor subjaz no labirinto possível de um animal sozinho que
encontra outro animal sozinho
os dois animais sozinhos estabelecem entre
si uma viagem que os conduz
inevitavel mente
para a morte
dos instintos
dos desejos
as borboletas repousam nos círculos abertos pela
água que escorre lenta pela minha face
esquerda
sou um rio rarefeito na corrente
a direita sulcada de veios e
areias queda-se no equilíbrio da borboleta de uma só asa
rio-me deste mundo insano feito
dos teus cabelos
dos teus olhos
do teu corpo
do teu esperma
das borboletas que geram poemas na areia
apago-os como um pedaço de asa
pisados pelo animal que me resta
sou por inerência o transgressor de mim
retomo-me nas árvores que volto a agitar

guardada nas palavras que beijam o sentido proibido

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*há muito que os meus leitores mereciam esta explicação .dou-a pelo respeito que me merecem na certeza de que apesar das vozes dissonantes não irei modificar a minha escrita .agradeço desde já a paciência de quem continuar comigo .aos demais recomendo outras danças andanças & contra-danças